Juros mais altos com crescimento menor, tudo ao mesmo tempo e agora. O ano realmente não será fácil para o agronegócio. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou na semana passada que em 2014 o Produto Interno Bruto (PIB) da agropecuária, atividade primária do setor, cresceu apenas 0,4%. Ou seja, quase nada se comparado aos 7,9% registrados em 2013. Já o PIB geral da economia nacional, esse, sim, não avançou. Na comparação com os 2,7% do ano anterior, a variação de 0,1% no ano passado é o mesmo que zero. Foi o pior desempenho em cinco anos. É dizer que o país não conseguiu nem andar de lado. A recessão chegou. É técnica, não matemática. Mas está aí.
Embora o indicador agro tenha encerrado o ano com melhor desempenho que o PIB geral, percentualmente o tombo no campo foi bem maior. A diferença está em um recuo de 7,5 pontos na atividade agropecuária contra 2,3 pontos no conjunto. Contudo, mesmo com um crescimento muito menor, mais uma vez foi a produção agrícola que segurou as pontas. Não fosse o resultado positivo do setor – apesar de ter sido pífio –, a recessão não seria mais técnica, mas matemática. O porcentual viria com um sinal de negativo na frente.
Embora o indicador agro tenha encerrado o ano com melhor desempenho que o PIB geral, percentualmente o tombo no campo foi bem maior
Outro ponto a ser considerado é que a produção primária não é a única contribuição que vem do setor. Boa parte dessa oferta primária já passa por um processo agroindustrial. Uma agregação de valor que confere ao PIB do agronegócio, não apenas da agropecuária, um crescimento acima de 1,5% em 2014 (Cepea) e uma contribuição, ou sustentação, maior ao resultado da economia. Mas, assim como na balança comercial, o agro não está mais conseguindo fazer frente ao fraco desempenho dos demais segmentos que compõem o indicador.
Também vale uma reflexão sobre as variáveis que impactam a produção agropecuária neste momento. A fragilidade da política econômica tem, sim, relevância dentro da porteira. Crédito mais caro, logística deficiente e custo mais alto para produzir tiram as margens e diminuem a renda. A mesma renda aferida na composição do PIB da agropecuária. Mas não é só isso. Principalmente no caso dos grãos, fatores externos é que têm maior responsabilidade no viés de baixa, que sofre influência das cotações balizadas a partir da Bolsa de Chicago, referência mundial na formação de preços internacionais.
No segundo semestre do ano passado, por exemplo, foi a desvalorização da soja e do milho no mercado internacional que tirou a renda da soja e enfraqueceu a presença da commodity no PIB. O mesmo vale para o milho. De lá para cá os preços não mudaram muito. A diferença neste momento é o câmbio, que favorece o dólar e as cotações. Os mesmos US$ 9,5/bushel que em outubro do ano passado conferiam à saca de 60 quilos da soja em torno de US$ 21 não mudaram de lá para cá. A diferença é que US$ 21 em outubro do ano passado valiam menos de R$ 50, e hoje valem mais de R$ 66.
Começou
Não bastasse o banho de água fria que veio com o anúncio do PIB da agropecuária, na semana passada outra notícia tirou o sono dos produtores rurais. O governo federal elevou os juros do Moderfrota programa de financiamento de máquinas e implementos agrícolas. O Conselho Monetário Nacional (CMN) reajustou em 3 pontos porcentuais o custo dos empréstimos da modalidade. Para contratante com faturamento até R$ 90 milhões/ano, a taxa foi de 4,5% para 7,5% ao ano. Para renda acima de R$ 90 milhões, os juros do financiamento subiram de 6% para 9%.
Havia uma expectativa de que o ajuste seria feito apenas com o Plano Agrícola e Pecuário (PAP) 2015/16, que deve ser anunciado em maio. Mas o aperto econômico e fiscal do governo é tanto que a decisão veio antes. O aumento na taxa de juros tem como objetivo reduzir o custo do crédito para o Tesouro Nacional. Se a taxa de juros básica do Plano Safra seguir a mesma regra do Moderfrota, o custo do crédito ao setor produtivo vai aumentar de 6,5% para 9,5%.
A ministra da Agricultura, Kátia Abreu, tem falado diariamente que nada será feito que inviabilize o setor e que não irão faltar recursos para a próxima safra. Tudo muito óbvio, não é, ministra? Primeiro, porque inviabilizar o agronegócio é inviabilizar a economia do país. E, sobre os recursos, creio que não há dúvida de que eles serão suficientes, pelo menos em tese. A questão é o custo desse dinheiro, a taxa de juros que será aplicada.
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