Serão conhecidas hoje as regras do Plano Agrícola e Pecuário, o PAP 2014/15. Motivo de grande expectativa, o anúncio talvez nunca tenha sido tão aguardado e ao mesmo tempo tão cercado de mistérios e especulações. Pela primeira vez, em dez anos, a taxa de juros básica nas operações de crédito rural deve sofrer um reajuste. A variação, que implica no custo do capital contratado à produção, seria necessária para garantir a equalização entre o juro agrícola e a taxa Selic. Na última década, a agricultura teve seus juros básicos reduzidos de 8,75% para 5,5% na safra 2013/14. Na outra ponta, no período de um ano, entre uma safra e outra, a Selic foi de 8% a 11%, no índice atual. Ou seja, do ponto de vista financeiro, fica justificado qualquer movimento para cima nos juros do Plano Safra.

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Os mais otimistas acreditam em um reajuste de meio ponto porcentual, para 6% ao ano. Mas pode ir a 7% ou até mais, embora eu não acredite muito nisso. Em ano de eleição, no caso da presidente Dilma Rousseff de disputa à reeleição, uma variação brusca nessa taxa de juros não seria uma medida muito popular. E como ela não está podendo colocar sua popularidade em risco ainda maior, o governo terá de convencer o Ministério da Fazenda sobre os prejuízos, os benefícios e o custo-benefício, político e econômico, para garantir a manutenção de crédito a baixo custo nas operações do agronegócio.

Na prática, um convencimento que está nos números do setor, que responde por mais de 40% Produto Interno Bruto (PIB) e perto de US$ 100 bilhões em exportações, além da expressiva e decisiva participação no superávit da balança comercial. Na teoria, cenário que pesa a favor do Ministério da Fazenda, é que não há como dissociar a taxa de juros média que incide sobre os financiamentos em geral, no caso a Selic, do subsídio aos juros concedidos ao crédito agrícola.

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A considerar que o governo tem um limite para garantir essa equalização, existem apenas dois caminhos. Manter a taxa de juros e reduzir o volume de recursos. Ou então elevar a taxa de juros e manter ou até aumentar o volume de recursos, opção que me parece mais coerente com o momento político do governo e econômico do agronegócio. No ano passado o PAP disponibilizou R$ 136 bilhões à agricultura comercial e R$ 21 bilhões à familiar, num total de 157 bilhões.

Agora, com o aumento dado como certo na taxa de juros, é possível pensar em valores próximos de R$ 150 bilhões e R$ 25 bilhões, respectivamente. Já o pedido de R$ 200 bilhões (total) feito pelo setor estaria totalmente fora de adequação ao ambiente atual. De qualquer forma, façam suas apostas. O ano é eleitoral e o agronegócio está em alta, é sinônimo de economia. Resta saber a importância que o governo confere ao segmento e como acredita que isso pode se traduzir nas urnas.

Outra questão a ficar atento é que a taxa de juros agrícola é definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Como a próxima reunião do CMN ocorre somente na quinta-feira, dia 22, isso significa que o Plano Safra será anunciado sem a validação oficial da taxa de juros pelo conselho. É de se imaginar que o voto técnico já esteja pronto. Mas que o voto final também pode mudar. Então, cuidado! Pode haver pegadinhas na definição de juros versus recursos versus interesses do governo e do setor que serão conhecidos daqui a pouco, a partir das 10 horas, direto de Brasília. Atenção, portanto, não apenas no discurso e nas promessas, mas se existem avanços e garantias efetivas de aplicação dos recursos.

Para constar, nos dez anos de redução dos juros agrícolas do Plano Safra, a produção brasileira de grãos saltou de 115 milhões para 195 milhões de toneladas. A maior parte desse incremento ocorreu nos últimos cinco anos, quando 65 milhões de toneladas foram adicionadas à produção nacional, graças também à gradativa redução da taxa de juros para custeio, investimento e comercialização. Um crescimento médio acima de 10 milhões de toneladas ao ano. Outra contribuição veio dos programas de renovação e modernização da frota agrícola, mais recentemente via PSI (Programa de Sustentação do Investimento) e anteriormente pelo Moderfrota, modalidade que deve resgatada e remodelada no PAP 2014/15.