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Clima e tecnologia, os segredos da super safra dos Estados Unidos

É tanta produção, que o agricultor não tem mais espaço para guardar grãos. | Flávio Bernardes/Gazeta do Povo
É tanta produção, que o agricultor não tem mais espaço para guardar grãos. (Foto: Flávio Bernardes/Gazeta do Povo)

Maior produtor mundial de grãos, os Estados Unidos colhem uma safra espetacular, sem precedentes na história do agronegócio moderno e globalizado. Em plena colheita, os norte-americanos retiram do campo quase 500 milhões de toneladas de grãos, apenas com soja e milho. Carro-chefe, o cereal responde por 80% desse volume, em uma conta que ao final do ciclo deve somar mais de 380 milhões de toneladas. Com as mais de 115 milhões de toneladas previstas para a oleaginosa, de 2015 para 2016, o país adiciona incríveis 50 milhões de toneladas à produção.

A título de comparação, as 500 milhões de toneladas, de apenas duas culturas em uma única safra, equivalem a 2,5 vezes a safra brasileira, que se esforça para romper a casa das 200 milhões de toneladas. Isso para todas as culturas, em duas ou até três safras, caso do feijão. A somar trigo, sorgo, arroz e outras culturas menores, o volume dos Estados Unidos supera com segurança três vezes a safra do Brasil. É tanta produção, que o agricultor não tem mais espaço para guardar grãos. O que não é exportado ou industrializado e não cabe nos armazéns tem que ser armazenado a céu aberto. “Out storage”, como dizem os agricultores locais.

Mas porque os Estados Unidos estão produzindo um volume tão grande nesta temporada? Parte desse resultado é reflexo da área maior que foi cultivada. Mas a grande performance está em duas variáveis distintas e ao mesmo tempo complementares: clima e tecnologia. Dois fundamentos que permitiram às lavouras expressarem em plenitude o seu potencial. Condições climáticas quase que em estado de perfeição, criaram um ambiente altamente favorável e responsivo à tecnologia empregada ou embarcada na soja e no milho.

Estamos falando de 11.000 quilos de milho e quase 3.500 quilos de soja por hectare. Rendimentos que não são raros de se encontrar, mesmo que pontualmente, em lavouras brasileiras. O surpreendente, no entanto, está no fato de essas marcas não serem deste ou daquele produtor. Isso é média de produtividade. “Yield average”, estufam o peito e enchem a boca para falar os agricultores norte-americanos. Isso em 35 milhões de hectares de milho e outros 33,5 milhões de hectares de soja. Um universo onde é fácil encontrar produtividades médias acima de 15 mil quilos por hectares no milho e mais de 5 mil quilos na soja.

Clima vs mercado

Teve clima, mas tem mercado para toda essa produção? Definitivamente, não! Em uma analogia com as 500 milhões de toneladas, como falamos aqui o Brasil, aí já são outros quinhentos. A demanda global cresce. E mesmo que de forma orgânica, contribui para evitar uma queda ainda maior nas cotações, fortemente pressionadas pela oferta. Inclusive, é essa demanda que sustenta os preços de soja e milho acima de US$ 9,5 e US$ 3,8/bushel, respectivamente. Em 2005, com uma safra menor do que este ano, as cotações na Bolsa de Chicago para o mesmo período do ano estavam de US$ 0,80 a US$ 1,20 mais baixas.

A pressão sobre as cotações pode ficar ainda forte, seja pelo avanço da colheita nos Estados Unidos ou então pela definição da aposta na safra sul-americana, em fase de plantio. A combinação de área e clima no Brasil será decisiva aos rumos do mercado. O próximo passo é precificar a safra da América do Sul para ter a real noção do impacto nos preços que vêm de Chicago. No milho, a produção da região é relativamente pequena. Menos da metade. Contudo, um volume que chega em um momento de grande oferta do cereal. Já na soja, a situação é mais delicada. Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai devem colher juntos mais de 170 milhões de toneladas do grão, o que representa mais da metade da produção mundial.

Se o clima favorecer a temporada sul-americana, dificilmente haverá espaço para preços melhores no mercado internacional. Há chance maior de depreciação do que apreciação nas cotações. A receita para amenizar a relação de custos versus rentabilidade será a mesma encontrada pelos norte-americanos: produtividade. Escala e rendimento, que depende do clima, mas também de tecnologia. Ou seja, torcer para um clima favorável, mas não deixar de investir em tecnologia. Algo do tipo reze como se tudo dependesse de Deus, mas trabalhe como se tudo dependesse de você. Como diria São Bento, “Ore at Labore”.

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