Na prática, agrotóxico, agroquímico ou fitossanitário é tudo mesma coisa. São defensivos agrícolas, utilizados no controle de pragas e doenças, em maior ou menor escala, a depender das condições mais ou menos favoráveis à sua incidência ou proliferação. As principais variáveis têm a ver com manejo, mas principalmente com o clima. No Brasil, por exemplo, território tropical, seu uso é condição à produção. E como um dos maiores produtores e exportadores de alimentos e commodities agrícolas, o país também é um dos maiores consumidores mundiais desse insumo.
Contudo, a considerar características climáticas do Brasil e sua participação na produção mundial, as estatísticas sobre o uso devem ser relativas e proporcionais. Em países como Estados Unidos e Europa, por exemplo, onde o clima é mais temperado e o controle é mais natural, a necessidade dos produtos químicos é menor. E por conta do residual que esses produtos podem deixar nos alimentos, o controle e fiscalização também precisa ser condição à liberação de seu uso, que deve ser customizado, racional e sem ameaça à saúde e segurança alimentar.
Portanto, a discussão sobre mudar e padronizar a denominação de agrotóxico para produto fitossanitário, objeto de projeto do senador Alvaro Dias, tem sua pertinência. Não que isso vai mudar o conteúdo usado na manipulação ou aplicabilidade de qualquer que seja o defensivo. Na prática, não muda nada. Eles vão continuam sendo usados o quanto for necessário e permitido por lei. Com a padronização, o que se busca é mudar uma percepção negativa da sociedade e do consumidor a partir do impacto e interpretação da palavra agrotóxico. Mas tudo bem. Até porque na cadeia produtiva a palavra já vinha sendo substituída.
O que chama a atenção é de quem parte a iniciativa de mudar a nomenclatura. Qual a relação ou interesse do senador Alvaro Dias com o setor? Não que ele não tenha legitimidade, afinal, é um legislador. Além disso, é representante do estado que é segundo maior produtor agrícola do país. Ainda assim, não é um senador militante da causa agropecuária, para que mais do que pertinência ou legitimidade, tivesse propriedade para liderar, em nome de um grupo ou segmento, tal discussão.
De qualquer forma, o tema é valido. Assim como é válido e necessário o envolvimento do Congresso Nacional. Mas para que o projeto siga à frente e não encontre nenhuma objeção quanto a interesses e interessados, vale o esclarecimento e entendimento sobre o envolvimento dos que estão à frente das mudanças propostas. Uma matéria, reforço, de interesse não apenas do agronegócio, como da sociedade organizada. Uma mudança de conceito, técnica, não ideológica, que tem mais a agregar do que a prejudicar qualquer que seja a percepção sobre agrotóxicos ou produtos fitossanitários. Embora, se for para mudar, por que não facilitar e partir logo para defensivo agrícola?
De olho nos EUA
A partir desta semana, uma nova variável começa a influenciar fundamentos e especulação no mercado internacional de produtos agrícolas. Na quinta-feira (31), o USDA, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, anuncia o primeiro relatório oficial de plantio da safra norte-americana. Qualquer movimento para ampliar ou reduzir o cultivo no maior produtor mundial tem impacto imediato nas cotações das principais commodities, como soja, milho e trigo. O país já iniciou o cultivo de milho, mais ao sul do Corn Belt, o chamado cinturão do milho. Que define as principais regiões produtoras.
A expectativa é de uma nova redução na área de cultivo das oito principais culturas. A se confirmar, será o segundo ano consecutivo de recuo. Isso significa que os Estados Unidos podem ter a menor área de plantio em cinco anos. É como se o agronegócio estivesse em recessão. Isso por conta dos estoques em alta, resultado de várias safras cheias, que têm como efeito a queda nas cotações. Para se ter uma ideia da sensível influência do novo ciclo dos EUA, no último mês a cotação da soja na Bolsa de Chicago saiu de US$ 8,63 (27/02) para US$ 9,10 (25/03) por conta de dificuldades climáticas enfrentadas no início do plantio.
No Brasil, que neste momento tem um mercado mais competitivo do que os Estados Unidos, basicamente pelo efeito do câmbio, a intenção de plantio e o clima no Hemisfério Norte serão decisivos para manutenção do viés de alta no preço de soja e milho. O produtor por aqui vem sendo beneficiado pela valorização do dólar, mesmo com Chicago em baixa. Ocorre que no último mês o câmbio recuou em torno de R$ 0,40 por dólar, o que seria uma ameaça às cotações, não fosse a reação dos preços em Chicago, que em tese compensaram a recuo no dólar. O produtor brasileiro, portanto, precisa ficar de olho não mais ou apenas no câmbio, como também na safra dos EUA.
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