Um salto de 10% no faturamento das 223 cooperativas do Paraná acaba de ser confirmado pelo setor em 2015. A receita bruta do cooperativismo passa de R$ 50 bilhões (2014) para R$ 55 bilhões, segundo a Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar). O índice de crescimento é o mesmo do ano passado, apesar do agravamento da crise econômica nacional.
O dado não encobre impacto dos problemas econômicos no setor. Dois anos atrás, a expansão chegou a 20%. Além das dificuldades internas, o setor lida com queda nas cotações de commodities como soja e milho, que resultaria em um ano negativo se não fosse a valorização de 48% do dólar diante do real nos últimos 12 meses.
O balanço completo será divulgado na próxima quinta-feira (3), em Curitiba, no encontro anual do cooperativismo (Teatro Positivo, a partir das 8 horas), com cerca de 1,5 mil pessoas. O presidente do Sistema Ocepar, João Paulo Koslovski, vai apresentar os números a partir da última estimativa de faturamento repassada pelas cooperativas e detalhar a previsão de investimentos para 2016.
“Estamos fechando este ano com crescimento de 10% no faturamento bruto principalmente devido à desvalorização do real”, disse o gerente técnico e econômico da Ocepar, Flávio Turra. O câmbio impediu queda na cotação das commodities agrícolas em real. A soja, por exemplo, segue 10% acima do preço praticado um ano atrás.
Segundo Turra, no entanto, houve aumento nos custos dos insumos e elevação das taxas de juro do crédito rural. Isso tende a limitar o lucro líquido. “Estamos em um momento de economia instável, mas a taxa de câmbio ajudou no aspecto remuneratório e contribuiu para que conseguíssemos continuar em expansão mesmo com os limitadores e quando se espera retração do PIB”, conclui o dirigente.
Investimentos com cautela
Maior cooperativa agroindustrial da América Latina, a Coamo, com sede em Campo Mourão, trabalha com perspectiva de crescimento acima do previsto para o setor, de 17%, o que deve elevar seu faturamento de R$ 8,6 bi para R$ 10 bilhões. “Tivemos um ano melhor que o anterior, quando nossa receita aumentou 6%. Agora devemos fechar com expansão próxima de 17%”, disse o presidente da Coamo, José Aroldo Gallassini.
Segundo ele, embora os resultados tenham sido positivos, a retração econômica passou a apresentar efeitos em segmentos específicos. “Percebemos que alguns produtos finais, como o óleo refinado e a margarina, começam a ter redução de consumo nos supermercados.”
Apesar disso, a cooperativa pretende manter os investimentos previstos para 2016 e 2017, mas com cautela. “Teremos mais cuidado porque são investimentos grandes e dependentes de financiamentos, mas seguiremos investindo no Paraná e em Mato Grosso do Sul”, afirmou Gallassini.
Outras cooperativas também confirmam crescimento acima de 10%. A Integrada, de Londrina, que faturou R$ 1,9 bilhão em 2014, estima crescer cerca de 15% e atingir R$ 2,2 bilhões em arrecadação neste ano.
Segundo o presidente da Integrada, Jorge Hashimoto, o planejamento agora é o de seguir com os investimentos em curso e analisar com mais ponderação as próximas aplicações. “Entre 2013 e 2014 nós investimos R$ 150 milhões em novos projetos, como as duas unidades graneleiras que abrimos em São Paulo. Em 2016, pretendemos realizar somente o essencial e o que já está dentro de nosso planejamento”, afirma. Até 2020, a Integrada espera alcançar a marca de R$ 4 bilhões de faturamento anual.
Cooperativismo
Atualmente, as cooperativas do Paraná possuem 1,08 milhão de cooperados –praticamente 10% da população do estado –e perto de 80 mil empregados. Consideram que, indiretamente, contribuem para sustentação de 2,2 milhões de empregos.
No ano passado, investiram R$ 2,8 bilhões em projetos agroindustriais para continuar a trajetória de expansão e exportaram o equivalente a US$ 2,4 bilhões. “As cooperativas agropecuárias têm uma representação econômica bastante expressiva, e investem ano a ano para manter essa posição”, ressalta Flávio Turra.
O setor tem meta de dobrar o faturamento alcançado em 2014 e atingir o patamar de R$ 100 bilhões nos próximos anos. Não se fala em um prazo específico, mas assume-se que a meta é para menos de uma década.
Batizado de Paraná Cooperativo 100 (PRC 100), o plano prevê a intensificação do processo de agroindustrialização sobre os bens primários produzidos pelas próprias cooperativas e também a busca por mais espaço nos mercados internacionais.
De acordo com o gerente técnico e econômico da Ocepar, as incertezas da economia brasileira não devem afetar os objetivos do PRC 100. “O programa já foi estruturado com base na atual realidade econômica e não deve ser prejudicado pelo baixo crescimento do país”, ressalta Turra.