A constante busca por produtividade na pecuária leiteira fomenta um mercado cada vez maior e ainda promissor: o de genética. Somente no ano passado, o comércio de doses de sêmen – que serve como termômetro do setor – cresceu 13,8% no Paraná e 9,5% em todo o Brasil na comparação com 2012, somando 761 mil e 5,36 milhões de doses, respectivamente. Os dados são da Associação Brasileira de Inseminação Artificial (Asbia) e contemplam aproximadamente 90% das operações.
E o país ainda importa muito material, o que indica que existe um vasto espaço para o desenvolvimento desse mercado, principalmente em regiões que são referência em produção de leite por animal. As importações de sêmen de touros holandeses – raça que predomina na pecuária leiteira – somaram 2,9 milhões de doses em 2013. E foram comercializadas apenas 200 mil doses de origem nacional, dois anos depois de o setor ter atingido o pico de 311 mil doses. Considerando todas as raças, as importações somaram 3,7 milhões de doses – 70% do total.
O desempenho da produção de leite está diretamente ligado ao mercado genético. A média de 4.585 litros de leite por vaca ao ano atingida no Centro-Oriental do Paraná (região que abrange a bacia leiteria dos Campos Gerais) é a maior do Brasil, aponta o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
As fazendas dessa região são grandes importadoras de sêmen de gado holandês, raça aperfeiçoada há quatro séculos na Europa. À medida que se tornam parte dessa rede de seleção genética, passam à condição de fornecedor. “Tem fazenda mineira, por exemplo, comprando lotes que vão de 200 a 500 embriões por vez. A evolução na produção e no comércio de genética nos Campos Gerais tem sido muito grande”, aponta o superintendente da Associação Paranaense de Criadores de Bovinos da Raça Holandesa (APCBRH), Altair Valloto.
Embriões
Um embrião é negociado, em média, por R$ 1 mil, mas quando trata-se de animais de genética superior e campeões de torneios leiteiros, o valor aumenta. “Ofereceram R$ 200 mil para o produtor dono da vencedora da Agroleite em 2013 e ele não quis vender. Por quê? Ele vende cada embrião de um animal desses por mais de R$ 15 mil”, revela Valloto.
O veterinário da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento (Seab) Fábio Mezzadri avalia que parte do rebanho paranaense tem desempenho de primeiro mundo. “É por isso que os outros estados vêm pegar esse material genético aqui”, explica.
77% das importações de sêmen bovino correspondem a material da raça holandesa, selecionada há quatro séculos na Europa. Em outras raças, como gir e girolando, o Brasil é exportador.
Investimento impacta na produtividade
Os investimentos genéticos dos pecuaristas paranaenses se transformaram em ganhos efetivos na produção de leite dos rebanhos. Enquanto a produtividade média anual por vaca do estado evoluiu 47% entre 2002 e 2012, o crescimento nacional registrado no período foi de 23%.
Os dados foram compilados pela Secretaria da Agricultura e do Abastecimento (Seab), a partir de levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). E mostram que cada vaca produz 1 mil litros a mais por ano do que a média nacional, num placar de 2.455 x 1.416 litros.
Por causa da crescente evolução, a Seab estima um volume de 4,3 bilhões de litros produzidos no estado em 2014. “[O ganho] tem muita relação com a genética e com a alimentação superior. Há potencial para crescermos ainda mais, principalmente na região Sudoeste, que tem investido em melhor reprodução e suplementação dos rebanhos”, afirma o veterinário Fábio Mezzadri.
Em regiões onde a tecnologia tem sido empregada há mais tempo, os ganhos são de geração para geração, aponta o coordenador de Pecuária Leiteira da cooperativa Batavo, Eldo Lauro Berger. “Nossa produtividade passou de 5,5 mil para 7,5 mil litros [por animal ao ano] em função de novos sistemas de produção, além dos ganhos genéticos.”
A produtividade nacional também tem potencial para crescer, conforme o pesquisador da Embrapa Gado de Leite, de Juiz de Fora (MG), Rui da Silva Verneque. Segundo ele, os critérios de pesquisa do IBGE incluem qualquer animal que produza leite, inclusive raças de corte usadas pelos produtores ocasionalmente para a ordenha.
Marcadores ajudam na escolha das melhores reprodutoras
Antes de investir em genética, o produtor deve conhecer as características do rebanho para escolher quais animais são os mais aptos à reprodução. Foi esse o trabalho iniciado há dois anos pelo pecuarista Marcos Epp, na colônia de Witmarsum, em Palmeira, nos Campos Gerais.
Epp tem usado marcadores genéticos para identificar vacas com melhor potencial produtivo e tornar mais efetivo o processo de multiplicação de matrizes em sua propriedade. Os marcadores são características que podem ser identificadas no DNA do animal e revelam se ele vai ser ou não bom de leite.
A meta do pecuarista é passar de 500 para 700 animais em lactação neste ano. Até agora, a marcação genética foi feita com um terço do rebanho. “O trabalho ainda não está no fim, mas já estou observando os resultados. Nossa programação é ter um ganho de produtividade de 5 litros por dia por vaca”, observa.
Para avaliar o potencial de uma bezerra, um pelo é retirado da cauda para a marcação genética. “Dessa forma, consigo escolher as melhores doadoras para a coleta de embriões”, diz Epp.
Uma análise de genoma pode variar de R$ 136 a R$ 170, dependendo do número de animais.
Priscila Barros, gerente de marketing da Zoetis, empresa que presta serviços ao pecuarista, explica que o produto Clarifide traz nove indicadores econômicos que facilitam a tomada de decisões do produtor. Os índices são quantificados em dólares e ajudam o pecuarista a avaliar a rentabilidade de cada animal. “Depois de 2 meses, podemos afirmar com 70% de certeza como vai ser a produtividade e a fertilidade de uma bezerra. A grande vantagem é a informação antecipada”, garante.
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