Um ponto fora da curva pode distorcer estatísticas a ponto de obscurecer cenários econômicos. Mas a interpretação dos números a partir da realidade permite desvendar as verdadeiras tendências. É o que ocorre no mercado global da soja desde que os Estados Unidos mostraram ser capazes de produzir com certa facilidade mais de 100 milhões de toneladas do grão ao ano. O fato adiou a liderança do Brasil na produção da oleaginosa. No entanto, a safra recorde da América do Sul mostra que a domínio desse mercado não é norte-americano.
Esse é o pano de fundo da capa desta edição do Agronegócio, com reportagem sobre a safra de verão no Uruguai. Mesmo ante problemas climáticos, o país se supera e, com produção de apenas 3,64 milhões de toneladas, continua figurando como o sexto maior exportador de soja. Parece pouco, mas é decisiva a participação de Uruguai, Bolívia e Paraguai – produtores relativamente pequenos, mas focados no mercado externo –para que a América do Sul estenda sua influência sobre o comércio global da oleaginosa. Com safras recordes no Brasil (94 milhões) e na Argentina (58,5 milhões), a região contribui com mais da metade das exportações.
Considerando os cinco maiores produtores da América do Sul (Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Bolívia), nota-se que a produção de soja sobe da casa de 157 milhões de toneladas, registrada em 2013/14, para a de 166 milhões, em 2014/15, conforme monitoramento da Expedição Safra Gazeta do Povo. E perto de 62,4 milhões de toneladas serão exportados, contra 52,4 milhões da América do Norte, onde a produção é de 114,4 milhões de toneladas em 2014/15, apontam números do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, o USDA.
O aumento na produção é um primeiro passo para o ganho de influência no mercado global. O ritmo das exportações vai determinar a participação sul-americana. As discussões sobre viabilidade avançam, abrem um lastro para crescimento sólido e compatível com a demanda – um trabalho necessário para confirmar a própria vocação da agricultura sul-americana.
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