Pela primeira vez em 12 anos o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) será comandado por um produtor rural. O período coincide com o tempo em que o Partido dos Trabalhadores (PT) assumiu o Poder Executivo no país. Desde 2003, quando Luiz Inácio Lula da Silva iniciou seu primeiro governo, foram seis ministros da Agricultura, uma média de permanência no cargo inferior a dois anos, o que é péssimo para o setor. Neri Geller, que toma posse hoje em substituição a Antônio Andrade, é o sétimo na lista. Ele assume o posto em uma espécie de mandato tampão, temporário, que puxa para perto dos 20 meses a média dos titulares à frente do Mapa. Como é ano eleitoral, tudo pode mudar. Pelo menos a princípio Geller tem assegurado menos de dez meses como ministro.
Atual secretário de Política Agrícola (SPA), Neri já foi vereador, deputado federal e dirigente classista. Gaúcho, que já morou no Paraná e vive há três décadas no Mato Grosso, ele é sobretudo produtor rural. Eu diria que muito mais produtor do que político, dirigente e até mesmo ministro. De qualquer forma, um homem que conhece o campo e o agricultor, com uma capacidade de compreensão desse ambiente imensuravelmente acima dos seus antecessores mais recentes. Afinal, ele é um deles. Com certa inclinação política, mas ele é um homem do campo.
O ministério, que nos últimos anos foi loteado politicamente, usado como moeda de troca nas composições políticas do Palácio do Planalto, experimenta um novo olhar. O olhar do campo, de quem sempre esteve do lado de dentro da porteira.
Dos últimos três ministros que antecederam Geller, todos tinham em comum o fato de pertencerem às fileiras do PMDB. Na prática, o primeiro chegou ao Mapa porque era parente do vice-presidente da República. O segundo porque era amigo da presidente Dilma. E o último porque precisava de um trampolim político às eleições de 2014 em sintonia com os planos políticos da aliança entre PT e PMDB.
O produtor Neri Geller também é do PMDB. Quais suas pretensões? Porque ele foi escolhido? Sua proximidade com o agronegócio é conhecida. Mas quais são suas relações com o poder? Apesar de nos parecer óbvio, uma vez que ele vem da base, do lado dos teoricamente representados pelo Mapa, Neri interrompe uma sequência de indicações mais políticas, ou exclusivamente políticas, do que técnicas na Agricultura. O ministério, que nos últimos anos foi loteado politicamente, usado como moeda de troca nas composições políticas do Palácio do Planalto, experimenta um novo olhar. O olhar do campo, de quem sempre esteve do lado de dentro da porteira.
Embora Neri já esteja há pouco mais de um ano no comando da SPA, agora é diferente. Pelo menos em tese ela ganha autonomia. Não necessariamente para implantar, mas com certeza para direcionar a política agrícola brasileira. Terá que cercar-se de bons caras, pessoas competentes e com capacidade de realização. Se quiser marcar sua passagem pelo Mapa terá que ser hábil, ágil e estrategista na composição da sua equipe. Mesclar os bons profissionais de carreira que existem na pasta com as pessoas de confiança e que acompanham a sua trajetória. Nos temas mais políticos e econômicos, contar, de fato, com a bancada ruralista no Congresso Nacional, de forma a credenciá-lo nas relações com outras pastas, como o Ministério Fazenda e a Casa Civil, que acabam sendo determinantes da definição ou então aplicações da política agrícola.
Não será fácil. É quase como que se estivesse mudando de lado. Não há dúvida de que o conhecimento e a identidade com a base devem agregar e muito no avanço das relações entre o agronegócio e o governo. E sua fazenda não está mais no Mato Grosso. Sua fazenda agora é o Brasil. Por mais que o Mato Grosso seja o maior produtor nacional de grãos, o Brasil é muito maior e tem outras demandas. De um país que cresce não mais ou apenas no Centro-Oeste, mas principalmente no Centro-Norte, hoje a grande fronteira agrícola brasileira. De uma produção distribuída regionalmente e que tem apenas nos três estados do Sul mais de 30% da produção nacional. Uma região onde o agronegócio está consolidado, mas que carece melhorar sua infraestrutura, especialmente logística, como condição para se manter competitiva.
Em resumo, ministro, é preciso fazer jus e responder à altura a expectativa de ter um ministro mais técnico que político no comando da pasta. Um ambiente onde não basta não decepcionar. É preciso surpreender, fazer a diferença e fazer acontecer.
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