Alvo de polêmica após demitir e reintegrar um pesquisador que questionou o gigantismo, os altos salários e a visão estratégica da empresa, a Embrapa anunciou que irá reduzir de 15 para seis as áreas administrativas de sua sede, em Brasília, a partir desta quinta-feira, 1º de fevereiro. O ajuste envolverá ainda corte de funções gratificadas e alteração de toda a estrutura e processos, mas manterá o mesmo número de empregados (9.579).
Em nota à imprensa, a direção diz que a medida faz parte da maior mudança administrativa da história da estatal, que no final de 2017 já havia reduzido de 46 para 42 as unidades de pesquisa e inovação.
A revisão da governança da Embrapa seria uma resposta à “necessidade de ajustar a empresa às mudanças tecnológicas e sociais e aumentar a eficiência” – segundo o presidente Maurício Antonio Lopes. A redução dos recursos públicos também teria pesado na decisão de reformar a estrutura e a forma de gestão.
Embrapa: modelo 70/30 seria ideal
Maior instituição pública de pesquisa do País, a Embrapa tem o orçamento de R$ 3,5 bilhões ameaçado por um corte estimado em mais de 20% em 2018. No artigo que lhe rendeu demissão sumária no início de janeiro, o pesquisador Zander Navarro criticou, entre outras coisas, o modelo de gestão da empresa, a falta de rumo estratégico e os gastos excessivos com folha de pagamento. Navarro avisou que recorrerá à Justiça para reaver o emprego.
A Embrapa reconhece que despende cerca de 80% dos recursos com salários, quando “o ideal seria a relação 70/30, um padrão mundial”. Mas a restrição orçamentária não estaria permitindo melhorar essa relação.
“O mais importante é incorporar e reter talentos, pagando salários condizentes para um grupo de profissionais altamente qualificados, que permitem à empresa seguir gerando impactos positivos para a sociedade brasileira”, diz Maurício Lopes.
Anteriormente citado pelo jornal Estado de S. Paulo, o presidente da estatal havia confrontado Navarro, afirmando que o comprometimento acima de 80% do orçamento com salários não poderia ser tratado como custo. “Não podemos cair no discurso de que salário em instituição de ciência é custo. O principal pilar da (Embrapa) é o cérebro do pesquisador e temos de desmistificar isso”.
Revisão estratégica
A reestruturação e revisão de processos da sede da empresa irá se estender, num segundo momento, a todas as demais unidades. As medidas, segundo a Embrapa, têm apoio do ministro da Agricultura, Blairo Maggi, e do presidente do Conselho de Administração da Empresa, Eumar Novacki.
Nesta nova fase, a Embrapa quer facilitar o fluxo dos resultados de pesquisa para o mercado e obter recursos privados para financiamento de novos projetos. A ideia é reduzir a dependência de recursos do tesouro por meio de novos financiamentos da pesquisa, e, principalmente, a monetização de ativos tecnológicos gerados pela Empresa.
Para ampliar as parcerias público-privadas, a Embrapa espera aprovação no Congresso Nacional do Projeto de Lei que propõe o estabelecimento da EmbrapaTec, subsidiária que terá mais agilidade na área comercial. Outra alternativa em consideração é a criação de fundos patrimoniais, “mecanismo utilizado com sucesso em muitos países, que poderá no futuro financiar melhorias da infraestrutura e ações estratégicas, sem colocar em risco o patrimônio da Empresa, que pertence à sociedade brasileira”.
A Embrapa custa, anualmente, cerca de R$ 3,5 bilhões aos cofres públicos. Mantém mais de 80 programas de melhoramento genético diferentes, incluindo grãos, pastagens, frutas, hortaliças, mandioca, espécies florestais, pecuária e aquicultura. A estatal tem 9.579 empregados, sendo 2.438 pesquisadores. Eles atuam em equipes e redes desenvolvendo, atualmente, 1.117 projetos de pesquisa. A empresa arrecada anualmente em torno de R$ 128 milhões por meio de parcerias.