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Crédito cooperativo

Com clientela fiel, cresce participação de cooperativas no sistema bancário

(Foto: Nattanan Kanchanaprat/Pixabay)

Uma das modalidades de financiamento que mais vem crescendo no Brasil nos últimos anos é o crédito rural cooperativo. De acordo com o Panorama do Sistema Nacional de Crédito Cooperativo, publicado pelo Banco Central nesta semana, a participação das cooperativas na carteira de crédito total do país passou de 3,2% (2017) para 3,8% em 2018, ampliando o "market share" em relação ao setor bancário (leia-se Banco do Brasil).

Por falar nisso, as cooperativas também aumentaram sua participação dentro do segmento no total do Sistema Financeiro Nacional (SFN), de 2,4% para 2,7% no mesmo período. O documento leva em conta os ativos financeiros contabilizados até dezembro do ano passado. Também o crédito concedido por essas instituições entre 2015 e 2018, na modalidade pessoa física, passou de R$ 25,4 bilhões para R$ 39,3 bilhões – um crescimento de quase 55%. Até junho de 2019, o volume de desembolsos já somava R$ 27 bilhões.

Entre os motivos para o crescimento estão a maior capilaridade das cooperativas e a confiança que recebem do produtor rural, que muitas vezes já trabalha em parceria com essas instituições em outras operações agrícolas. Segundo o BC, a quantidade de empresas cooperadas cresceu 18%, enquanto a de pessoas físicas, 8%. Além disso, as cooperativas expandiram sua presença física (em 7%) por meio de postos de atendimento em todo o país.

“Em 2018, o SNCC [crédito cooperativo] continuou em processo de consolidação, com redução de cerca de 4% na quantidade de cooperativas de crédito singulares em atividade: de 967, em dezembro de 2017, para 925, em dezembro de 2018. As incorporações [de cooperativas], principal motivo de redução, totalizaram 36 eventos. Além disso, ocorreram quatro dissoluções de sociedade e duas liquidações extrajudiciais. Nenhuma nova cooperativa de crédito entrou em atividade em 2018”, informa o BC em trecho do relatório.

Apesar do enxugamento no número de cooperativas, o crescimento da carteira de crédito delas foi superior a todos os segmentos de instituições financeiras do SFN nos últimos cinco anos, considerando as modalidades de crédito varejo, mesmo quando comparado aos bancos públicos de desenvolvimento, cujo crescimento das operações de crédito direcionado foi intenso nos anos de 2014 a 2016, segundo o Banco Central. “No crédito rural, as cooperativas contribuíram com R$ 6,3 bilhões para o aumento do estoque da modalidade, montante relevante quando comparado aos R$ 8 bilhões acrescentados pelos grandes bancos públicos comerciais.”

Agro anda na frente

Uma das maiores cooperativas de crédito do país, o Sicredi (com 116 cooperativas integradas em seu sistema) cresceu 25% nos financiamentos da safra 2019/2020 em relação ao ciclo passado. A instituição é a terceira em volume de financiamentos rurais no país, atrás apenas do Banco do Brasil e do Banco do Nordeste, conforme Gilson Nogueira Farias, gerente de Desenvolvimento de Negócios – Créditos – da Central Sicredi PR/SP/RJ. “A gente tem notado ao longo dos últimos anos que apesar da crise o agronegócio anda na frente dos demais setores, o que desperta o interesse de bancos e outras instituições financeiras”, diz. Neste ano, a instituição deve desembolsar R$ 5,1 bilhões a mais em financiamentos somente para os estados de SP, PR e RJ. Até maio, o Sicredi já tinha disponibilizado um total de R$ 16,5 bilhões, R$ 2 bilhões a mais do que na safra 2018/19.

“Está no DNA das cooperativas estar no meio rural. Existe uma relação de confiança de quem entende o negócio do produtor rural e que consegue atender a demanda dele. O produtor sabe que o crédito vai sair para ele”, afirma Farias. Segundo ele, o crédito rural no Brasil é bastante regrado, cheio de normativas, o que faz com que os grandes bancos, por exemplo, não queiram atuar junto aos pequenos produtores, pois trata-se de uma operação trabalhosa e que não oferece retorno financeiro.

