No primeiro semestre deste ano, a soja representou 40,7% das exportações do agronegócio brasileiro| Foto: Albari Rosa / Arquivo Gazeta do Povo
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As declarações do vice-presidente mundial da Danone, de que a empresa não compra mais soja do Brasil por questões de sustentabilidade, ainda não foram desmentidas pela centenária fabricante francesa de iogurtes. Duas notas oficiais publicadas pela subsidiária brasileira tentaram atenuar os danos aos negócios, mas não responderam à pergunta: É fato que a Danone na Europa deixou de comprar a soja brasileira?

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Sem desmentido nem esclarecimentos satisfatórios, os comentários do executivo Juergen Esser à agência Reuters seguem causando indignação entre consumidores, agricultores e lideranças do agronegócio. O ex-ministro da Agricultura Antônio Cabrera lançou uma campanha de boicote aos produtos da multinacional francesa, que rapidamente se espalhou pelas redes sociais.

Esser disse à Reuters, na semana passada, que a Danone tem um “rastreamento muito efetivo e podemos assegurar que só utilizamos ingredientes sustentáveis em nossos processos. Não compramos (mais soja do Brasil)”. Segundo ele, a soja sustentável está sendo importada de fornecedores da Ásia, mas não especificou de que países.

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Notas oficiais da Danone evitam tratar diretamente do boicote

Diante da repercussão negativa da fala de Esser no Brasil, contra a qual foram emitidas notas pela Associação dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil) e pelo próprio Ministério da Agricultura, executivos sul-americanos da empresa publicaram duas notas oficiais de esclarecimento.

Na primeira nota, a companhia sublinhou que a informação veiculada não procede. No entanto, ao explicar os motivos, fez alusões sobre políticas corporativas no mercado brasileiro, e não no europeu, que é o foco da polêmica. “A soja brasileira é um insumo essencial na cadeia de fornecimento da companhia no Brasil e continua sendo utilizada, sendo a aquisição da maior parte desse volume intermediada pela Central de Compras da Danone, incluindo processos que verificam sua origem de áreas não desmatadas e rastreabilidade”.

Questionada pela Gazeta do Povo pelo fato de não confirmar nem desmentir as declarações do dirigente francês, apenas falar de suas práticas locais, a Danone enviou uma segunda nota. A primeira tinha sido assinada pelo diretor-geral da empresa no Brasil, Tiago Santos, e pelo vice-presidente de Assuntos Jurídicos e Corporativos no Brasil, Camilo Wittica.

Nova nota da Danone também não responde questão objetiva do boicote

A segunda nota foi assinada pela presidente da Danone para a América Latina, Sílvia Dávila. Mas, novamente, não confirmou nem desmentiu as declarações do executivo europeu. Até houve comentários sobre os procedimentos da companhia para aquisição de soja na Europa, mas a questão do boicote à soja brasileira permaneceu nebulosa.

“Em outras regiões, como na UE, onde produtores de leite obtêm sua ração diretamente de fornecedores de sua escolha, a soja brasileira é um insumo importante para a indústria. A Danone trabalha ativamente com os produtores de leite para garantir que a soja seja proveniente de fontes sustentáveis e verificadas como livres de desmatamento, independentemente da origem geográfica”, escreveu Silvia Dávila.

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A Gazeta do Povo enviou novo pedido de esclarecimento à Danone no Brasil. Para saber, objetivamente, se é verdade que a companhia na Europa não compra mais a soja brasileira.

Falhas no gerenciamento de crise

Para quem estuda casos de falhas de comunicação e gerenciamento de crise, a reação da companhia francesa claramente deixou a desejar.

"Faltou entendimento da Danone sobre os seus públicos de interesse no Brasil, mais especificamente os 'players' do agronegócio. Uma declaração desastrosa como essa pode ter sérias repercussões e prejuízos para a imagem da marca e para sua cadeia de valor. Ademais, nesses casos, é importante que a empresa responda rapidamente e da forma mais clara possível, desmentindo a alegação e apresentando algum tipo de reparação", diz Gabriel Rossi, pesquisador e professor de comunicação e consumo da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM).

O ex-ministro da Agricultura Antônio Cabrera, que lançou a campanha de boicote à marca francesa, diz que a empresa deve esse esclarecimento ao país, após ter maculado a imagem do maior produtor e exportador mundial de soja. E com a falsa alegação, segundo ele, de que nosso grão não é sustentável.

“Em razão desse comportamento desonesto da empresa, nós lançamos uma campanha de boicote aos produtos da Danone. Logo após, a Danone no Brasil e na América Latina emitiram notas dizendo que a soja era importante para eles, mas não houve nenhuma manifestação da matriz europeia”, destaca Cabrera.

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“Devido ao grande estrago que eles fizeram ao agro brasileiro em todo o mundo, era muito importante que a Danone da França se manifestasse. E se a Danone está preocupada com o mercado dela no Brasil, deveria responder a essa simples pergunta: a Danone da Europa vai continuar comprando soja do Brasil? Sim ou não?”

O espaço segue aberto para novos esclarecimentos da Danone.