Alguém ouviu falar do pacote de medidas de apoio ao trigo e outras culturas da estação, o chamado plano safra de inverno? O conjunto de regras que deveria preceder o cultivo e que no ano passado foi anunciado pelo Ministério da Agricultura (Mapa) em 8 de março ainda não foi divulgado em 2014. Se é que na atual temporada existe uma estratégica do governo federal de apoio e estímulo ao plantio, em especial do trigo, cultura que compõe a dieta básica da população e setor onde o Brasil é altamente dependente do produto importado. A única medida que se teve notícia é do reajuste do preço mínimo. E num valor que ficou abaixo das expectativas do setor produtivo. Plano mesmo, eu acredito que ainda não existe nenhum.
O entendimento é que o mercado vive um bom momento e que se regula sozinho, independentemente de apoio ou definições por parte do poder público. No final de março, o governo reajustou os preços mínimos do trigo pão tipo 1 e do trigo melhorador tipo 1 em 5% e parece ter dado o assunto por encerrado. O drama do trigo, porém, vai muito além da garantia do preço mínimo. Até porque, o acréscimo de 5% não é suficiente para cobrir os custos de produção. Em 2013 essa despesa foi calculada em R$ 635,33/tonelada ou 14% superior ao preço mínimo estabelecido para o trigo pão tipo 1, por exemplo. Essa, inclusive, é outra situação difícil de entender. Tanto o preço mínimo quanto o custo de produção são números, cálculos e projeções de órgãos do governo federal, mas que pelo visto não se conversam.
Diante desse cenário, na semana passada a Federação da Agricultura do Paraná (Faep) solicitou a revisão na Política de Garantia do Preço Mínimo (PGPM) conforme o custo de produção calculado pela Conab. Em março, em documento enviado ao Mapa, Faep, Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar) e Secretaria de Estado da Agricultura (Seab) já haviam proposto o reajuste do PGPM em 19,6%, porcentual suficiente para equiparar preço mínimo ao custo de produção. Entre outras medidas, as entidades também alertaram sobre a necessidade de se definir as regras de apoio à comercialização do produto, o que também não foi atendido, pelo menos por enquanto. Aliás, é onde haverá problema com o início da colheita, com a maior área em 10 anos e produção acima das 7 milhões de toneladas.
O volume ainda está muito abaixo do consumo interno, estimado em 11 milhões de toneladas, uma relação que teoricamente garante um preço médio com boa rentabilidade. Mas, como no trigo brasileiro a equação de oferta e demanda foge à lógica de mercado, o produtor pode esperar problemas de liquidez e preço ao produto nacional. Tradicional importador do cereal, com o legítimo pretexto da falta de produto no mercado interno e o questionável pretexto da qualidade do trigo nacional, a indústria brasileira – moinhos, massas e panificação – precisa ou prefere, por conveniência ou opção, recorrer ao cereal de fora. Um produto comprado na Argentina, Paraguai ou Estados Unidos e às vezes até no Leste Europeu, que pode chegar ao mercado brasileiro mais competitivo que o trigo nacional.
Com a tonelada entre R$ 700 e R$ 900, a depender da praça, e um incremento de área de 15% no Brasil e 20% no Paraná, o maior produtor, realmente o mercado tem condições de se autorregular. O que não significa que o governo deve ficar ausente. Talvez seja este o momento, a melhor oportunidade para planejar, desenhar estratégia e investir em uma política agrícola de longo prazo para o trigo. Mas é preciso querer, ter foco e vontade de fazer. Caso contrário, vamos continuar remediando a situação. Uma situação de interesse amplo, que transcende o campo. É questão de soberania e segurança alimentar.
E a primeira situação a se remediar está logo aí, com a colheita da safra e a necessidade de se garantir preço e mercado a uma produção que, apesar de ser insuficiente, é quase duas vezes o volume colhido no ano passado. Um momento em que a reivindicação da Faep com certeza fará sentido.
Extensão e sanidade
Mais extensão, capacitação e sanidade. O governo do Paraná publicou edital para concurso e contratação de 400 profissionais para o Instituto Paranaense de Assistência Técnica (Emater) e outros 200 para a Agência de Defesa Agropecuária (Adapar). Um investimento no resgate da extensão rural e em sanidade, com prevenção, orientação e fiscalização. Um verdadeiro batalhão de técnicos escalados para dar mais competitividade ao agronegócio do estado. As duas seleções têm provas agendadas para 15 de junho e serão realizadas nos municípios de Cascavel, Curitiba e Londrina. As vagas são para todo o estado. O concurso terá validade de dois anos. Vencido o esforço de realizar o certame, começa agora outro grande desafio, que está em garantir a efetivação dessas vagas e colocar, de fato, esse efetivo no campo e a serviço do Paraná. Haja burocracia, recursos e vontade política para seguir em frente.
Justiça do Trabalho desafia STF e manda aplicativos contratarem trabalhadores
Parlamento da Coreia do Sul tem tumulto após votação contra lei marcial decretada pelo presidente
Correios adotam “medidas urgentes” para evitar “insolvência” após prejuízo recorde
Milei divulga ranking que mostra peso argentino como “melhor moeda do mundo” e real como a pior
Deixe sua opinião