Ano de Copa do Mundo e de eleições presidenciais é estimulante para a economia. Ao contrário do que a paralisação do país em dia de jogo sugere, a expectativa é de aquecimento. Afinal, o país do futebol vai sediar a competição mundial e espera receber mais turistas. E, na tentativa de conquistar eleitores, o governo brasileiro vai mostrar serviço e gastará mais do que em anos comuns, impulsionando a construção civil, por exemplo.

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Mas setores como o agronegócio podem sair perdendo com isso tudo. As atenções do Executivo estarão voltadas, no primeiro semestre, para a realização dos jogos e, no restante do ano, para as disputas envolvendo a grande massa do eleitorado.

Marcar gol e garantir avanço na estruturação de uma política para o trigo, nos projetos de infraestrutura ou nos investimentos em sanidade agropecuária não será fácil. Ninguém espera resolver todos esses problemas em um ano, é claro. O desafio é ‘vencer’ a Copa e as eleições mantendo os projetos de interesse do setor entre as prioridades do país.

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A estratégia do campo para o jogo deste ano já foi definida, sob a influência de 2013. A agricultura ampliou suas apostas na soja e decidiu reduzir a área do milho (no verão e no inverno). Isso define em boa medida toda a temporada. Soja e milho representam 85% da produção de 2013/14 estimada em 200 milhões de toneladas de grãos.

A oleaginosa deve se manter rentável, mesmo com ampliação do cultivo em toda a América do Sul em 2013/14 e nos Estados Unidos em 2014/15. O cereal, por sua vez, precisa encontrar mais espaço em novos mercados ou na indústria de alimentos e etanol. Resumindo: com produção de grãos maior, a renda do agronegócio deve crescer mais que em outros setores, mesmo que os preços não sejam os melhores.

Mas isso não decide a partida de 2014. O setor precisa ganhar competitividade e não só volume de produção. Continuar aumentando o cultivo sem lastro logístico agrava problemas que elevam custos, que reduzem margem de lucro, que afetam planos de investimento – num efeito dominó que representa retrocesso. E essa competitividade depende de transporte mais barato, portos mais ágeis e eficientes, segurança jurídica.

É necessário também avançar em sustentabilidade econômica. Regido pelo mercado externo, o agronegócio se submete a preços globais e tem de atender condições dos importadores, principalmente em época de recomposição de estoques – ou de compras menos vorazes.

Todos os projetos ligados a essas metas dependem, basicamente, de vontade política e ações administrativas. A duplicação de rodovias, a construção de ferrovias, os investimentos em portos, as negociações com países importadores não podem parar por causa da Copa ou das eleições. Ou 2014 representará uma derrota, com lentidão em obras, elevação do custo Brasil e frustração nos bastidores da economia.

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Máquinas em 2014

A entrevista coletiva marcada para amanhã, em São Paulo, pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) vai mostrar não só os recordes de 2013. Os representantes do setor devem prospectar um 2014 de vendas aquecidas. Mesmo que a produção e o comércio não mantenham os patamares do ano passado – foram produzidas 94 mil máquinas e vendidas 77 mil de janeiro a novembro, 20% a mais do que no mesmo período de 2012 –, a expectativa é que a expansão do cultivo de grãos sustente novamente uma boa temporada de negócios. O setor perde ritmo de crescimento, mas, com uma base de comparação alta, tem mais é que comemorar.

Agroenergia na inflaçãoO governo federal vem fazendo ligação direta entre agroenergia e inflação. Adiou em dezembro decisão que eleva o biodiesel de 5% para 6% no diesel, temendo impacto inflacionário. A indústria de biodiesel, que opera com ociosidade e chegou a contratar estudo para mostrar que o suposto aumento seria de menos de meio centavo por litro na bomba, defende o uso cada vez maior do combustível, produzido principalmente com soja. Brasília avalia ainda incentivo à produção de etanol de milho, testada em destilarias de Mato Grosso. Desvalorizado, o cereal teria se tornado competitivo diante da cana-de-açúcar e promete preços até mais baratos nos postos.

*O colunista Giovani Ferreira está em férias

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