O agronegócio não conseguiu sair ileso das denúncias apresentadas pela Procuradoria Geral da República (PGR) na Operação Lava Jato, que apura o esquema de corrupção na Petrobras. Ao contrário, boa parte dos denunciados integra a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) e está entre os suspeitos que serão investigados pelo Supremo Tribunal Federal (STF). A lista divulgada na última sexta-feira traz nomes como os dos deputados Luis Carlos Heinze e Afonso Hamm, do PP do Rio Grande do Sul, Dilceu Sperafico, do PP do Paraná, e dos senadores Valdir Raupp, do PMDB de Rondônia, e Romero Jucá, do PMDB de Roraima; nomes e siglas referências e lideranças dentro da FPA.
Heinze inclusive foi um dos presidentes mais recentes e também mais atuantes da Frente Parlamentar. Jerônimo Goergen (PP/RS), outro dos citados, integra não apenas a bancada, como a diretoria da FPA para o biênio 2015-2016. Jerônimo é diretor institucional. Dos 49 nomes da lista, entre políticos com mandato, filiados a partidos e operadores do esquema, 31 são do Partido Progressista (PP). Desses, cinco são deputados e um ex-deputado pelo PP do Rio Grande do Sul, estado que pela sua natureza, como o Paraná, tem a maioria dos seus parlamentares na bancada ruralista.
A lista dos novos investigados na Operação Lava Jato inclui senadores, deputados, ex-parlamentares, ex-governadores e até ex-ministros; entre eles, os atuais presidentes do Senado e da Câmara Federal. Como que por ironia do destino, boa parte deles integra as comissões de ética das duas casas legislativas. A se comprovarem as denúncias e o suposto envolvimento desses parlamentares, outra arbitrariedade. Aqueles que deveriam estar zelando pela conduta reta e ilibada dos representantes do povo podem estar legislando em causa própria, e não do seu representado. Até o presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) está entre os investigados. No caso da Câmara, não apenas o presidente mas também o vice está entre os supostos envolvidos.
A Frente Parlamentar da Agropecuária é um grupo formado por 200 parlamentares. A diretoria tem 19 integrantes, da Câmara e do Senado. O objetivo da FPA é promover políticas públicas em favor do desenvolvimento do agronegócio.
Agroeconomia
O agronegócio responde atualmente por 23% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. De 2000 a 2013 foi o saldo das importações versus exportações do segmento que garantiu, por 13 anos consecutivos, o superávit da Balança Comercial brasileira. Em 2014, o agronegócio registrou saldo de US$ 80 bilhões. Apesar de expressivo, o valor não foi suficiente para cobrir o rombo deixado pelos outros setores da economia. E pela primeira vez em 14 anos o saldo geral foi negativo em US$ 4 bilhões.
Importante destacar que o agronegócio também não vive o melhor dos mundos. Entre 2013 e 2014 o saldo recuou de US$ 82 para US$ 80 bilhões. Mas continua positivo, e muito positivo. Já os demais segmentos que influenciam o desempenho da balança ampliaram o saldo negativo de US$ 80 pra 84 bilhões. Aí não há negócio que resista. Aliás, não há agronegócio que resista e suporte tamanha responsabilidade para manter a balança comercial positiva.
Safra 2015/16
A situação econômica do país, aliada ao escândalo político na Petrobras com o envolvimento de políticos e, sobretudo, de políticos representantes do setor produtivo, traz uma preocupação adicional ao agronegócio. O setor começa a discutir com o governo federal o novo plano agrícola e pecuário, o Plano Safra 2015/16. Uma discussão que tem como interlocutor fundamental o Poder Legislativo, em especial as frentes parlamentares que têm relação com o segmento, como a FPA. A depender das investigações sobre o caso, os debates sobre as novas regras do plano podem não ter a devida atenção e até se enfraquecer diante do possível envolvimento de parlamentares ligados ao campo no escândalo da Petrobras.
Entidades do setor, contudo, trabalham no sentido de manter a pauta em foco. Na semana passada, a Federação da Agricultura e Pecuária do Paraná (FAEP) e a Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar) encaminharam documento à Brasília com suas propostas e reivindicações ao PAP 2015/16. Entre outras solicitações está o aumento do volume de crédito para custeio, investimento e comercialização de R$ 180 bilhões para R$ 207 bilhões, sendo R$ 180 para a agricultura empresarial e R$ 27 bilhões para a familiar. E a manutenção da taxa de juros do crédito rural. Para justificar a variação no volume de recursos, as entidades consideram o aumento de 15% no custo de produção das principais culturas.