A quebra climática é um drama que vai além dos discursos sobre a importância da produção de alimentos para a sociedade. Principalmente quando os prejudicados são exceção, a exemplo desta temporada – como vem mostrando o caderno Agronegócio. Em minoria, os produtores com prejuízo têm pouca força para reivindicar socorro e normalmente acabam amargando o prejuízo da insegurança da atividade isoladamente, como se fossem culpados pela falta de chuva, pela baixa resistência das sementes precoces.

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E para agricultores como os entrevistados pela Expedição Safra no Piauí e no Maranhão, o que está em jogo não é apenas uma safra, mas um projeto de vida. A maioria saiu do Sul há cerca de 15 anos, deixou tudo para trás, sujeitou-se a viver numa região isolada, sem água tratada, luz elétrica, casa confortável, confiando no inegável potencial da região para o cultivo de grãos. Porém, em ano de seca, boa parte desse esforço, que representa anos de suor, se evapora. A agonia das plantas em meio ao solo arenoso sem umidade arde na pele das famílias de produtores, já queimada pelo sol e pelo calor de 40 graus do Cerrado.

Neste momento, muitos estão às voltas em busca de uma saída. Como se reerguer do zero? Como se manter na agricultura numa região sem infraestrutura com dívidas que passam de R$ 1 milhão?

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Parece exagero, mas todo ano há produtores que se fazem essas perguntas. Nesta temporada, no entanto, a irregularidade climática fez casos numerosos, e impiedosamente isolados. Há casos de perda de mais da metade da produção em Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul, Paraná, Maranhão, Piauí e Bahia.

Nem por isso há dúvida do potencial dessas regiões. Na nova fronteira agrícola que abrange Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, as chuvas são dadas como certas entre outubro e abril. Mas algumas questões merecem respostas: O agronegócio precisa ser uma atividade de tão alto risco, capaz de banir da atividade produtores que estão se estruturando após mais de uma década de suor e sofrimento? Quando os programas de garantia vão dar segurança para esses agricultores pelo menos trabalharem tranquilos? Por enquanto, a saída é continuar produzindo, e com lavoura ampliada, como na safra de milho de inverno.