A partir de abril, quando o estoque nacional de trigo baixar, o brasileiro vai pagar mais pelo pãozinho. Ainda não é possível saber de quanto será o aumento, mas os produtos derivados do cereal, como pães, massas e biscoitos, serão reajustados em função da quebra nas safras de trigo do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, responsáveis por mais de 90% da produção brasileira. O prejuízo no campo acarreta em desdobramentos para a indústria de panificação, que inevitavelmente irá repassar a alta no custo de produção aos consumidores.
O excesso de chuva na temporada 2015 prejudicou as lavouras de trigo dos três estados do Sul. A pior situação aconteceu no Rio Grande do Sul, onde a quebra na colheita chegou a 1,4 milhão de toneladas. “O estado planejava colher 2,9 milhões (de t), mas conseguiu apenas 1,5 milhão. E a qualidade [do trigo colhido] é muito ruim. Cerca de 1 milhão (de t) é impróprio para consumo humano. Só serve para ração animal”, ressalta Luiz Carlos Pacheco, analista da consultoria Trigo e Farinhas.
No Paraná, a quebra atingiu 700 mil t. A safra final foi de 3,4 milhões de t, segundo a Secretaria Estadual da Agricultura e do Abastecimento (Seab). Em Santa Catarina, as perdas foram de 100 mil toneladas.
Importação
A safra menor expõe ainda mais a dependência nacional do trigo importado. Em abril, quando as indústrias precisarem repor os estoques, o Brasil terá que comprar 3,6 milhões de t no mercado internacional – no total, o setor da panificação consume 11 milhões de t por ano. Com o dólar cotado acima dos R$ 4, o custo de importação será alto.
“Com esse dólar, os produtos derivados do trigo irão aumentar. Mesmo quem tem produto irá cobrar mais. Isso irá chegar até o consumidor”, explica Elcio Bento, analista da consultoria Safras e Mercado.
Para desespero de quem não dispensa o pãozinho no café da manhã, a Argentina, principal fornecedor do Brasil, também registra uma safra ruim. Das 10,3 milhões de t colhidas, 95% só têm qualidade para produzir biscoito e massa inferior. “Impossível usar para pão e massa superior”, afirma Pacheco.
A solução será importar o cereal dos Estados Unidos. Porém, o negócio envolve frete de transporte mais caro e o pagamento do imposto de importação, isento no caso do país vizinho. Atualmente, a tonelada do trigo norte americano que chega no Porto de Santos custa R$ 1,2 mil, contra R$ 980 do produto argentino.
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