Pouco ou quase nada tem se falado no Brasil sobre 2014 como o Ano Internacional da Agricultura Familiar, chancela definida pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (ONU/FAO). Assim como pouco se falou sobre o Ano Internacional do Cooperativismo, em 2012, apesar de os dois temas serem a cara do Brasil, de um país que tem vocação para a agricultura e a cooperação. Nos dois casos, uma oportunidade ímpar de mobilizar e interagir, de destacar a importância e relevância econômica e social desses modelos. De sistemas que têm a ver com promoção, inserção e democracia. De um ambiente onde pequenos produtores participam de um grande negócio.

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Em 2012 foram inúmeras as ações, mas desenvolvidas quase sempre de forma isolada, dentro de uma ou outra cooperativa, nas entidades de representação ou em ambientes políticos, de um pronunciamento parlamentar a uma exposição sobre o tema na Câmara dos Deputados. Em 2014, pelo menos por enquanto, o que dominou o noticiário até poucos dias foi a Copa do Mundo e, agora, as eleições. Parece não haver palco, espaço e nem tempo para tão relevante discussão. Talvez falte um pouco de reflexão, no sentido de entender que esta pode, sim, ser uma boa hora para suscitar o debate sobre o tema e colocar em pauta a efetiva e crescente participação da agricultura familiar no desempenho do agronegócio e da economia nacional.

Até porque, apesar de pequenos, eles representam a maioria absoluta entre aqueles que se dedicam à agricultura e pecuária. A depender do critério adotado ao enquadramento, que vai do tamanho da área, passa pela renda e pelo porcentual da mão de obra familiar empregada na propriedade, em alguns estados os agricultores familiares chegam a representar mais de 80% de todos os produtores rurais. Do milho à mandioca, do feijão com arroz ao frango, leite e suínos, eles têm participação entre 20% e até mais de 80% no volume da produção nacional, sempre a depender do segmento e da região onde estão estruturados.

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Para os mais desavisados, agricultura familiar não é mais agricultura de subsistência, mas fonte de renda, emprego e receita que viabilizam a pequena propriedade e movimentam as economias regionais. Ainda vale lembrar que a agricultura familiar acaba sendo mais diversificada que a chamada agricultura empresarial, das grandes propriedades e dos grandes produtores. E também está nas commodities. De acordo com o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), 18% da soja e 50% do milho produzidos no país vêm da agricultura familiar.

Segundo MDA, eles são um exército de 4,3 milhões de produtores, responsáveis por 24% da área ocupada e 38% do Valor Bruto da Produção (VBP) da agropecuária nacional. Dos quase 25% ou ¼ de participação do agronegócio no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, 10% vêm da contribuição desses pequenos produtores. Assim, independentemente do conceito, e sem preconceito, empresarial ou familiar, o que está em discussão é o agronegócio, o resultado e a contribuição que essa vocação natural traz à economia do Brasil. Já não importa mais o tamanho da área ou da renda. Tudo é negócio, gera emprego e renda, e promove o desenvolvimento de norte a sul do país, na pequena e na grande propriedade e deve, portanto, estar na pauta do dia a dia do país, no campo e na cidade, no ambiente público e no privado, com ou sem copa, com ou sem eleições.

Para a FAO, a agricultura familiar, que depende basicamente dos membros da família para a mão de obra e a gestão, continua sendo a forma dominante de agricultura. O órgão estima que haja mais de 500 milhões de áreas de agricultura familiar no mundo. A régua para definição do número inclui pequenos e médios agricultores, camponeses, povos indígenas, pescadores e pequenos pecuaristas.