• Carregando...
Erik Fyrwald é o CEO global da Syngenta
Erik Fyrwald é o CEO global da Syngenta| Foto: Divulgação / Syngenta

O CEO global da Syngenta, gigante de sementes e proteção de cultivos, Erik Fyrwald, diz que não é a agricultura convencional nem a orgânica que darão a melhor resposta à insegurança alimentar no planeta, mas o modelo da agricultura regenerativa que hoje já é praticada no Brasil.

“Estamos diante de uma insegurança alimentar real. Hoje 811 milhões de pessoas não têm o suficiente para comer. E ao mesmo tempo vivemos os efeitos severos da crise climática e da guerra da Ucrânia. Nenhum outro país do mundo tem a habilidade e a responsabilidade de responder como o Brasil. Vocês já avançaram muito, mas precisamos ir um pouco além”, disse o executivo, ao falar para uma plateia de 1.100 representantes do agronegócio reunidos no evento OneAgro, em Campinas.

Para Fyrwald, mesmo as companhias que apostavam no aumento da produção de orgânicos estão percebendo que com a crise dos três C – Covid, Clima e Conflito na Ucrânia – é preciso recorrer à inovação para produzir mais, emitindo menos gases de efeito estufa. “As grandes companhias agora estão falando de agricultura regenerativa, que é o que os produtores brasileiros já fazem em grande parte. É uma agricultura que pratica o plantio direto, que deixa cobertura verde no solo entre as safras, que faz rotação de culturas, que utiliza sementes melhores, químicos melhores, com menos doses e menos aplicações. Essas coisas já acontecem no Brasil e acho que juntos podemos acelerá-las”.

Guerra interfere na produção de alimentos para 200 milhões de pessoas

O executivo da gigante multinacional chinesa (comprada dos suíços em 2016 por US$ 43 bilhões) lembrou que a Ucrânia produzia 9% de todo o trigo mundial, 13% do milho e 50% do girassol. O outro lado da Guerra, a Rússia, atende 40% do mercado de fertilizantes potássicos (junto com a Belarus) e 23% da amônia. Apesar dos esforços para preservar a produção agrícola e os embarques dos fertilizantes em meio à guerra, o estrago já está feito. A previsão, segundo Fyrwald, é de quebra de até 50% na próxima safra ucraniana. Como o país fornece alimentos para 400 milhões de pessoas, haverá um gap de 200 milhões de bocas para alimentar. Do total de grãos distribuídos pelo Programa de Alimentação das Nações Unidas para abastecer 125 milhões de pessoas, metade era adquirida da Ucrânia.

“Temos 713 profissionais da Syngenta que todos os dias saem de seus abrigos e vão a campo ajudar os agricultores a plantar. É preciso reconhecer a bravura dos ucranianos. Mas há um impacto global desta guerra. É responsabilidade de cada um de nós produzir mais, de forma sustentável, para evitar a fome e as revoltas no mundo”. Fyrwald relatou que, em conversas com o alto escalão do governo chinês, também tem ouvido a disposição dos asiáticos de contar cada vez mais com soja e milho brasileiros para garantir sua segurança alimentar.

Presente ao evento, o ministro da Agricultura, Marcos Montes, acrescentou seu próprio testemunho sobre a gravidade da crise, após voltar uma viagem ao Egito, Marrocos e Jordânia, no mês passado. “Estão todos muito preocupados e esperam que o Brasil continue produzindo e aumentando sua produção. Isso está na cabeça de todos os habitantes do planeta, que a gente possa produzir mais alimentos”. Em função deste desafio, Montes acrescentou que o governo está empenhado em construir um plano safra, que será anunciado nos próximos dias, “bem mais robusto do que o que tivemos no ano passado”, e que está sendo chamado de “plano safra mundial”.

Para o ex-ministro do Planejamento, Pedro Parente, “mesmo que a guerra da Ucrânia terminasse amanhã e houvesse um Plano Marshall para recuperar o país, ainda assim haveria consequências permanentes”. “Existe uma preocupação muito grande, quase pavor do Egito, em relação à segurança alimentar. E para alguns países essa segurança significa produzir em casa e ser autossuficiente. A gente vive isso na questão da proteína animal. De repente, fecha-se autorização para uma fábrica exportar. Temos que ter uma habilidade muito grande para evitar que práticas protecionistas possam prejudicar o papel que podemos ter, principalmente nas proteínas animais”, enfatizou Parente, que nos últimos quatro anos foi presidente da BRF, um dos maiores frigoríficos de frangos e suínos do país.

*O jornalista viajou a Campinas a convite da organização do evento OneAgro

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]