Se é por questões técnicas, políticas ou econômicas, isso vai depender de onde vem o discurso. O fato é que o Paraná se prepara para mais uma campanha de vacinação do rebanho bovino contra a febre aftosa.
O governo estadual chegou a anunciar o fim da vacinação. A última imunização era para ser em maio. Mas as autoridades sanitárias, a partir de uma decisão técnica, que teve forte viés político, resolveram voltar atrás e retomar a etapa de novembro. Quando o estado definiu sua estratégia para conferir ao Paraná o status de área livre de febre aftosa sem vacinação, ainda no ano passado, imediatamente vários segmentos ligados à cadeia produtiva do setor se manifestaram contra ou a favor.
As divergências abriram um intenso debate, no campo técnico e político. De fóruns organizados pelas entidades envolvidas na pecuária a audiências públicas na Assembleia Legislativa, o tema ganhou destaque, envolveu a indústria veterinária, a comunidade científica e abriu a discussão à sociedade organizada. Estabeleceu-se, então, uma discussão de viés econômico e também de segurança e abastecimento alimentar. Contra o fim da vacinação do gado, entre os argumentos mais fortes, destacou-se o fato de isolar o Paraná sem a possibilidade de comércio e trânsito de entre os estados, cenário de custo-benefício questionável pelos favoráveis à continuidade da imunização. Além de expor o rebanho ao risco maior em troca de um ganho financeiro direto limitado.
Na defesa pelo fim da vacinação, posição firme defendida desde o início pelo governo do estado, através da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar) e pela Federação da Agricultura do Paraná (Faep), o fortalecimento da bovinocultura paranaense, com o avanço da pecuária de corte e o acesso a novos e mais rentáveis mercados de carne bovina. Apesar do recuo na suspensão da vacina agora em novembro, a Secretaria Estadual da Agricultura (Seab) e a Adapar garantem que isso não compromete o processo em busca do status de área livre de febre aftosa em vacinação.
A Seab argumenta que nem todas as ações estruturantes foram suficientemente implementadas. Em linha, a Adapar diz que a prudência é que levou à manutenção do calendário. Já a Faep, que não esconde a contrariedade com o vaivém nas decisões, mantém posição irrestrita, defende e cobra que o fim da vacinação não passe do ano que vem. O assunto será pauta da próxima reunião do Conesa, o Conselho Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional. A pauta, porém, não é o fim da vacinação, mas por que a sua continuidade.
A Sociedade Rural do Paraná (SRP), que lidera um fórum com 35 entidades ligadas ao setor, chegou a contratar um estudo ao Centro de Estudos em Economia Avançada (Cepea), da Universidade de São Paulo (USP), com o objetivo de mapear todas as principais variáveis que envolvem a questão. Com seis módulos, o relatório, que está parcialmente concluído, faz apontamentos técnicos e econômicos que sugerem riscos pertinentes e iminentes do processo. Oficialmente, o estudo ainda não foi usado como argumento à posição da SRP. Mas certamente o será. Talvez na próxima reunião do Conesa. A SRP defende a vacinação ou então o fim dela desde que seja em bloco com Paraná, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Safra peculiar
Com a avanço do plantio da safra 2015/16, as apostas do novo ciclo começam se definir a partir de algumas peculiaridades, no Brasil e no Paraná. Segundo maior produtor de milho do país, o estado deve ter a menor área de verão destinada ao cereal desde 1977, quando teve início o acompanhamento estatístico pela Secretaria Estadual da Agricultura (Seab). Com mais de 50% do plantio concluído, a expectativa é que extensão seja 18% menor que no ano passado, recuando para 444 mil hectares. A redução, no entanto, não ocorre necessariamente por conta dos preços pagos ao produtor, mas pelo interesse maior na soja, que ganha área na disputa por espaço com o milho.
Por outro lado, a safra da oleaginosa, em fase inicial de cultivo, tem potencial para ser recorde no país e superar os 100 milhões de toneladas. No Paraná, dos 22,3 milhões de toneladas de grãos previstos para a temporada de verão, 18 milhões serão de soja. Nesse caso, outra curiosidade é que mais de 30% da soja paranaense que mal começou a ser plantada já foi vendida no mercado futuro. No Brasil, esse índice é ainda maior e está em torno de 50%. Metade da produção esperada de soja já está comprometida. O retrato é fruto dos preços remuneradores. O câmbio atual favorece os negócios e, neste momento, deixa o agronegócio brasileiro mais competitivo no mercado internacional.
No ano passado, nesta mesma época, o índice de venda antecipada da soja no Paraná era de 5% e no Brasil, de 10%. Na semana passada, o mercado encerrou com a saca de milho no Paraná com máxima de R$ 29,41 e a soja, em R$ 79. Nos últimos 30 dias, o milho teve valorização de acima de 20% e a soja, de mais de 10%.
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