A avicultura é um setor em franco crescimento no Brasil. Com uma boa perspectiva de aumento do consumo interno e das exportações de carne de frango, o momento é propício para investir. Entretanto, entrar nesse mercado – dominado pelas cooperativas e pelas grandes empresas – não sai barato. Para se ter um aviário moderno e eficiente, como o mercado exige, é preciso ser um “milionário” – ou pelo menos ter a garantia de um empréstimo desse porte. O setor demanda um gasto alto com a estrutura dos aviários, cada vez mais modernos e com tecnologias de automação.
Tanto investimento visa garantir o melhor resultado na produção, para abastecer um mercado bastante aquecido. A perspectiva é que o consumo de frango no Brasil aumente, já que se trata de uma das carnes mais baratas para o consumidor. “Este ano foi um ano bom para o frango, pois temos disponibilidade de milho para ração, que não está caro [o cereal, juntamente com o farelo de soja, representa 70% dos custos de produção]. E a economia do país também está começando a reagir”, afirma Ariel Antônio Mendes, diretor de Relações Institucionais da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).
No mercado externo, o frango deve voar ainda mais alto. A ABPA estima um crescimento de 5% nas exportações da ave para este ano. Segundo Mendes, a gripe suína africana está derrubando os plantéis de suínos na China, o que deve impulsionar as importações de carne brasileiras, incluindo o frango. “Não haverá carne suína suficiente para abastecer os chineses, o que vai puxar a carne frango também. E o frango não tem restrição religiosa. O nosso maior importador hoje é o Oriente Médio [por motivos religiosos os muçulmanos não consomem carne suína] e a carne de frango hoje é vista ainda como uma carne de fácil preparo e saudável.”
Nesta semana, o Ministério da Agricultura anunciou a habilitação de 6 novas plantas brasileiras para exportação de frango ao mercado chinês. Com isso, sobem para 43 as unidades produtoras habilitadas a exportar para a China. Entre janeiro e agosto, o país asiático importou 348,2 mil toneladas de frango (volume 19% superior ao registrado no mesmo período do ano passado), segundo a ABPA. Além disso, o Brasil é o principal fornecedor de frango para o mercado halal (carne que obedece aos preceitos da lei islâmica para o abate de animais). Somente a Arábia Saudita importa 450 mil toneladas/ano de carne de frango halal brasileira.
Frango grande ou pequeno?
A produção brasileira se concentra basicamente em dois tipos de frangos: o griller, que é uma ave menor com peso de carcaça de 900 gramas a 1,4 kg, e que pode ser abatido em 30 dias, e o frangos maiores e mais pesados, de 3 kg, com abate em 45 dias. A tendência hoje, segundo Mendes, é se construir galpões para 30 mil a 32 mil aves, dependendo do tipo de frango. Os aviários mais modernos, conhecidos como dark houses (galpões escuros), são climatizados, com controle de temperatura, luminosidade, ventilação e exaustão. “Com uma ambiência controlada você tem um melhor desempenho do frango. Ninguém mais constrói galpões abertos”, afirma o diretor da ABPA.
De acordo com Eduardo Leffer, gerente de Fomento Avícola da Coopavel, cooperativa com sede em Cascavel (PR), o investimento na construção de aviários tende a ser menor para quem já atua no setor e quer ampliar a produção. “Quem tem aviários já tem a área cercada, rede elétrica e gerador de energia. Se for fazer mais um aviário, ele vai sair por uns R$ 840 mil. Agora, para começar do zero o custo certamente sobe para mais de R$ 1 milhão.”
Segundo Leffer, cada empresa ou cooperativa monta uma planilha dos custos com os valores de investimento e as taxas de retorno conforme a sua realidade e a da região em que atua para remunerar os seus produtores integrados. No caso do investimento feito na estrutura de um novo aviário, com um padrão moderno de construção, a estrutura se paga em 11 anos. “Depois disso é só fazer a manutenção”, complementa.
Atualmente, a avicultura de corte no Brasil funciona no modelo de integração, pois a produção independente de aves é quase proibitiva, por causa dos altos custos dos insumos, segundo Franke Hobold, diretor geral da Plasson do Brasil, empresa catarinense especializada na construção de aviários. “O custo do transporte para a avicultura é muito elevado, por isso o aviário integrado precisa estar a, no máximo, 150 quilômetros do abatedouro, porque a empresa ou cooperativa precisa mandar os pintinhos, a ração e depois trazer o frango para o abate”, explica.
Além das estruturas para armazenar o plantel de aves, a propriedade precisa estar regularizada e licenciada ambientalmente. Segundo Hobold, hoje em dia ninguém constrói apenas 1 galpão, só quem já tem estrutura funcionando e quer aumentar. Fora isso, o investimento é para 2 ou 4 galpões. Isso ajuda a otimizar os custos na propriedade. As dimensões dessas estruturas costumam ter entre 16 e 18 metros de largura por 150 a 170 metros de comprimento. São aviários totalmente automatizados, de grande porte. Se for incluído na conta os custos de terraplanagem da área, o gasto passa de R$ 1,1 milhão.
Saída é o financiamento
Como nem todo mundo tem R$ 1 milhão no bolso ou na mão para investir de imediato, a saída para a maioria dos produtores é buscar uma linha de financiamento do Plano Safra. “Embora os juros ainda estejam altos [em torno de 8%], essa ainda é a melhor opção”, atesta Hobold. Ele explica que há, por exemplo, a modalidade Moderagro, voltada para quem quer entrar na avicultura começando do zero, com tempo de carência de até 3 anos, e a Inovagro, destinada a quem já é do ramo e precisa ampliar as suas instalações.
De acordo com o empresário, a construção consome 60% do investimento da granja, gastos com a estrutura metálica e telhas isotérmicas do aviário. Os outros 40% são referentes aos equipamentos como comedouro, bebedouro, sistema de climatização, painéis para refrigeração, aquecedor para os pintinhos, sistemas de iluminação com lâmpadas de LED e controladores que permitem acionar os sistemas via iPhone. “Hoje, se compararmos com o passado, um casal sozinho consegue cuidar de quatro aviários, pois eles contam com sistemas de alarme, geradores de energia para o caso de faltar luz e automatização”, observa. Entretanto, no interior do país ainda há muitos aviários antigos, que demandam mais trabalho.
Em relação à criação de galinhas para a produção de ovos, o investimento nos aviários pode ser até maior, segundo o diretor geral da Plasson. “Na postura você tem que trabalhar em cima da cria e recria, produção e ver, por exemplo, se vai alojar as aves em gaiolas, que é o mais comum, ou se vai na linha que é uma tendência hoje de mercado, de criar as galinhas soltas. Isso gera um custo maior também”, observa Hobold.
De acordo com a ABPA, a produção de ovos no Brasil deve avançar 10% neste ano. Em 2018, 44,4 bilhões de unidades foram produzidas. Para 2019, a projeção é concluir o ano com 49 bilhões de unidades. As exportações devem alcançar 12 mil toneladas – 3% acima do desempenho do ano passado.
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