Se na política foi um ano para se esquecer, ou para se aprender, no agronegócio 2016 não é para esquecer, mas também não vai deixar saudades. O campo não passou imune à crise econômica desencadeada pela instabilidade política do país. O clima reduziu o potencial produtivo, o efeito colateral da economia aumentou os custos e diminuiu a rentabilidade, a oscilação no câmbio deixa o setor inseguro e o Valor Bruto da Produção (VBP) recua pela primeira vez depois de seis anos em alta.
Ainda assim, um ano a se comemorar, porque apesar de crescer menos, o agronegócio segue no azul, com um desempenho relativamente melhor do que na economia de um modo geral. Enquanto o Produto Interno Bruto Brasileiro (PIB) deve encerrar 2016 no negativo, com um recuo próximo de 3,5%, o PIB do agro tem potencial para crescer acima de 2%.
Outra peculiaridade do campo é que o agronegócio não segue o calendário tradicional, de 1º de janeiro a 31 de dezembro. O ciclo aqui vira o ano. Não se fala em 2016 ou 2017. Mas 2016/17. Por força de convenções civis, políticas, econômicas e financeiras, exportações, VBP e PIB consideram o ano fechado e por inteiro. O calendário agrícola, no entanto, tem a ver com convenções e condições climáticas, geopolíticas e de mercado, de oferta e demanda. Começa no segundo semestre de um ano para encerrar no primeiro semestre do ano seguinte.
Os problemas e lamentos da última safra, portanto, que influenciaram os números de 2016, ficaram para trás, com um prejuízo admitido e de certa forma equacionado. O olhar agora é para o ano-safra 2016/17. Isso desde setembro, quando o Brasil deu início ao plantio da nova temporada. Um novo ciclo que começou com um novo governo, um novo câmbio e muitas incertezas.
A boa notícia é que a principal variável, que impactou negativamente 2015/16, resolveu colaborar em 2016/17. De um modo geral, o clima tem se mostrado favorável e melhor que na temporada anterior. Com raras exceções todas as regiões do Brasil conseguiram plantar ou estão por concluir o plantio no tempo certo e na janela mais adequada para o desenvolvimento das lavouras. O espírito de renovação e esperança, típico da época e das motivações de Natal, também contagia o campo.
Sem dúvida, pelo menos por enquanto, tudo sinaliza para uma safra de retomada. Em especial à região do Matopiba, no centro-norte do país, onde a campanha anterior teve uma quebra de 50% na produção. Depois de um ano difícil, Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia vivem a expectativa de um ano novo com uma nova perspectiva e uma nova safra. Se for para traduzir em números, a safra de 200 milhões de toneladas registrada em 2015/16 tem potencial para 215 milhões de toneladas em 2016/17. E o VBP, que em 2015 foi de R$ 533 bilhões e caiu a R$ 523 bilhões em 2016, tem tudo para retomar o crescimento e atingir R$ 552 bilhões em 2017. O VBP é o valor pago à produção primária, que remunera basicamente o produtor. O indicador não inclui a economia do valor adicionado, a partir da indústria de transformação.
Então, pelo menos no agronegócio vamos terminar bem 2016 e de olho em 2017. E de olho principalmente no clima, que vestido de El Niño ou La Niña tem criado um ambiente de cada vez mais imprevisibilidade no campo.
Em Brasília
Outra mudança, genuinamente política, está no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Com a queda da presidente Dilma Rousseff, sai Kátia Abreu entra Blairo Maggi. Os dois, de certa forma, tem uma relação direta com o setor. Kátia enquanto dirigente – ela foi presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil – e Blairo produtor rural. Os dois também eram políticos, senadores com mandatos no Legislativo antes de assumir a pasta da Agricultura. Blairo ainda foi governador do Mato Grosso. E justamente por essa ligação íntima com o campo e o governo que os dois, talvez em diferentes proporções, também estão deixando a desejar, decepcionaram e frustraram as expectativas de suas indicações.
Kátia Abreu tinha todo apoio político e de recursos do governo federal. Verba para ao plano safra, para equalizar juros ou subvencionar o setor não foi problema na sua gestão. Por outro lado, o uso político da sua posição não foi bem visto, ela acabou se afastando da sua base e foi, inclusive, acusada de agir por interesses próprios que não os do agronegócio. Já Blairo Maggi não goza da mesma atenção do Palácio do Planalto, que tem outras situações e conflitos políticos mais importantes com o que se ocupar. Além disso, o Blairo ministro, ao contrário do Blairo produtor, não tem dinheiro, está esgotando seu discurso e encerra o ano revestido de uma vaidade que não é típica da classe que representa.
O que esperar de 2017? No mínimo que o Mapa receba mais atenção e dinheiro do Palácio do Planalto. E como consequência, de mais recursos e espaço no Executivo, viaje menos, faça menos selfie e tenha mais tempo em Brasília para garantir as mudanças estruturais que o agronegócio brasileiro precisa para se tornar e se manter competitivo no século 21.
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