Carlos Pereira Alves, agricultor em Tupãssi, teve aumento de produtividade em 35% com a agricultura de precisão| Foto: /

Mais de 500 propriedades do município de Tupãssi tiveram crescimento de cerca de 20% na produtividade das safras de milho e soja. Alguns produtores chegaram a aumentar sua colheita de 57 para 78 sacas de soja por hectare. O incremento está sendo possível com a incorporação de tecnologia de ponta a partir do projeto Agricultura de Precisão. No programa há dois anos, o agricultor Carlos Pereira Alves, que tem uma propriedade de seis hectares e cultiva soja e milho há dez anos, conta que o rendimento da sua lavoura aumentou 35% após o mapeamento e correção de solo. ”Hoje chego a produzir 144 sacas de milho por hectare. Eu não acreditava que seria possível, mas apostei no trabalho. Agora meu lucro é maior, o que melhorou muito a qualidade de vida da minha família.”

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O projeto é pioneiro no estado e conta com apoio da Associação dos Agricultores de Tupãssi (Agritu) e da prefeitura, que auxilia no financiamento do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). Segundo Enio Bragagnolo, engenheiro agrônomo da Emater, o trabalho é um exemplo de incremento sustentável da produção. “Além de gerar mais renda, estamos fazendo a inclusão social dos pequenos agricultores em uma tecnologia moderna e que ainda contribui para a conservação ambiental dos solos e da água, por meio do uso correto dos insumos”, explica.

Resgate da cidadania trabalha a inclusão da mulher no ambiente produtivo

Um dos aspectos fundamentais para o desenvolvimento sustentável promovido pela Emater é a inclusão social e a diminuição da pobreza. São compromissos do instituto que também fazem parte da agenda da COP 21, conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) para o meio ambiente.

Na região do Vale do Ribeira, por exemplo, que abrange sete municípios, cerca de 600 famílias são assistidas em projetos de valorização das mulheres e de incremento na produção e na renda das propriedades. São pessoas que têm uma carência muito grande em muitos aspectos. “E nosso trabalho busca valorizar esses produtores e levar melhores condições de vida por meio da geração de renda”, conta Ana Miriam Araújo Kriek, extensionista social da região.

Com incentivos do governo federal por meio de programas como o Brasil Sem Miséria, comunidades carentes de Doutor Ulisses, Adri¬anópolis, Cerro Azul, Tunas do Paraná, Itaperuçu, Rio Branco do Sul e Bocaiúva do Sul conseguem desenvolver projetos próprios, como a criação de pequenos animais, implantação de hortas caseiras e a transformação de alimentos nas cozinhas comunitárias.

Tudo isso contribui na melhoria da alimentação e das condições de vida dessas famílias, que também recebem o auxílio dos extensionistas na questão da venda de excedentes, e na organização das propriedades, com a emissão de documentos e o acesso aos mercados institucionais.

Segundo Miriam, os resultados das ações de inclusão articuladas pela extensão rural são visíveis. “Os produtores se sentem mais valorizados e confiantes, conseguem reformar a casa e oferecer mais qualidade de vida para suas famílias”, conta.

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“A parceria com a associação e a prefeitura da cidade permite incluir a agricultura familiar em processos tecnológicos caros por meio de subsídios para melhorar a produtividade e a qualidade de vida dos agricultores, além de contribuir para a conservação do solo. É algo que concilia aspectos econômicos, sociais e ambientais”, explica.

A agricultura de precisão se baseia no georreferenciamento das propriedades e na análise de solos para aplicar as melhores técnicas de correção de fertilidade, com o uso adequado de insumos como cálcio, magnésio, enxofre e potássio, levando a uma maior produtividade. Aliar práticas ecologicamente corretas, socialmente inclusivas e que gerem bons resultados econômicos é um dos compromissos sustentáveis estabelecidos pela COP21, e premissa do trabalho da Emater junto aos pequenos agricultores paranaenses.

Recursos naturais

Historicamente, o uso inadequado de tecnologias e antigos modelos de produção geraram um declínio acentuado na fertilidade e nas características físico-químicas do solo. Por meio de sistemas integrados e práticas de manejo, é possível recuperar áreas degradadas e preservar a vegetação existente. Atualmente, 400 mil hectares anteriormente ocupados por pastagens degradadas já foram recuperados. “A extensão rural também precisa atuar no manejo dos recursos naturais. Existe tecnologia para fazer a recuperação ambiental das propriedades. Esta é a atuação principal de articulação, fazer com que isso chegue até o pequeno produtor”, aponta Amauri Ferreira Pinto, engenheiro agrônomo e coordenador estadual de Produção Florestal da Emater.

A disponibilidade de água doce é uma preocupação ambiental e um dos focos de ações sustentáveis do instituto. Na região de Mandaguaçu (Norte), um trabalho intenso de conscientização, educação e capacitação dos pequenos produtores visa preservar as fontes naturais de água das propriedades, por meio da implantação de técnicas simples e baratas com o uso de cimento e pedras. “O trabalho é fundamental para a saúde das pessoas que consomem essa água, na garantia da produção de alimentos saudáveis”, diz Joana de Brito, pedagoga e extensionista social da Emater na região.

Energia limpa, de baixo custo e renovável

“Nosso trabalho busca valorizar esses produtores e levar melhores condições de vida por meio da geração de renda”

Ana Miriam Araújo Kriek Extensionista social
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Outro exemplo de inclusão tecnológica na agricultura familiar que gera preservação ambiental é o Condomínio de Agroenergia para Agricultura Familiar Sanga Ajuricaba, em Marechal Cândido Rondon. O projeto é desenvolvido pela Emater junto com a Itaipu. O objetivo é proteger os mananciais de água e auxiliar os pequenos produtores a minimizar os impactos ambientais provocados pelos dejetos da pecuária. Outra contrapartida é a redução nos custos de manutenção da propriedade.

Elisabet Vargas utiliza o biogás produzido em sua propriedade para fins domésticos 

Ao todo, 28 propriedades possuem o biodigestor, que produz gás natural por meio da decomposição das fezes dos bovinos, e uma lagoa de processamento, que produz biofertilizante a partir do material residual. Duas redes de tubulação, que somam 25 quilômetros, levam o biogás das propriedades até uma microcentral termoelétrica no município. “O ponto principal é investir em uma solução ecológica, reduzir a emissão de gases e poluentes e minimizar o impacto da produção rural”, explica Sérgio Schuch, engenheiro agrônomo coordenador de projetos da regional de Toledo da Emater, no Oeste do Paraná.

Elisabet Vargas, que há nove anos cria gado e produz cerca de 250 litros de leite por dia, considera o biodigestor, em funcionamento desde 2009, uma grande evolução. “Desde que esse processo começou, eu não comprei mais nenhum botijão de gás e nem precisei mais comprar fertilizantes, o que diminuiu muito meu custo. Além disso, o gado tem pasto à vontade, não vai mais poluente para o rio e o processo se modernizou. Os extensionistas nos auxiliam em todo o passo a passo, com cursos e capacitações para que tudo funcione da melhor maneira”, afirma.

É possível que, futuramente, os agricultores possam também utilizar o biogás que produzem para a movimentação de safra e no maquinário agrícola”, prevê o superintendente de Energias Renováveis da Itaipu, Cícero Bley.

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