Complexo soja, carnes, setor sucroalcooleiro, produtos florestais e café. Apenas cinco segmentos representam quase 80% do valor das vendas externas do agronegócio brasileiro. Do outro lado, a China, que amplia sua participação como principal destino dos embarques brasileiros, com quase 38% de market share nos meses de comércio mais aquecido com o Brasil. Ou seja, uma concentração ampla e crescente nas duas pontas que também amplia o risco e fragiliza a posição brasileira no comércio internacional. Com exceção das carnes, principalmente do frango, que conseguimos agregar certo valor com cortes especiais, para países mais exigentes, os demais produtos que lideram o ranking de embarques podem ser classificados de commodities.
Bom para o Brasil? Não tenho dúvida, porque é o agronegócio segurando as pontas e o superávit da balança comercial. Ruim para o Brasil? Eu diria que mais para o agronegócio, que avança em volume e participação, mas num mercado de menor rentabilidade, de competitividade questionável e sem perspectivas de mudança. Vamos voltar ao exemplo da China. Como maior comprador do agronegócio brasileiro, o maior interesse está na soja grão, que lidera a pauta, não no complexo. Eles querem cada vez mais, ou quase que exclusivamente, grão. Isso porque, na última década, eles construíram um parque moageiro com capacidade superior a 120 milhões de toneladas/ano, capacidade que se encontra ociosa. Ou seja, chineses querem grão para eles mesmos agregar valor em farelo e óleo.
Para o Brasil, uma situação até o momento confortável, uma vez que a legislação interna privilegia o embarque da produção primária, com deduções ou compensações tributárias. Mas uma situação que começa a ficar desconfortável. Como forma de garantir maior competitividade à produção e à indústria nacional, o governo estuda neste momento rever a tributação desse complexo, com benefício maior ao farelo e óleo em detrimento do grão. Vai mexer num vespeiro, expor nossa fragilidade e comprar uma briga como nosso maior cliente, do outro lado do mundo. Será que temos segurança para enfrentar esse embate? A questão toda está em quem tem para vender e quem precisa comprar. E o Brasil tem para vender, mas não só o Brasil. O maior volume disponível pode estar por aqui, mas não só aqui e a China pode buscar outro parceiro.
A China, então, é um bom caso para se avaliar os riscos da falta de diversificação do mix e dos parceiros no mercado internacional. Entender que precisamos, sim, rediscutir a tributação do setor. Mas que nossa maior busca deve ser pela transformação, pela agroindústria e pela conquista de novos mercados. O Brasil se volta para as deficiências e dificuldades internas para justificar a falta de competitividade do país, quando isso não é totalmente verdade. Essa infraestrutura precária e a tributação predatória contribuem sobremaneira para o desempenho do agronegócio. Porém, o maior de todos os indicadores está mesmo é na ponta da demanda. De nada vai adiantar ter infraestrutura e tributação equacionada se nossa produção não tiver mercado.
Os números do acumulado de janeiro a maio da balança comercial do agro mostram que o setor está crescendo e tem espaço. O desafio está em consolidar essa presença no ambiente internacional. As exportações no período cresceram 10,1% e as importações apenas 1,4%. O melhor dos mundos, não fosse o fato de tamanha variação não ser, necessariamente sustentável. Crescer acima de dois dígitos é uma coisa. Manter esse crescimento é que são outros quinhentos. Mais do que nunca, as oportunidades estão postas. O que o país precisa agora são de ações partilhadas e conjugadas, dentro e fora da porteira, na produção, na infraestrutura e no mercado. Só assim, mirando essa triangulação é que podemos sonhar com um agro sustentável e competitivo.
* * * *Destaques
O mêsApesar da ligeira queda de 0,9%, em maio último as exportações do agronegócio brasileiro tiveram o segundo melhor mês em valor embarcado e no saldo da balança em toda a série histórica. Ficou atrás apenas do mês recorde de maio de 2012. As exportações do agronegócio brasileiro alcançaram US$ 10,18 bilhões contra US$ 10,26 bilhões do mesmo período do ano anterior. Em linha, as importações diminuíram ainda mais, em 1,2%, para US$ 1,32 bilhão. Como resultado, uma balança comercial agro no mês com superávit de US$ 8,85 bilhões, US$ 71 milhões inferior a maio de 2012. O complexo soja, mais uma vez, foi o principal setor exportador, com US$ 4,94 bilhões e 9,5 milhões de toneladas, aumento de 1,0% em valor e de 2,8% em quantidade.
O frangoEntre as carnes, que em maio ficaram em segundo entre os principais setores exportadores, as vendas externas foram de US$ 1,47 bilhão e 536,03 mil toneladas, uma variação de 1,6% em valor e retração de 5,3% em quantidade na comparação com maio de 2012. Destaque à carne de frango, com US$ 711,09 milhões (+7,0%) e 325,53 mil toneladas (-8,3%). Exportamos menos e faturamos mais. Agregamos valor e tivemos mais rentabilidade, mas perdemos mercado. Não deixa de ser uma recuperação da crise enfrentada pela avicultura brasileira em 2012. Mas o desafio continua. Explorar a plenitude do potencial da produção de carne de frango do Brasil e do Paraná – o maior produtor e exportador do país – ainda exige preço e mercado, faturamento e volume.
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