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safra de verão

Entrou muita água no feijão paranaense

Paraná cultiva 200  mil hectares de feijão primeira safra | Antônio More/Gazeta do Povo
Paraná cultiva 200 mil hectares de feijão primeira safra (Foto: Antônio More/Gazeta do Povo)

A sequência de dias chuvosos por todo o Paraná, que atravessou o Natal e o Ano Novo, não fez bem à primeira safra de feijão no estado. Na principal região produtora, nos Campos Gerais, cerca de 25% das lavouras estão atualmente em condições ruins, justamente no momento crítico de maturação e colheita dos grãos.

Cautelosa, a Secretaria da Agricultura e Abastecimento (Seab) diz que apenas agora, com solo mais seco, irá a campo para ouvir produtores, cooperativas e assistência técnica e avaliar a extensão das perdas em termos de produtividade e qualidade do produto. Mas o próprio relatório semanal do Departamento de Economia Rural, da Seab, adianta que o índice de lavouras em más condições chega a 30% em Campo Mourão e Pato Branco, e 25% na região de Ponta Grossa. O Paraná é o principal produtor de feijão no país e responde por 22,5% da produção nacional, segundo o IBGE.

“Como o feijão tem um mercado extremamente especulativo, qualquer notícia que for dada agora quanto à extensão das perdas de produtividade e qualidade pode prejudicar tanto o produtor como o consumidor. Nos próximos dias estaremos fazendo essa avaliação”, afirma Francisco Simioni, diretor do Deral.

O mercado, no entanto, já reagiu aos estragos da chuva, com os preços ao produtor subindo até 30% em relação aos valores praticados antes do Natal e chegando a R$ 110 a saca de 60 kg do feijão carioca, em Ponta Grossa.

Cobertor curto

Na avaliação de Marcelo Lüders, do Instituto Brasileiro do Feijão (Ibrafe), a alta do feijão carioca – que domina 65% do mercado brasileiro – só deve ser percebida pelo consumidor a partir dos meses de fevereiro e março, quando a oferta da safra nova já não for tão grande. “A entressafra será em abril e maio. Quando ocorre uma perda como essa, o cobertor fica mais curto, e o volume acaba não sendo suficiente para cobrir toda a demanda”, pondera.

Por outro lado, diz Lüders, a recuperação atual dos preços ocorre ainda sobre uma base muito baixa, próxima ao mínimo estabelecido pelo governo, de R$ 82,96 para o feijão carioca e R$ 76,50 para o feijão preto. “O Ministério da Agricultura, inclusive, já sabia do problema dos preços baixos e ia solicitar recursos ao Ministério da Fazenda para garantir os preços mínimos. Mas agora não será necessário, diante desta situação de perdas por causa do clima”, aponta Lüders.

Uma prática comum da colheita, no Paraná, é cortar o pé de feijão e deixar os grãos secarem alguns dias ao sol, antes de fazer a debulha. Em várias propriedades, foi nesse momento que a chuva dos últimos dias se abateu, impedindo o recolhimento dos grãos, que acabam germinando ou ficando “chuvados” (com excesso de umidade). “O que preocupa, é que o pessoal do clima está apontando algo como 20 dias de chuva durante o mês de janeiro, o que seria terrível para a produção paranaense, porque cerca de 70% será colhido entre janeiro e fevereiro. Se continuar a chover, daí sim a situação poderá ser muito grave”, conclui o diretor do Ibrafe.

O excesso de chuva trouxe também algum atraso ao desenvolvimento das principais culturas da safra de verão no Paraná, milho e soja, que mesmo assim encontram-se 88% e 86% em boas condições, respectivamente. Não houve estragos que não possam ser recuperados, segundo Simioni, do Deral. “A chuva forte provocou erosão e lixiviação da adubação em algumas áreas, arrebentou curva de nível e fez sulcos na plantação. Mas dentro de uma normalidade de clima, seguindo as orientações da assistência técnica e fazendo os tratos culturais, os produtores podem recuperar tranquilamente essas lavouras”.

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