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A próxima safra brasileira de trigo começa a ser planejada e novamente o país tem a chance de reequilibrar o setor. Quem acompanha os preços sabe que a farinha subiu cerca de 30% no último ano, elevando a inflação dos alimentos, um problema econômico que poderia ser evitado – com estabilidade que estimulasse a produção.

A situação não é pior porque, com 1 milhão de hectares, o Rio Grande do Sul colheu uma safra recorde de cerca de 3 milhões de toneladas (60% a mais do que em 2012), evitando novos reajustes. O preço da saca de trigo em grão no mercado gaúcho já caiu de R$ 37 para R$ 35.

Na prática, o trigo gaúcho cobre a falta que o paranaense faz no mercado interno. O estado, tradicional líder no cereal, tinha ampliou a área em 25%, mas teve produção 15% menor por causa das geadas do meio do ano. Colheu cerca de 1,8 milhão de toneladas.

Com 5,36 milhões de toneladas de trigo doméstico, o Brasil ainda precisa importar 6,7 milhões de toneladas para garantir as 12 milhões de toneladas consumidas em um ano. E, diferente de outros períodos, a Argentina (principal fornecedor) não tem força para derrubar os preços no mercado brasileiro.

A safra argentina acaba de ser reajustada de 8,5 milhões para 9 milhões de toneladas, mas o país costuma produzir 15 milhões de t. Deverá exportar entre 3 milhões e 4 milhões de t – menos da metade do volume habitual. Ou seja, o Brasil escapou de uma queda drástica na produção interna, mas tem que pagar mais caro pelo trigo importado, que só deve começar a chegar em janeiro, com um mês de atraso.

Para não enfrentar o mesmo problema em 2014, o Brasil pode estimular a produção interna. O setor produtivo tem deixado claro que não planta mais porque não há uma política capaz de garantir preços mínimos ou evitar que os moinhos, abastecidos, fechem suas portas justo na época da colheita.

Além do risco climático, a triticultura precisa lidar com as contradições do mercado, num país que se mantém dependente das importações de um produto essencial, mesmo sendo competitivo no campo. Não se trata de gastar milhões com prêmios à produção, mas com políticas que equilibrem o setor.

No médio prazo, é necessário resolver o problema do custo do transporte entre os portos marítimos. Como continua sendo mais barato para o Nordeste comprar trigo argentino, o mercado do trigo brasileiro – produzido 90% no Rio Grande do Sul e no Paraná – continua restrito aos estados mais próximos à Região Sul.

Sem mudanças políticas, o país só planta mais trigo por falta de opção. O preço da saca do cereal (60 kg) caiu cerca de 14% de setembro para cá no Paraná, mas continua 15% acima do valor praticado um ano atrás. Com R$ 41 por saca e boa produtividade, os produtores podem até se animar. Sabe-se que o milho, principal opção no pós-soja, segue entre R$ 17 e R$ 20 por saca desde a última colheita de verão, ou seja, 30% abaixo da cotação de dezembro do ano passado.

O Brasil não precisa plantar mais trigo por falta de opção. É competitivo e tem condições de desenvolver um mercado mais equilibrado. Identificadas estratégias eficazes, basta querer.

Comemoração gaúchaCom o encerramento da colheita, o Rio Grande do Sul comemorou na última semana a posição de líder nacional na produção de trigo, tradicionalmente mantida pelo Paraná. Mas informou que o resultado não foi surpresa. “A safra recorde nos anima, mas não nos surpreende. Sabemos que o Rio Grande do Sul tem um potencial enorme de crescimento e condições de obter safras ainda mais expressivas”, disse o diretor técnico da Emater gaúcha, Gervásio Paulus. O estado estima sua produção em 2,9 milhões de toneladas. Para a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), são 3 milhões de toneladas. O Rio Grande do Sul só tinha chegado até 2,7 milhões de toneladas, dois anos atrás. Nos últimos dez anos, o Paraná registrou quatro safras de 3 milhões de toneladas. Quebra maior que em 2013 foi registrada em 2006, conforme a Conab.

Surpresa é a sojaAlém de avançar em todos os estados no verão, a soja surpreende enquanto opção de segunda safra. Numa época em que o milho tem preço 30% abaixo do registrado há um ano, a oleaginosa sustenta cotação quase igual (R$ 65 por saca, em Ponta Grossa). O quadro favorece o cultivo de soja sobre soja, uma prática reduz a produtividade no longo prazo, segundo os agrônomos. A tendência tinha sido apontada em Mato Grosso e foi confirmada na última semana também pelo Departamento de Economia Rural (Deral) do Paraná. A área que será dedicada à oleaginosa a partir de janeiro nas lavouras paranaenses será de 95 mil hectares, ante 80 mil no ano anterior. E não é a primeira vez que isso acontece. Em 2010, a soja de segunda chegou a 105 mil hectares no Paraná.

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