A chegada da soja no Chaco paraguaio, documentada nesta edição do caderno Agronegócio, representa mais que a expansão das lavouras do país latino. Prova que a cultura vem ampliando sua área de domínio sob condições inóspitas para outras culturas. Até o amendoim está tendo quebra em áreas onde as lavouras da oleaginosa mostram-se vigorosas neste ano. A reportagem registra, porém, forte quebra climática em áreas de testes, uma amostra de que ainda há um longo caminho a ser percorrido.
Guardadas as particularidades de cada região, a história se repete em três atos. 1) Variedades de sementes com perfil próximo do desejado são testadas numa zona de expansão. 2) As primeiras lavouras apresentam resultados irregulares. 3) Surgem alternativas apontando que, sim, é possível cultivar soja sob condições anteriormente consideradas improváveis. Foi assim no Cerrado brasileiro e no Arenito Caiuá paranaense.
A Argentina vem testando o Grande Chaco há mais tempo e consegue produtividades cada vez melhores. O Chaco paraguaio é uma nova fronteira, onde a soja passa por provas extremas: falta de água, calor de mais de 40 graus. É natural que parte das lavouras nem chegue a ser colhida.
Os pioneiros estão testando não só as sementes, mas também o solo (que é considerado fértil) e o clima (com chuvas escassas concentradas entre janeiro e abril). Não será surpresa se a produtividade passar de 2 mil quilos por hectare na próxima temporada. Apesar de não haver pesquisas sistematizadas, não faltam experiências que sirvam de orientação sobre a melhor época de plantio, a variedade mais adaptada a cada local.
Enquanto se desdobram, os produtores do Chaco lançam um desafio aos pesquisadores. Eles esperam variedades de soja que completem seu ciclo em menos de 100 dias, desenvolvam-se em solos salgados e exijam menos água que as opções atuais. Com terras ainda baratas, estarão satisfeitos se tiverem produtividades próximas das médias de outras regiões.
Os custos são reduzidos e a logística de escoamento do Chaco paraguaio é melhor que a de polos produtivos do Centro-Oeste do Brasil. Para exportação, a soja percorrerá de 450 a 700 quilômetros de asfalto (das fazendas próximas da Rota 9 até Assunção) e 900 quilômetros de hidrovias (até a região de Rosário, na Argentina, de onde os grãos passam de barcaças para navios). Depois, o destino são os países importadores.