O 2º Fórum de Agricultura da América do Sul, realizado na semana passada em Foz do Iguaçu pelo Agronegócio Gazeta do Povo, discutiu de tudo, dos temas transversais às principais cadeias produtivas e suas implicações, da produção ao consumo, da oferta à demanda, os mercados e o comércio internacional. Ficaram muito claros os desafios, mas principalmente as oportunidades aos produtores sul-americanos. Das carnes aos grãos, o bloco aumenta a cada ano sua participação e responsabilidade no abastecimento mundial. Especialistas de vários países, como Rússia, Índia e Estados Unidos, presentes à discussão não apenas reconhecem o potencial como apostam na produção da América do Sul para atender a crescente demanda global por alimentos e energia.
O cenário para os grãos não é dos mais animadores. Safras cheias e estoques em alta mantêm as cotações deprimidas e impõem um novo ciclo. De um crescimento a taxas mais adequadas e rentabilidade bastante diferente daquelas verificadas na última década, que em termos de preços médios foi considerada uma década de ouro para o setor. Rumo diferente seguem as carnes, com abertura de novos, grandes e exigentes mercados à proteína sul-americana. O destaque aqui é o Brasil. Líder nos embarques de carne de bovina e de frango, o país avança nas exportações de carne suína e abre novos e importantes mercados. Nas últimas semanas, por exemplo, a China retirou o embargo à carne de boi e os Estados Unidos comprou, pela primeira vez, carne suína in natura do Brasil.
Desafios
A oportunidade, então, está na mesa. O que não está muito claro é a estratégia a seguir. Em especial aos modelos de negociação no ambiente internacional. O apelo passional que vem do Mercosul versus a necessidade de se flexibilizar a atuação aos países que compõe bloco deixam o cenário bastante confuso.
Negociações em bloco, bilaterais, multilaterais ou plurilaterais? Depende, disse uma especialista na área que integrou as discussões. Mas depende do quê? De muita coisa, de interesses muito particulares, da necessidade específica de cada país e de soberania. Ou seja, há pouca chance de isso acontecer na atuação em bloco. Até mesmo a logística influencia essa decisão. Em muitos casos é mais fácil e competitivo exportar para a Europa do que para Peru. Apesar da proximidade, carga ao país vizinho precisa pegar o Atlântico, cruzar o Canal do Panamá e chegar ao destino pelo Pacífico.
A estratégica logística, contudo, é apenas um dos inúmeros desafios. A preocupação agora não está necessariamente em produzir, mas em ser competitivo e liderar. Não apenas pelo volume, como pela eficiência e sustentabilidade, social, econômica e ambiental. Uma discussão que passa pela essência do Fórum de Agricultura, que está em criar um palco legítimo e democrático sobre as tendências do agronegócio mundial, a partir da realidade e potencial da América do Sul. Em sua segunda edição, a o evento atraiu representantes de 11 países, um indicativo de que o debate é necessário, tem espaço e se apresenta como condição ao desenvolvimento e fortalecimento da América do Sul no contexto do agronegócio globalizado.
A próxima edição do Fórum, que se insere no calendário internacional do agronegócio, será nos dias 10 e 11 de setembro de 2015.
Terra de ninguémSe o ministro Neri Geller alimentava qualquer esperança de continuar no comando do Ministério da Agricultura (Mapa) no próximo governo da presidente Dilma Rousseff (PT), a Polícia Federal acabou com qualquer que fosse a sua pretensão. A operação Terra Prometida, que investiga irregularidades na concessão e uso de áreas destinadas à reforma agrária no Mato Grosso levou para a prisão Odair e Milton Geller, irmãos do atual ministro do Mapa. A autoridade policial até divulgou nota para informar que o ministro não foi investigado na operação.
Indiretamente, porém, não há como deixar de relacionar o ministro Geller. Afinal, eles são irmãos, são agricultores e pecuaristas e vivem no mesmo estado. O que não significa que as ações sejam coordenadas ou partilhadas em família. Se é que há alguma irregularidade, é difícil pensar que o ministro não sabia. Mas de ter conhecimento a estar envolvido, quero acreditar que é bastante remota essa possibilidade. De qualquer forma, como a repercussão do caso na sociedade não considera essa distinção, não tem outro jeito, vai sobrar para o ministro. Pelo menos politicamente.
Também há outra hipótese de envolvimento indireto, não nas possíveis fraudes, mas nas denúncias que deflagraram e tornaram pública a operação Terra Prometida. Não por acaso, elas ocorrem justamente no momento de especulações sobre a nova composição de ministérios para 2015. A presidente Dilma chegou a convidar a senadora Kátia Abreu para assumir o cargo e ela aceitou de imediato. O anúncio oficial, porém, tarda a chegar por conta de resistências na bancada ruralista do Congresso Nacional, dentro do Partido dos Trabalhadores (PT) e do seu próprio partido, o PMDB. Um cenário que nos leva a crer que há, ou pelo menos havia, uma disputa.
O fato é que, a depender do que possa vir à tona, pelo menos por enquanto a Terra Prometida agora é terra de ninguém. E o ministério também.
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