Até onde o boi brasileiro vai em sua marcha de valorização ninguém sabe, mas que ele não para e segue em alta no segundo semestre o setor tem certeza. A principal feira das raças zebuínas – que respondem por dois terços do rebanho bovino brasileiro –, mostrou, na última semana, tendência de a arroba ultrapassar a barreira de R$ 150 e chegar a R$ 160, um novo número que mobiliza a cadeia produtiva, força mudanças no consumo interno e redimensiona as exportações.
As discussões da 81.ª Expozebu, realizada em Uberaba, no Triângulo Mineiro, apontam que baixas serão breves e temporárias. A expectativa é que o preço ao criador bata recorde atrás de recorde. E que a marca de R$ 150/arroba seja rompida no mercado físico em agosto.
A crise econômica brasileira interrompe o crescimento e até limita o consumo interno, mas a bovinocultura prevê que os Estados Unidos anunciem, em agosto, liberação à carne brasileira, o que representará um passaporte para Canadá, Chile, México e outros países da América Central. Conforme o presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), a questão é que o padrão brasileiro vai ganhar nova aceitação. Os Estados Unidos, em si, que importam 1 milhão de toneladas ao ano, devem comprar pouco e teriam interesse por carne magra, da parte dianteira.
O Brasil tende a registrar recuo pouco significativo no consumo interno de 40 quilos de carne vermelha por pessoa ao ano, por causa da crise, afirma o presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), Luiz Claudio Paranhos. “O que vai balizar o preço da arroba é o mercado externo”, assegura.
“Se a gente a gente começar a exportar muito, a arroba pode chegar a R$ 160 a R$ 165. Se a gente continuar no mesmo patamar do ano passado, pode chegar a R$ 156”, afirma Paranhos, considerando os preços do mercado futuro.
O preço mínimo da arroba de boi gordo para agosto era de R$ 152,50 ontem na BMF&Bovespa. Nos contratos de outubro, o piso chegava a R$ 153,96. O bezerro bate em R$ 1,5 mil, numa resposta aos apelos do mercado por aumento na produção, mas de resultado no longo prazo, esperado para daqui cinco anos.
Isso significa que cortes como a picanha devem passar de R$ 70 por quilo ao consumidor em 2015. Para quatro pessoas, essa opção deve ter custo de R$ 100 no açougue.
Se os Estados Unidos e novos mercados correlatos estimulam a demanda no segundo semestre, o crescimento do consumo global estimula os preços no longo prazo. Mas a cadeia produtiva não prevê aumento no rebanho nacional muito além das 210 milhões de cabeças atuais, mesmo que o país, maior exportador do alimento, eleve sua participação de 25% para 44,5% do mercado global em menos de uma década.
“Se hoje a gente exporta de 1,8 milhões a 2 milhões de toneladas, vamos exportar 4 milhões de toneladas para atender a demanda mundial daqui a cinco anos. Ao invés de produzir 10 milhões, vamos ter que produzir 12 ou 13 milhões para não desabastecer o mercado interno”, afirma Paranhos. Para que isso ocorra sem aumento no rebanho, o setor investe em genética, manejo, logística, aponta.