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Parece notícia repetida, mas até por isso merece atenção: “Relatório do Usda derruba preços da soja em Chicago...” Os números que o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos vêm mostrando confirmam, semana após semana, que o país deve ter uma safra arrebatadora. Se o clima continuar ajudando, serão mais de 100 milhões de toneladas de soja, um volume que não estava previsto. E, para completar a cartada, o país espera acima de 350 milhões de toneladas de milho.

Mas o que isso significa para o Brasil? Será que uma safra gigante nos EUA tira o agronegócio brasileiro de seu curso de expansão? A resposta rápida é “não”, mas obviamente não passaremos ilesos. E o setor deverá sim se alinhar ao novo cenário.

As razões que levam os produtores norte-americanos a apostar na soja são bem conhecidas na América do Sul. A oleaginosa vem oferecendo rentabilidade maior que a do milho. Apesar de o cereal ter bem mais peso no mercado norte-americano, não está livre de uma redução nas margens de lucro automática logo após a elevação dos estoques.

O que não se esperava é que os Estados Unidos fossem reajustar tanto sua previsão de colheita. No último mês, foram acrescentados 4,5 milhões de toneladas de soja. E ninguém sabe onde isso vai parar.

Mas por que o Brasil ou a América do Sul reagiria diferente da América do Norte? Por que os agronegócio brasileiro tomaria uma posição tímida ou amedrontada diante dos preços em queda? O produtor sabe que, se o milho vai mal nos EUA, tende a ir pior no Brasil, mas na soja é diferente. Somos mais competitivos.

O que o agronegócio sul-americano tem mostrado definitivamente é coragem. Apostas cada vez maiores num mercado de consumo crescente predominam safra após safra. É como se EUA e América do Sul se desafiassem todos os anos em termos de volume de produção de soja.

Esse movimento é contínuo no Brasil, embora a rentabilidade das commodities determine o ritmo da expansão. A soja valorizada estimulou o país a ampliar sua área cultivada com grãos em 2013/14. Caíram milho, arroz, aveia, canola... E cresceram soja, feijão e algodão. O incremento foi de 6%, o maior em dez anos, considerando 15 grãos. O agronegócio tem agora 56 milhões de hectares para distribuir entre essas culturas no verão e no inverno. O incremento na soja, que sozinha ocupou 30 milhões de hectares, foi de 8,6%, conforme a Companhia Nacional de Abastecimento.

E o Brasil mostra-se disposto a continuar ampliando essas lavouras. O índice de 2014/15 deve ficar abaixo de 6%, mas dificilmente será negativo. Essa certeza vem dos números da última década. Se tem um país capaz de bater os Estados Unidos na produção e na exportação de soja, esse país é o Brasil.

NotasNúmeros não mentemUma análise das apostas dos Estados Unidos e da América do Sul mostra que o Brasil é o mais competitivo na soja. Os números de base são do próprio Departamento de Agricultura dos EUA, o Usda.

TriênioA comparação do volume total das três safras mais recentes (2012-2015) com o volume das três colheitas de dez anos atrás (2002-2005) mostra que, na produção de soja, o Brasil avançou 67%, a Argentina 46% e os Estados Unidos 21,5%. As exportações do grão, por sua vez, cresceram 120% no Brasil, 52% nos EUA e regrediram 1% na Argentina.

Vantagem reduzidaJá considerando as 103,4 milhões de toneladas previstas para 2014/15, os Estados Unidos colhem em três safras 275,5 milhões de toneladas de soja. No mesmo período, o Brasil obtém 260,5 milhões (t). Essa diferença de 15 milhões (t) foi de 70 milhões (t) entre 2002 e 2005, ou seja, 4,7 vezes maior.

Maior exportadorOs Estados Unidos exportaram 22 milhões de toneladas de soja a mais que o Brasil entre 2002 e 2005. Já no triênio 2012-2015, a situação se inverte. Mesmo considerando que os EUA vão retomar a liderança em 2014/15, com embarque de 45,6 milhões de toneladas, o Brasil mantém saldo de 7 milhões de toneladas com as marcas de 41,9 (2012/13), de 45,8 (2013/14) e de 45 milhões de toneladas (2014/15). O placar é de 132 x 125 em três anos para o Brasil.

ImplacáveisNo milho, os Estados Unidos seguem bem à frente. Em três safras (2012-2015) colhem 979,6 milhões de toneladas. O volume é 4,2 vezes maior que o do Brasil (233,5 milhões de t). Essa diferença caiu. No triênio 2002/2005, a produção norte-americana foi 6,5 vezes maior. Nas exportações do cereal, os EUA embarcavam 13,8 vezes mais que o Brasil. E agora têm vendido 1,7 t para cada tonelada que sai dos portos brasileiros.

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