Do formol encontrado no leite de um pequeno laticínio do Paraná e na carne de um grande abatedouro com atuação no mercado global, a semana agitada no agronegócio ainda reservava um episódio no mínimo inusitado, que envolveu a representação política do setor. Mas também foi indelicado e aparentemente grosseiro. Embora tenha sido apenas uma brincadeira. Pode ter sido de mau gosto, vindo de uma pessoa que não tem muito cuidado com as palavras e dirigida a uma pessoa com um perfil mais explosivo e de personalidade forte. Mas ainda assim uma brincadeira.
´Namoradeira´ teria dito o senador José Serra (PSDB) à senadora (licenciada) e ministra da Agricultura Kátia Abreu (PMDB). Ela, é claro, não gostou e partiu para a agressão. Física, não verbal, atirando o conteúdo de um copo em direção ao tucano. A depender da intimidade entre os dois e o contexto onde ocorreu o comentário, realmente foi de extremo mau gosto e nada elegante por parte de José Serra. Agora, a considerar o que está ocorrendo em Brasília e no Brasil, preocupante seria estar na lista do juiz Sérgio Moro, ter conta irregular na Suíça ou seu nome associado à Operação Lava Jato.
Sem desmerecer a interpretação ofensiva e machista por Kátia Abreu, passou. Serra foi infeliz, teve o que mereceu e pediu desculpas. A ministra se irritou, foi para as redes sociais, o meio político repercutiu, o episódio foi para a mídia, ganhou as manchetes, mas passou. Até porque, ministra, o que o agronegócio está preocupado mesmo é com o El Niño, com a falta de recursos para subvenção ao seguro rural e da liberação de crédito ao custeio, investimento e comercialização da safra 2015/16.
Aliás, ser ministro da Agricultura quando tudo vai bem, como nas últimas temporadas, fica fácil. Quando há recurso, preço e o clima ajuda, pouco se lembra ou pouco se precisa do ministro e do Ministério da Agricultura. Quero ver agora, que cinto começa a apertar, o arrocho também atinge o segmento e as poucas políticas públicas destinadas ao campo começam a minguar. É chegada a hora de dizer a que veio, ministra. Tempos difíceis virão. E já não será tão fácil ocupar a cadeira de ministro da Agricultura.
Vocação natural
Contudo, apesar das turbulências, o que salva o Brasil que produz é a sua vocação natural ao agronegócio, à produção e à exportação. Isso é forte, é base, é fundamento e está acima de qualquer barraco ou falta de sensibilidade do governo para com a economia que vem do campo. Ninguém, nem Brasília e muito menos aqueles mal intencionados, que possam ter contaminado o leite e a carne com formol, tiram isso do produtor.
Prova disso está na superação que vem do campo. Entre gracinhas de senadores e ministros, e enquanto ferve a temperatura em Brasília, o setor produtivo mostra a sua força, enfrenta as adversidades e desafia os números. Um exemplo vem da pecuária e outro da agricultura, mais especificamente da operação logística no mais tradicional terminal de escoamento de grãos do país. Duas situações e cenários que têm muito a ver com o Paraná.
Recorde no frango
Dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) revelam que o Brasil assume a segunda posição no ranking mundial de produção de carne de frango. O país deve terminar 2015 com produção de 13,13 milhões de toneladas da proteína, crescimento de 3,5% em relação ao ano passado, que foi de 12,69 milhões de t. Com isso, a China vai para terceira colocação, com 13,09 milhões de toneladas para este ano. A liderança é dos EUA, com mais de 17 milhões de t por ano. O Brasil também é o maior exportador de carne de frango. Internamente, a produção e os embarques são liderados pelo Paraná.
Superação no porto
Depois de semanas com embarque limitado por conta das chuvas, no primeiro dia de sol intenso o Porto de Paranaguá bateu um novo recorde diário. Na última quarta-feira, em 24 horas o berço 213 do corredor e exportação carregou 51,68 mil toneladas de soja, quase um navio modelo Panamax por completo. A operação normalmente leva de dois a três dias. O desempenho tem muito a ver com o sol, como também com investimentos do governo do estado em infraestrutura e equipamentos para agilizar a operação. E, é claro, em gestão e administração, mais técnica e menos política do terminal.