A cadeia leiteira dos Campos Gerais do Paraná prova que para produzir com qualidade e escala não é preciso recorrer a enormes pastos lotados de vacas. Apostando em tecnologia de ponta e práticas pioneiras de manejo, a atividade conquista eficiência da ordenha aos laticínios. O desempenho se traduz em produtividades que superam com folga a média nacional, estabelecendo um círculo virtuoso que coloca as fazendas da região na vanguarda nacional da produção.
230 milhões de litros
de leite são produzidos anualmente pelo rebanho de Castro. Somada a produção de Carambeí (130 milhões de litros/ano), região é responsável por quase 10% da produção do Paraná (4,35 bilhões de litros/ano), mostram dados do IBGE.
O resultado é comprovado pelos números. Os dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2013, apontam que as vacas de Castro e Carambeí registram as melhores produtividades do país. São 7,1 mil e 5,8 mil litros por animal ao ano, respectivamente. No contraponto, as duas cidades não aparecem nem entre as 50 primeiras no ranking de tamanho do rebanho.
Na comparação com a média nacional (1,4 mil litros de leite/animal/ano), uma vaca castrense produz cinco vezes mais do que no resto do país. Para o diretor-geral da Embrapa Gado de Leite, Paulo do Carmo Martins, há um conjunto de fatores que fazem da região um ponto fora da curva em termos de rendimento. “O ambiente de produção é muito organizado, garantindo eficiência em pequenas propriedades. Além disso, a região possui animais e genética de ponta, e já erradicou doenças que ainda existem no Brasil, como a brucelose e a tuberculose”, pontua.
R$ 361 milhões
foi o Valor Bruto da Produção leiteira de Castro (R$ 234,2 mi) e Carambeí (R$ 127,4 mi) em 2014. Leite tem peso superior ao da soja na economia da região, com 22% da participação na renda dos dois municípios, ante 18,5% de contribuição da soja (R$ 305 milhões na soma de ambos).
Isso ajuda a explicar porque os Campos Gerais viram berço de novas tecnologias e estratégias de produção. Um dos principais exemplos é a ordenha robotizada, que chegou há três anos na região importando tecnologia inédita da Europa. Responsável pela novidade, o pecuarista Armando Rabbers só aponta vantagens. “O gasto com pessoal foi reduzido. Além disso, o bem-estar dos colaboradores aumentou, pois não precisam levantar de madrugada para fazer ordenha, entre outras tarefas”, revela ele, que é cooperado da Castrolanda.
Controlado por um software, o sistema ajudou a impulsionar a produção de leite, hoje na casa de 36 litros ao dia por animal em lactação, contra os 24 litros do processo anterior. As máquinas, que custaram R$ 2,9 milhões (incluindo gastos com fundação e estrutura), funcionam dia e noite e recebem 15 animais por hora. Com 135 animais e dois robôs, Rabbers já traça novos planos. O projeto é, no longo prazo, chegar a sete robôs, o que permitiria confinar 500 animais em ordenha. “Quero ver se adquiro mais dois robôs dentro de cinco anos”, diz.
Foco na escala
Na mesma região, o carrossel de ordenha surge como outra novidade. Implementado na fazenda MelkStad, em Carambeí, o sistema importou tecnologia dos Estados Unidos e reduziu a necessidade de mão de obra e áreas de pastos. Em 18 hectares há 600 vacas, que são manejadas por 17 trabalhadores, detalha um dos sócios do negócio, Diogo Vriesman, cooperado da Frísia. A ordenha ficou mais ágil e permitiu que fosse atingida a produtividade diária de 33 litros por vaca.
O modelo de negócio também é inovador. A fazenda opera em regime de condomínio, com seis sócios investindo coletivamente em toda a estrutura de produção. “Percebemos que para sobreviver na atividade é preciso ganhar escala, então decidimos investir em grupo para diluir o risco”, detalha Vriesman.
Para Martins, da Embrapa Gado de Leite, as inovações em toda a cadeia produtiva têm peso decisivo na rentabilidade e na viabilidade eda atividade. “O leite reage a ganhos de escala de produção, porque o custo fixo é muito alto e não há muita margem para cortes”, aponta. O quadro é favorável tanto para produtores quanto para consumidores. “Com a tecnologia cria-se um ciclo de redução de custos e aumento na qualidade que ajuda a manter a atividade viável”, complementa.
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