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Opinião

Revolução silenciosa

De Canguçu, no Sul do Rio Grande do Sul, a Juazeiro, no Norte da Bahia, tem início hoje mais uma expedição organizada pelo Agronegócio Gazeta do Povo. Do maior minifúndio do Brasil ao maior produtor nacional de frutas tropicais, técnicos e jornalistas estão a campo para fazer um diagnóstico e traçar tendências de um gigante adormecido. Do pequeno, em área, volume e faturamento, mas que participa um grande negócio no país. O negócio que vem do campo, o negócio do pequeno produtor, o negócio da chamada agricultura familiar.

Ideologias à parte, a Expedição Agricultura Familiar, que vai percorrer mais de 15 mil quilômetros por seis estados, pretende mostrar à sociedade e ao próprio produtor rural a importância dos pequenos, que juntos têm escala e respondem por parcela significativa da produção e exportação do agronegócio brasileiro. De um segmento onde agricultura e pecuária são mais do que um negócio, têm a ver com desenvolvimento, humano e social, dignidade e cidadania.

Além de dimensionar a participação do pequeno produtor na produção de várias cadeias produtivas, animal e vegetal, um dos desafios da iniciativa é envolver e chamar a sociedade ao debate. Afinal, estamos tratando de um tema que interessa ao público tanto urbano quanto rural. Vamos falar de abastecimento, sanidade e segurança alimentar, de renda e de uma economia que movimenta cidades, regiões e boa parte do estado e do país.

E para quem ainda enxerga o pequeno produtor ou a agricultura familiar como agricultura de subsistência, está na hora de rever seus conceitos. Não se trata mais de agricultura de subsistência, mas fonte de emprego e renda. Além de ser mais diversificada que a chamada agricultura empresarial, dos grandes produtores e das grandes propriedades, ela também está nas commodities. Do tabaco à soja, passando pelo leite, frango, milho e feijão, entre outros, o pequeno produtor responde, em alguns casos por até 100% da produção.

Para se ter uma ideia do universo que envolve esse segmento, a depender do critério adotado ao enquadramento, se é o tamanho da área, a renda anual ou então o porcentual de mão-de-obra familiar empregado na propriedade, em alguns estados os agricultores familiares representam até 80% de todos os produtores. Ou seja, não são poucos. Aliás, são a maioria. E absoluta.

Quando o quesito é renda, no entanto, a distribuição ainda é bastante desigual. 80% do Valor Bruto da Produção (VBP) estão concentrados em apenas 15% dos mais de 320 mil estabelecimentos rurais do Paraná, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No Brasil, a desproporção é ainda maior. A mesma parcela do VBP está concentrada em somente 10% das propriedades. Os números mostram, portanto, que há espaço para incluir mais gente no processo de desenvolvimento.

Mas quem é o pequeno? Quem é o familiar? O que ele faz? Como ele evolui (ou não)? E qual o futuro desses produtores e desse estrato fundiário do Brasil? É em busca dessas respostas que a Expedição Agricultura Familiar vai percorrer seis estados brasileiros, conversar com os produtores, com o público e o privado, cooperativas e governos em um trabalho inédito de sondagem, de interesse e, porque não, de utilidade pública. É a revolução, silenciosa e sustentável da agricultura brasileira.

E para qualificar tanto a pesquisa de campo quanto o debate, o Agronegócio Gazeta do Povo vai a campo em parceria com agentes diretamente envolvidos na discussão, como FAO/ONU, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), Sicredi, Souza Cruz e Asbraer, a Associação Brasileira das Entidades Estaduais de Assistência Técnica e de Extensão Rural.

Você pode acompanhar o trabalho de campo no endereço www.agrifamiliar.com.br.

Renovação na EmaterO Plano de Demissão Voluntária (PDV) autorizado na semana passada pelo governo do estado vai representar um novo marco na história do Instituto Emater. Praticamente um divisor de águas, que tem a ver com renovação e modernização. Mas não adianta renovar a frota se não tem há recurso para abastecer os veículos. Não adianta oxigenar o quadro de funcionários, inserir novas e necessárias qualificações, se não há dinheiro para investir naquilo que é a função do instituto, a assistência técnica e a extensão rural. É preciso resgatar a essência e potencial da extensão. E não tem outro jeito de fazer isso que não seja com investimentos. Em pessoal, sim. Mas também em infraestrutura. Estrutura e recursos serão condição ao exercício pleno dos profissionais que chegam com a missão quase que de ressuscitar a Emater.

Se o Paraná é o segundo produtor brasileiro e o estado com maior índice de agroindustrialização do país, isso tem muito a ver com a Emater. Foi o produtor, orientado pelos extensionistas, que nas últimas quatro décadas – ou antes com a Acarpa – transformaram a realidade não apenas do campo, mas da economia do Paraná. Também tem o dedo do instituto, a estruturação do sistema cooperativo, uma das maiores forças econômicas do estado, com faturamento acima de R$ 50 bilhões/ano. Vários presidentes, das maiores cooperativas, vieram dos bons tempos da extensão. Tempos esses que precisam voltar, como condição ao futuro do agronegócio sustentável, moderno e globalizado do Paraná.

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