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Que a falta de uma infraestrutura adequada limita o crescimento e afeta a competitividade do agronegócio brasileiro, isso é fato. Estradas, portos e ferrovias em condições precárias ou com uma malha muito aquém da demanda sem dúvida são fatores que colaboram para prejudicar o agronegócio. Mas ser competitivo vai muito além da logística – é algo que começa dentro da porteira. Tem a ver com tecnologia, manejo e principalmente gestão do negócio e da propriedade. A maior dificuldade está em entender o que é ser competitivo, em relação a que e a quem.

O produtor brasileiro gosta de olhar para o argentino e dizer que a competição é desleal, porque a produção deles está próxima do porto, que os custos são infinitamente menores por conta da fertilidade natural do solo e que tudo isso, somado à alta produtividade, fazem da agricultura argentina uma das mais competitivas do mundo. Sim, é verdade, apesar de não ser tão simples assim, já que eles também têm outros problemas de custos e rentabilidade – não necessariamente logísticos. Se a Argentina é mais ou menos competitiva, isso é com eles. Não podemos pensar que não somos competitivos por causa dos argentinos. A falta de competitividade por aqui tem a ver com nós mesmos, única e exclusivamente com nossos problemas.

A soja cultivada no país vizinho que está mais distante de um dos seus 22 portos ou terminais de embarque não percorre mais do que 700 quilômetros. Acima de 50% da produção está a menos de 300 quilômetros. No Brasil, parte da soja produzida no Mato Grosso, o maior estado produtor da oleaginosa, precisa percorrer mais de 2 mil quilômetros até o Porto de Paranaguá. Assim, realmente não há competitividade que resista a comparações. Até porque não há parâmetros para comparação. Ou seja, comparar a realidade dos países produtores é comparar alhos com bugalhos, uma avaliação que começa e termina prejudicada.

Contudo, não é isso que está em jogo. Mas sim a capacidade do Brasil, independentemente da Argentina, de expressar todo o seu potencial de produção e corresponder às expectativas do mercado internacional no enfrentamento dos seus problemas domésticos, das suas próprias limitações, que colocam em xeque a competência brasileira. Não para produzir, mas para armazenar, vender e escoar, fazer chegar ao porto e ao destino sua crescente produção de grãos, que precisa encontrar espaço além do consumo interno para garantir um crescimento sustentável.

Problemas todos têm. Inclusive os argentinos. A diferença está no tamanho deles. Nesta época, por exemplo, em plena colheita de soja e milho, avistase ao logo do Rio Paraná, na região de Rosário, na Argentina, não mais que meia dúzia de navios graneleiros esperando para carregar. Em Paranaguá, no Paraná, não são raras as filas com mais de cem embarcações e dois meses de espera para carregar. Por lá, uma embarcação não aguarda mais do que duas semanas. Além disso, eles conseguem carregar no rio praticamente a mesma quantidade que Paranaguá carrega no mar, perto de 50 mil toneladas, da capacidade de 70 mil toneladas dos tradicionais Panamax.

Antes então de apontar o dedo ou fazer comparações muitas vezes incomparáveis, temos primeiro um grande desafio interno, logístico, que implica em competitividade. A grama do vizinho sempre vai estar mais verde. Os diferenciais deste ou daquele concorrente devem ser monitorados, até como forma de preservar e proteger nosso produtor e nosso mercado, mas é preciso entender, admitir e encaminhar soluções àquilo que compete apenas para ser ou não ser competitivo.

O produtor brasileiro se orgulha e bate no peito para dizer que o problema não está em plantar e colher, produzir carne e leite, açúcar e álcool, café e laranja. Que essa ponta da cadeia seria altamente eficiente. Ele não está errado. Como também não está errado afirmar que o campo ainda carece de profissionalização. Mais do que isso, de informação. As entidades representativas e o próprio governo se esforçam nesse trabalho de capacitação. O dinamismo do agronegócio, porém, é tão intenso, para não dizer cruel, que a informação, a tecnologia e a infraestrutura nem sempre acompanham esse ritmo.

O Brasil vive um momento onde não temos que ser melhores que os produtores argentinos, norte-americanos ou de onde quer que sejam. O nosso custo é praticamente impossível de comparar. O que nós precisamos, portanto, é ser melhor que nós mesmos e superar nossos próprios desafios, que não são poucos. Não para se comparar aos demais, mas para ser referência aos demais.

De qualquer forma, competitivo ou não, entre soja e milho, o Brasil produz o dobro da Argentina.

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