Na próxima temporada, pelo menos 16 milhões de toneladas da safra brasileira de soja serão direcionadas à produção de biodiesel. O combustível limpo, verde e renovável ganha espaço na composição com o diesel comum e a partir de novembro de 2014 deve representar 7% da mistura. Da adição de 5%, que vigora atualmente, a nova meta cumpre um degrau de elevação entre julho e outubro, período em que a obrigatoriedade será de 6%. A demanda adicionada em dois pontos porcentuais vai consumir entre 15% e 20% da produção nacional de soja estimada para o ciclo 2014/15, em volume suficiente para processar 4,3 bilhões de litros de biodiesel.
Em 10 anos do Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB) a mistura terá passado de 2% para 7%. Parece pouco, mas quem vinha consumindo quase que sem critérios nossas reservas fósseis, caras e finitas, o Brasil consolida de fato sua opção por uma nova fonte de energia, altamente sustentável e fruto de uma vocação natural do país, no caso, a agropecuária. Está certo que o governo precisou rever sua estratégia. Até porque não dá para conciliar política social com política energética. O objetivo primeiro, que era buscar a matéria-prima em fontes alternativas e com isso promover o pequeno agricultor, não funcionou e teve de ser adaptada.
Não havia como cumprir metas e abastecer com segurança e relevância algo que era obrigatório com produção limitada e fornecimento incerto. Óleo de palma, mamona, azeite de dendê, sebo bovino e outras fontes oleaginosas podem até contribuir, mas estão longe de ter escalada suficiente para sustentar tamanha demanda. O único produto que aumenta sua participação e tem condições de fazer par com a soja é a canola. Ainda assim, a soja fica com 75% do negócio e todas as demais fontes contribuem com os outros 25%. A boa notícia é que no início do programa, principalmente a partir de 2008, quando a mistura passou a ser mandatária, a soja já respondeu por 90% da matéria-prima.
A soja, no entanto, não tem do que reclamar. Em alguns momentos, é bom que se diga, ainda bem que há o biodiesel. O aumento da mistura e a consequente demanda maior pelo grão ajudam a sustentar mercado e equacionar preço do grão no mercado interno e internacional. Com a oferta mundial em alta, liderada por Estados Unidos e Brasil, a tendência é de pressão de queda nas cotações. Encontrar e ampliar uma nova fonte de consumo chega, então, em boa hora. Vem ao encontro da necessidade de sustentar preço e garantir demanda ao produto nacional. De uma cultura que está no cerne da renda agrícola do país e que precisa de mercado para ser sustentável.
Em 2014 a soja deve responder por 25% do Valor Bruto da Produção (VBP) no Brasil e 34% no Paraná. Relevância, participação e dependência de risco que precisa ser administrada. E não há outro jeito que não seja pelo preço, mercado e liquidez. Que venha então o B7 e imediatamente o B10. A mistura de 10%, prevista para 2020, tem sim condições de ser antecipada. Há demanda, matéria-prima e capacidade ociosa na indústria. Falta apenas vontade do governo em encarar a política do biodiesel pelo viés energético, mais sustentável e ambientalmente correto do que, necessariamente, pelo componente social.
De qualquer forma, o grande motor do biodiesel continua sendo a soja, que está com uma família maior. Nada mais justo, então, que ampliar a tradicional denominação que define o complexo soja para grão, farelo, óleo para, agora, também biodiesel. Uma referência mais ampla de proteína, energia e liquidez que vêm do campo.
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