Há tempo de plantar e de colher, mas antes de tudo: de pesquisar. É o que centros de pesquisa ligados a cooperativas paranaenses fazem. Os pesquisadores espalhados em laboratórios e campos de testes orientam os agrônomos, que fazem a ponte com os agricultores sobre quais os melhores insumos, as culturas mais propícias e as áreas mais adequadas para cada safra.
O produtor que hoje é bombardeado por lançamentos da indústria de insumos agrícolas encontra nos centros de pesquisa uma orientação profissional sobre que rumo tomar. Há 30 anos, a serem completados em outubro, era criada a Fundação ABC, que hoje atende 3.090 associados da Capal, Batavo e Castrolanda, na região dos imigrantes holandeses que se estabeleceram nos Campos Gerais do Paraná. Mais nova, com 20 anos, a Fundação de Pesquisa Agropecuária (Fapa), no distrito de Entre Rios, em Guarapuava, na mesma região, norteia a produção dos descendentes de alemães e os demais cooperados da Agrária, um grupo de aproximadamente 500 agropecuaristas.
O diretor-administrativo da Fapa, Leandro Bren, lembra que o setor de pesquisa da Agrária nasceu com a fundação da cooperativa no Paraná, em 1951, porém a Fapa surgiu em 1994. O foco, segundo ele, é a melhoria de resultados aos produtores e às indústrias da cooperativa, como a maltaria e o moinho de trigo.
No ano passado, a produtividade média dos cooperados da Agrária que plantaram milho de verão foi de 12 mil quilos por hectare, enquanto que a média paranaense foi de 8 mil kg/ha segundo indicador da Expedição Safra Gazeta do Povo. “Batemos recorde no milho”, sustenta Bren. Outro índice positivo veio da soja. Com as orientações da Fapa, os produtores colheram, em média, 3,5 mil quilos de soja por hectare, enquanto que a Expedição Safra identificou uma média paranaense de 3,05 mil kg/ha.
Os resultados, de acordo com Bren, se devem às tecnologias de produção estudadas na Fapa e repassadas aos cooperados. O instituto tem oito áreas de pesquisas que incluem, por exemplo, fertilidade e fitopatologia, e 220 hectares de áreas de plantio para pesquisas. “O agrônomo informa ao produtor quais as melhores tecnologias para termos uma evolução nas culturas”, comenta. Em termos de qualidade de grãos e cereais, Bren acrescenta que a Fapa segue a legislação brasileira e a europeia, que é mais rígida. A Fapa tem ainda registro no Ministério da Agricultura para emitir laudos visando a certificação de produtos de terceiros.
Os centros de pesquisa são custeados pelas próprias cooperativas e, por isso, a assessoria técnica e as pesquisas não são diretamente cobradas dos cooperados. O custo da Fapa é de R$ 6 milhões anuais. Parte dos recursos vem da venda de produtos e das feiras comerciais.
ABC funciona como “filtro” tecnológico
A Fundação ABC, localizada em Castro, possui 11 laboratórios e 344,29 hectares de áreas de campos experimentais. Com um orçamento de R$ 23,9 milhões no ano passado, o centro desenvolveu pesquisas em 12 áreas, dando suporte, inclusive, a uma das maiores bacias leiteiras do país.
“Hoje a Fundação ABC serve de filtro às tecnologias geradas na indústria. Como ela é ligada às cooperativas e não é privada, não tem um viés comercial, por isso, trabalha 100% em prol do agropecuarista”, comenta o cooperado da Castrolanda, Willem Bouwman. Ele procura a orientação dos pesquisadores antes de cultivar as culturas de milho, soja, feijão, trigo, aveia e batata na região dos Campos Gerais.
A Capal, com sede em Arapoti, tem cooperados em cinco unidades espalhadas no Paraná e em São Paulo. Como são áreas diferentes em clima e solo, o papel da Fundação ABC é crucial para uma boa evolução das safras. “Nós usamos bastante a Fundação ABC frente às diferenças que existem entre os nossos cooperados, como altitude, solo e épocas de plantio. O que vai bem em Wenceslau Braz não vai bem em Arapoti, por exemplo”, completa o gerente-técnico da Capal, Femmo Geert Salomons.
Embora as médias de produtividade ainda variem bastante nos Campos Gerais, os produtores orientados pela ABC alcançam marcas parecidas com as dos cooperados da Agrária, em Guarapuava, com médias acima de 12 mil quilos e milho e de 4 mil quilos de soja por hectare todo verão.
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