“Em termos de dinheiro e processo de análise, o crédito rural é um commodity, ou seja, é padrão. Mas o nosso grau de compromisso com o produtor é maior. Onde outras instituições recuariam, a gente insiste. Esse tipo de comprometimento vai ampliando a rede de relacionamento”, observa Luciano Ribeiro Machado, superintendente Comercial do Sicoob, banco cooperativo que cresce num ritmo de 20% ao ano. Em 2009, a instituição repassou R$ 700 milhões em crédito rural. Neste ano, foram R$ 12 bilhões repassados e R$ 15 de bilhões de volume total da carteira de ativos.

Farias explica como funciona o funding [formação da carteira de recursos] do Sicredi, bastante semelhante a outros bancos cooperativos de crédito rural. Segundo ele, a principal fonte de recursos é a poupança rural, com dinheiro oriundo das aplicações na caderneta – do qual 60% do recurso captado obrigatoriamente é destinado ao crédito rural. Outra fonte é a Letra de Crédito do Agronegócio (LCA), aplicação financeira direcionada em que 50% do recurso é destinado para crédito. “A terceira fonte é um recurso do mercado financeiro, chamado MCR 6-2 (Manual de Crédito Rural), que vem do depósito à vista de pessoas físicas e jurídicas. Esse recurso a cooperativa pega do mercado financeiro nacional, das sobras de caixa dos bancos.”

No caso do Sicoob, o crescimento tem sido sistemático, com expansão especialmente nas regiões produtoras do MT, MS, PA e MA, além de alguns municípios do Sudeste. Outra frente de expansão, segundo Machado, é quando os associados conseguem ampliar seus negócios e com isso os limites de crédito para eles também vão expandindo. “Também houve aumento de recursos para segmentos fora da porteira – cerealistas, cooperativas de produção, trades, prestadores de serviços e revendas de máquinas”, enumera.

Cooperativas "solteiras" também estão crescendo

Além dos bancos cooperativos, como Sicredi e Bancoob (do Sicoob), existem as chamadas cooperativas “solteiras”, ligas às cooperativas agroindustriais e que têm aval para captar poupança para crédito agrícola. É o caso da Credicoamo, ligada à maior cooperativa da América Latina, a Coamo Agroindustrial, que também registra crescimento das operações de crédito. Atualmente, dos R$ 2,7 bilhões em ativos da cooperativa, R$ 1,5 bilhão é destinado ao crédito rural. Ao todo são 19,5 mil cooperados.

""José Aroldo Gallassini, diretor-presidente da Coamo, explica que a cooperativa leva vantagem por já contar com a confiança do cooperado, além de ter um sistema menos burocratizado do que os bancos. (Foto: Michel Willian/Gazeta do Povo)

“Os bancos de modo geral, tirando o Banco do Brasil que é mais estruturado para isso, são pequenos em crédito rural. Isso fez com que nascesse um sistema de crédito através das cooperativas, que têm os mesmos juros que os bancos, que são estabelecidos pelo governo. No nosso caso, a grande vantagem para o agricultor é que o sistema é desburocratizado. Nisso o cooperado sente a diferença. Há uma facilidade maior para obter crédito, o que faz com que a nossa taxa de inadimplência seja muito baixa, de 0,20%”, afirma José Aroldo Gallassini, diretor-presidente da Coamo.

Gallassini explica que 25% do capital da Credicoamo destinado ao crédito rural é oriundo de recursos próprios da cooperativa. O restante é de repasses dos bancos, através do Plano Safra. O grosso dos empréstimos tomados pelos produtores cooperados, segundo ele, são para quitar as contas da própria cooperativa, o que inclui custos com fertilizantes, herbicidas e sementes fornecidos ao produtor. Como o cooperado é “sócio” da própria cooperativa, uma parte do dinheiro acaba voltando para ele.

No geral, de acordo com Gilson Farias, do Sicredi, os empréstimos têm uma gama grande de finalidades, mas entre as principais estão o custeio agropecuário, com a compra de insumos, e nos investimentos de médio e longo prazo, além da modernização de equipamentos e construção de instalações na fazenda.

Evolução dos financiamentos rurais do Sicredi:

Evolução do crédito rural na Credicoamo:

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