A diminuição no número de abelhas, borboletas e pássaros, essenciais para a polinização dos cultivos, ameaça parte da produção agrícola mundial, advertiram nesta sexta-feira (26) especialistas que avaliam para a ONU o retrocesso da biodiversidade.
“Um número crescente de polinizadores estão ameaçados de extinção, em nível mundial, devido a vários fatores, muitos deles causados pelo homem, o que coloca em risco os meios de existência de milhares de pessoas e centenas de bilhões de dólares de produção agrícola”, estima este grupo de especialistas internacionais em um comunicado.
A Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços dos Ecossistemas (IPBES, em inglês) chegou a esta inquietante conclusão em seu primeiro relatório, divulgado esta semana em Kuala Lumpur, e em um documento para frear uma espiral prejudicial para a alimentação das populações.
Trata-se da primeira análise de tal magnitude realizada sobre o tema.
Segundo a IPBES, de 5% a 8% da produção agrícola mundial, ou seja, entre 235 e 577 bilhões de dólares, são diretamente dependentes da ação dos polinizadores nas colheitas (cereais, frutas, etc). “Sem os polinizadores, muitos de nós não poderíamos consumir café, chocolate ou maçãs, entre outros alimentos de nossa vida diária”, comentou Simon Potts, vice-presidente do IPBES e professor da Universidade de Reading (Reino Unido).
Existem mais de 20.000 espécies de polinizadores, sejam selvagens, como as borboletas ou o os mamangabas, ou domésticos, como a abelha-europeia (Apis mellifera), que fabrica mel.
De modo geral, ao menos três quartos das colheitas mundiais dependem de polinizadores para o crescimento das plantas, para o rendimento ou a qualidade, indicam estes especialistas.
Diferentemente do trigo ou do arroz, a maioria das frutas e verduras, as oleoginosas e certos cereais - que constituem “fontes importantes de vitaminas e minerais” - dependem da polinização.
Daí a advertência dos cientistas sobre uma “possível alta dos riscos de desnutrição”.
Europa muito afetadaAtualmente, 16% dos polinizadores vertebrados, como pássaros ou morcegos, estão ameaçados de desaparecimento, um número que chega a 30% entre as espécies insulares, afirmam os especialistas.
Para os insetos, os maiores polinizadores, não há avaliação em escala mundial por falta de dados disponíveis. No entanto, “as estimativas locais e regionais indicam ameaças muito elevadas, em particular para as abelhas e as borboletas, às vezes com mais de 40% de espécies de invertebrados ameaçados localmente”, indica o documento.
A América do Norte e a Europa ocidental estão particularmente ameaçadas pela diminuição de polinizadores selvagens.
Na Europa, as populações de abelhas - selvagens e domésticas - e das borboletas estão em queda livre (respectivamente -37% e -31%) e 9% destes animais estão ameaçados de extinção.
Embora existam dados incompletos para América Latina, Ásia e África, os cientistas estimam que as mesmas tendências são registradas nestas regiões.
Este retrocesso tem várias causas. “A diminuição dos polinizadores selvagens deve-se principalmente à mudança na utilização das terras, às práticas de agricultura intensiva e à utilização de pesticidas, às espécies invasivas, aos agentes patogênicos e às mudanças climáticas”, resume Robert Watson, um dos vice-presidentes da IPBES.
O grupo de especialistas, que só emite recomendações, lembra os meios para criar um mundo mais favorável aos polinizadores: uma maior presença de flores selvagens perto das colheitas, redução do uso de pesticidas e melhor controle dos parasitas.
Este primeiro informe foi redigido por 80 especialistas e comentado por centenas de cientistas.
O IPBES está encarregado de fazer relatórios sobre o declínio de espécies animais e vegetais, assim como sobre seus ecossistemas, que constituem a biodiversidade mundial.
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