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Com seis ministros da Agricultura em dez anos, o agronegócio brasileiro torce para que Antônio Andrade (PMDB), que acaba de assumir o posto, favoreça o avanço planejado do setor. As trocas de comando dão vazão ao argumento de que o país não tem política agrícola. O novo ministro teria a missão de colocar, enfim, o setor nos trilhos, uma expectativa com alto risco de frustração. Isso porque, sob esta ou aquela direção, o país tem sim uma política agrícola, que nunca foi e não será desenhada apenas pelo cabeça do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

Política existe mesmo quando não está no papel. Reflete o modo como operam os agentes de um determinado setor e pode ser descrita mesmo quando é carregada de contradições. Os cientistas políticos conseguem identificar política econômica, agrícola, de exportação... inclusive em ações silenciosas. O discurso sobre as ações, em si, é só um artifício da política. As ações, precoces ou tardias, certeiras ou equivocadas, é que dão direção à política. E não seria diferente na agropecuária.

O plano de expansão da produção de alimentos do Brasil vem sendo esboçado em trabalhos técnicos que projetam o potencial do país e consideram a demanda internacional. O problema é que, para chegar lá sem solavancos, são necessárias estratégias públicas e privadas alinhadas. Porém, o ritmo de expansão da produção segue numa velocidade e os investimentos em infraestrutura, em outra. As medidas governamentais tentam resolver problemas internos e perdem de vista oportunidades no mercado global, que exigem acordos comerciais e incentivos à exportação de determinadas mercadorias, por exemplo.

Esse quadro contraditório é a política agrícola do Brasil, um país que importa trigo e, por entraves logísticos, precisa estimular a comercialização da escassa produção interna com garantia de preço mínimo. A economia e as exportações apoiam-se no agronegócio, mas os investimentos não correspondem à importância que o setor assumiu.

O país tem política agrícola, sim, mas isso não basta. Não é qualquer política que permitirá ao agronegócio explorar seu potencial. Só uma política mais orquestrada e de longo prazo fará com que o país atenda às expectativas globais de ampliação na produção de alimentos.

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