Nas últimas duas décadas, as sementes transgênicas chegaram à agricultura brasileira como a salvação da lavoura. Se por um lado sempre despertaram resistência de ativistas e de parte dos consumidores, por outro (GM) trouxeram alívio ao produtor rural.
Para muitos, seria o fim da luta contra o mato e os insetos que afetam a produção. No entanto, seja pela exagerada expectativa ou pela vulnerabilidade das tecnologias, o que prevalece é um desfile contínuo de alternativas que exigem complemento ou mesmo substituição.
Esse quadro vem à tona com o lançamento da soja Cultivance, a primeira semente GM da oleaginosa com assinatura brasileira. A Embrapa pesquisou a alternativa com a multinacional alemã Basf e teve de esperar aprovação dos mercados consumidores. A tecnologia chega como opção ante problemas que as demais sementes GMs não conseguem resolver.
A reportagem de capa do Agronegócio desta terça-feira mostra que isso deflagra uma nova relação do produtor com a biotecnologia. Não há perspectiva do surgimento de uma única tecnologia capaz de resolver todos os problemas atuais: ataques de insetos, pressão de ervas daninhas, frequência de períodos secos, necessidade de avanço em produtividade... mas nem tudo está perdido. Pelo contrário: quando não uma solução não funciona, recorre-se a outra.
Ponto crucial desse novo panorama é o papel decisivo do produtor. Não como alguém que simplesmente acessa a tecnologia, mas como sujeito que determina o próprio prazo de validade de projetos milionários. A adoção de áreas de refúgio, que preserva a eficiência de uma semente transgênica, faz com que o campo ajude a definir inclusive o futuro da indústria. Por tabela, define também se terá de arcar com novos custos. Uma semente GM chega a custar R$ 350 milhões.
Mesmo decepcionado por ter de continuar buscando soluções em tecnologias relativamente efêmeras, o agricultor não está em condições de abrir mão de nenhuma delas. A preservação do potencial de cada uma passa a ser fundamental para seu próprio negócio.
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