O aumento de 50% nas cotações do trigo funciona como uma pílula calmante para os produtores do Paraná, mostra reportagem desta edição do caderno Agronegócio. Quem tem tradição no setor confirma que a triticultura recuperou viabilidade. Por outro lado, o alto custo que a farinha terá para o consumidor mostra que os problemas logísticos não foram resolvidos.
As cooperativas investem em moinhos, mas não terão com resolver, por si só, a dependência brasileira das importações. O Brasil produz metade do que consome e, como seu principal fornecedor, a Argentina, também recuou no plantio, paga mais caro para garantir o abastecimento.
Esse quadro tende a persistir enquanto não houver uma política que equilibre oferta e consumo domésticos. Além disso, pouco se avançou em relação ao problema do alto custo do transporte do Sul para os mercados consumidores do Norte e do Nordeste do país. Enquanto não for barateado o transporte entre os portos marítimos, o trigo sulista continuará chegando só até o Sudeste, limitando as perspectivas da agricultura e fazendo com que preços equilibrados sejam sazonais.
O aumento de 9% no plantio no Paraná, maior produtor brasileiro de trigo, é pouco. O potencial da agricultura vai muito além disso, mostram a reportagem sobre a venda de máquinas, que reflete a expansão da produção de milho e soja.
Também nessas cadeias produtivas o Brasil precisa avançar, com investimento em armazenagem. A reportagem de capa denuncia que há falta de espaço e mal aproveitamento da estrutura disponível. Um quadro que mostra a importância do planejamento e da administração casada com as atividades do campo.
Quando contar com mais armazéns, o país terá resolvido também parte do problema de falta de liquidez do trigo. Cultivar o cereal para um mercado ávido ainda não significa garantia de venda na hora da colheita. A safra de ânimo recuperado é também uma oportunidade para reestruturação da cadeia.