Eles ficam do outro lado do mundo, mas estão bem mais próximos do Brasil do que se imagina. Entre o Oriente Médio e o sudoeste asiático, uma lista de dez países devem (ou pelo menos deveriam) ser a menina dos olhos do agronegócio brasileiro: o crescimento em exportações brasileiras para essas nações equivale ao apetite chinês pelo Brasil.
A avaliação é do doutor Marcos Fava Neves, estrategista em planejamento estratégico do agronegócio. A lista de países é a seguinte: Hong Kong. Irã. Egito, Coreia do Sul, Emirados Árabes, Índia, Bangladesh, Vietnã, Tailândia e Indonésia.
Professor da USP de Ribeirão Preto e da FGV em São Paulo, Fava Neves informa que a China importava US$ 500 milhões do agro brasileiro em 2000 e, em 2017, comprou US$ 26,5 bilhões. Segundo o especialista, cada um desses dez países importava “quase nada”: US$ 100 milhões do agro. Agora são US$ 2 bilhões cada, em média.
“Eu costumo dizer que esses países compõem a segunda China”, afirma o especialista. “Além dos negócios, eles tem uma característica comum com os chineses e que é para onde o Brasil deveria olhar: tem populações grandes, crescentes e em processo de crescimento econômico e urbanização”, avalia.
Conforme dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic), considerando todos os produtos exportados (somando agro e outros segmentos), em 2000, o Brasil exportou US$ 1 bilhão à China. Em 2018, já foram US$ 58,7 bilhões.
Já os 10 países elencados compraram, juntos, US$ 2,53 bilhões do Brasil em 2000 - média de US$ 253 milhões cada. Em 2017, somaram US$ 24,8 bilhões no total, ou seja, cada país compra em média o que compravam juntos do Brasil há 18 anos.
Brasil: segundo maior exportador de alimentos
O professor destaca outro quesito: em sua maioria, são nações com menos chances de crescer a produção agrícola e dependem, cada vez mais, da importação de alimentos. Ou seja, uma porta aberta, considerando que o Brasil é o segundo maior exportador de alimentos do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO).
“O Brasil é vendedor de comida com contingente de miseráveis enorme, que precisa se desenvolver. Precisamos vender alimentos de todos os tipos, desde o boi em pé até a carne embalada, o grão e farelo de soja. É esse discurso que precisamos e só o agro tem essa capacidade de inserção mundial”, afirma.
Para conquistar esses mercados, o analista avalia como positiva a proximidade do Brasil com Israel, mas deve evitar mudanças não prioritárias: “Se a mudança de embaixada [de Tel Aviv para Jerusalém] for trazer restrições dos mercados árabes, é questão de esperar para não criar conflitos. O afastamento dos Estados Unidos por outros governos brasileiros foi muito nocivo, agora precisamos de uma aproximação tanto dos americanos quanto dos chineses”, Por isso, o Brasil deve “ser amigo de todos”, nas palavras de Fava Neves.