Desde a década passada, as lideranças do agronegócio vêm somando esforços para que os produtores brasileiros acessem cada vez mais o mercado futuro, prevenindo-se de quedas repentinas nas cotações das commodities. As empresas que fornecem insumos, por outro lado, oferecem diferentes tipos de contratos de troca que permitem a ampliação das vendas antecipadas. Mas, mesmo numa safra como a atual, com área ampliada para a soja diante da promessa de boa rentabilidade, o setor prefere ir devagar na comercialização, ter certeza de estar fazendo um bom negócio, mostra o caderno Agronegócio. Até agora, a parcela comprometida corresponde a menos de um terço da previsão de colheita, uma clara demonstração de que, na avaliação da maioria dos produtores, os preços ainda devem subir.

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Essa cautela brasileira tem dado certo nos últimos anos. Os preços da época da colheita mostram-se lucrativos e muitas vezes superam os do período do plantio. Porém, não há garantia de que isso vá se repetir nesta temporada. A equipe de reportagem do Núcleo de Agronegócio da Gazeta do Povo vem colhendo avaliações de especialistas diariamente. E eles confirmam a tendência de redução nos preços no médio prazo, expressa nas cotações futuras da Bolsa de Chicago. A surpresa da última semana, porém, foi que os analistas revisaram dados e confirmaram probabilidade de altas, mas somente até que o impacto da falta de chuvas na safra norte-americana esteja contabilizado. Depois disso, o que vai pesar é justamente a supersafra sul-americana. Com pelo menos 1,5 milhão de hectares a mais (3%) dedicados à soja, o trio Brasil, Argentina e Paraguai terá de torcer por bom desempenho no campo e confirmação de demanda crescente. Ou seja, no final das contas, a China novamente terá o poder de definir o valor da colheita. A cautela revela-se desde já uma demonstração de confiança no Oriente.