Uma crítica recorrente de ONGs, ambientalistas e esquerdistas à aprovação de novos pesticidas é de que os europeus estariam enviando para cá produtos proibidos no Velho Continente, desovando no Brasil moléculas superadas e perigosas à saúde e ao meio ambiente.
Para especialistas em fitopatologia ouvidos pela Gazeta do Povo, essa narrativa revela desconhecimento dos fatos e desconexão da realidade.
José Otávio Menten, professor da Esalq/USP, lembra que as agriculturas de zonas temperadas e tropicais são diferentes, e, por isso, é natural que haja muitos produtos usados na Europa que não são usados no Brasil, e vice-versa. “O que nós importamos, via de regra, são os produtos técnicos ou ingredientes ativos. São formulados em indústrias e fábricas que nós temos aqui no Brasil. E são fábricas de altíssima qualidade, com limpeza, cuidados com colaboradores e tecnologia de padrões internacionais”, enfatiza Menten.
Segundo o professor do Departamento de Proteção Vegetal da Universidade Estadual de São Paulo (UNESP), Caio Carbonari, as moléculas utilizadas no país passam por análise que está entre as mais criteriosas do mundo, envolvendo avaliações de segurança para consumidores, trabalhadores e ambiente. São tecnologias que, devido à burocracia dos órgãos regulamentadores, acabam demorando oito anos em média para serem aprovadas no Brasil, contra dois a três anos em países concorrentes. Agilizar esse processo é um dos pontos do PL dos Defensivos Agrícolas, em análise no Senado, e chamado de “pacote do veneno” pela esquerda.
Brasil demora para aprovar produtos já usados em outros países
Carbonari assegura que a realidade é justamente o inverso do afirmado por ONGs e ambientalistas. “O Brasil não usa produtos que são proibidos no mundo. Muito pelo contrário, temos produtos que eram muito importantes para nossa agricultura, que foram proibidos e saíram de nosso mercado, mas continuam em uso em muitas partes do mundo”, destaca, citando como exemplo o herbicida Paraquat, proibido aqui em 2020, mas que segue sendo usado na Argentina e nos Estados Unidos.
Outra confusão que se faz, por ignorância ou má-fé, é afirmar que o Brasil seria o maior consumidor mundial de agrotóxicos. Menten observa que o Brasil é o maior mercado, devido à sua grande área cultivada e pelo fato de produzir duas a três safras ao ano na mesma área, contra apenas uma da maioria dos competidores. “O indicador correto é a quantidade que foi utilizada por unidade de área ou a quantidade utilizada para cada tonelada de alimento. Não somos os maiores consumidores, ainda que o problema das pragas nos países tropicais seja mais importante do que nos países de clima temperado”, explica.
Reforma tributária promete simplificar impostos, mas Congresso tem nós a desatar
Índia cresce mais que a China: será a nova locomotiva do mundo?
Lula quer resgatar velha Petrobras para tocar projetos de interesse do governo
O que esperar do futuro da Petrobras nas mãos da nova presidente; ouça o podcast