Puxado pelo Brasil, o trio sul-americano produtor de soja deve encerrar o ciclo atual com uma produção próxima de 139 milhões de toneladas, o equivalente a 51% da safra mundial da oleaginosa, estimada em 271 milhões de toneladas. Contudo, já está mais do que na hora de considerar nas estatísticas do Cone Sul a Bolívia e o Uruguai. Com oferta pequena, incipiente, mas com expressivo potencial de crescimento, juntos esses dois países já colhem mais de 4 milhões de toneladas. Volume adicional que eleva a produção real do bloco para mais de 143 milhões de toneladas, ou quase 53% da oferta mundial do grão.
Isso hoje, porque no próximo ano essa participação porcentual deve ser ainda maior e superar os 55%, com possibilidade de atingir 60% da produção global. Na semana passada o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) divulgou uma projeção para 2013/14 que aponta uma produção de 149,4 milhões de toneladas de soja nos principais produtores da América do Sul. No caso, o tradicional trio da tríplice fronteira. O incremento deve ser sustentado na recuperação da safra argentina, um novo aumento na oferta brasileira e ligeiro crescimento no Paraguai.
Com Bolívia e Uruguai crescendo no mesmo ritmo, em condições normais de clima podemos esperar uma safra total do quinteto próxima de 155 milhões de toneladas. Hegemonia e liderança absoluta da América do Sul, que, com área e tecnologia, começa, aos poucos, contrariar interesses políticos e econômicos de outras nações. Uma América que se consolida, de forma natural, não especulativa, como o maior produtor de uma das commodities mais valorizadas e com maior liquidez no mercado internacional. Uma América que começa a vender, em vez de ser comprada.
É a soja tornando a economia da América do Sul cada vez mais verde e amarela. E não é trocadilho e nem sentido figurado com as cores do Brasil. Estamos falando de soja verde e madura, que não apenas lembra a bandeira brasileira, mas que está sustentada nos números da nossa produção. Se o quinteto da América do Sul tem potencial para produzir 155 milhões de toneladas de soja em 2013/14, seguramente, mais da metade desse volume sairá dos campos brasileiros.
O trio, então, não é mais trio, mas quinteto. Nada mais justo com esses países e com a América do Sul, trazer Bolívia e Uruguai às estatísticas. Bem como destacar à participação do produtor brasileiro na implantação da agricultura nessas regiões, com presença mais forte na Bolívia do que no Uruguai, a exemplo do que ocorre no Paraguai. Nos últimos 10 anos, a produção conjunta de soja, milho e trigo desses cinco países cresceu 121% em volume. No mesmo período, as exportações deram um salto de 85%.
Os números que embasam as análises feitas neste artigo são do USDA e da Expedição Safra Gazeta do Povo, levantamento técnico-jornalístico da produção de grãos que está há sete anos na estrada e há quatro temporadas percorre os países da América do Sul. Nesta semana, inclusive, uma das equipes da Expedição está percorrendo as regiões produtoras do Paraguai e da Argentina. Entre outras variáveis, eles conferem a recuperação da agricultura paraguaia, que, depois de um ano de estiagem severa, teve reduzida à metade sua produção de grãos. A equipe também confere nova fronteira agrícola do país vizinho, que avança em direção ao Chaco. Na Argentina, onde a colheita está atrasada, o desafio é mensurar o tamanho da quebra. Uma série de problemas climáticos, de chuva em excesso a longos períodos de estiagem, impactam negativamente as lavouras da região.
Para concluir, vale destacar o porquê do interesse na soja e o expressivo potencial expressado pela cultura em termos de crescimento em área e produção. Cresce o consumo e a destinação da oleaginosa não apenas para alimentação, como para energia. Isso no mundo. Por outro lado, o aumento na oferta, por conta de frustrações climáticas, nem sempre acompanha o ritmo da demanda. Outra questão é a valorização que essa liquidez traz ao grão. Levantamento realizado pelo caderno Agronegócio da Gazeta do Povo mostrou que, no ano passado, porcentualmente, a soja teve valorização superior ao do ouro. Foram 15,5% do metal contra mais de 60% de ganho da commodity agrícola.
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