Criação de angus se expande na região de Palmeira para atender mercado mais exigente| Foto: Josua© Teixeira/gazeta Do Povo
Desafio dos criadores é aumentar o número de filhotes por parto das ovelhas
Cotação de R$ 2,6/kg só cobre custo

Bois de corte, ovelhas e suínos formam um complexo de produção de carnes cada vez mais estruturado nos Campos Gerais, a terra da vaca holandesa. Sem espaço para aventuras, devido ao preço elevado dos imóveis – três vezes mais caros do que as pastagens do Cerrado –, a região investe na produção intensiva e em carnes especiais.

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Programas como o Grupo Araucária, que produz bovinos angus e oferta até 1 mil bezerros num único leilão, e o Cordeiro Castro­landa, que fomenta o abate de 7 mil ovinos ao ano, organizam os pecuaristas e sondam o potencial do mercado. A suinocultura, mais tradicional, espera mais estabilidade com a instalação de um novo frigorífico na região.

A intenção é vender também genética. A primeira raça bovina genuinamente paranaense foi criada em Ponta Grossa e dá lastro às apostas na pecuária de corte. O boi Purunã – resultado de pesquisas iniciadas nos anos 1980 pelo Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) – manifesta precocidade na reprodução e no abate, somando características das raças charolês, caracu, angus e canchin. A certificação dos criadores, autorizada pelo Ministério da Agricultura, deve expandir o mercado de bezerros, matrizes, touros e sêmen.

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Refresco para raça trazida da neve

A carne da raça angus produzida em Palmeira é vendida em restaurantes de Curitiba que prometem qualidade comparada à dos filés bovinos de primeira oferecidos na Argentina, nos Estados Unidos e na Europa. De pelagem escura (preta e vermelha), os bois descendem de animais acostumados à neve da Escócia. Considerando o calor que predomina na maior parte do Brasil, o clima fresco dos Campos Gerais é o principal aliado dos pecuaristas que apostam na raça, avalia o veterinário Fábio Mezzadri, da Secretaria Estadual da Agricultura e do Abastecimento (Seab). Além da questão da adaptação dos animais, “é possível ter pastagens com alto teor de proteína o ano inteiro, o que favorece a engorda do rebanho”, acrescenta.

Atualmente, 12 pecuaristas integram o Grupo Araucária, que desde 2009 promove leilões e investe no melhoramento genético para elevar a qualidade do angus. Julia Mendes, presidente do grupo, conta que devido à força da agricultura, sobra pouco espaço para o rebanho. Com 5 mil matrizes, são negociados anualmente 1 mil terneiros.

Não basta a promessa de carne macia. “É preciso agregar valor via qualidade para a atividade ser rentável”, afirma Julia. Vacinas complementares, certificação dos animais e foco no meio ambiente são as estratégias para atrair produtores e consumidores.

Desafio dos criadores é aumentar o número de filhotes por parto das ovelhas 
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Criação de ovinos se consolida como atividade extra

O agricultor Willem van de Riet investe há oito anos na ovinocultura. As 300 matrizes ocupam 8 dos 75 hectares da propriedade e a criação é feita de forma integrada com o plantio de soja, milho e trigo.

Ele destaca que a manutenção do rebanho é simples, e gera um resultado positivo. “O produto é muito bem aceito. Se fosse produzido o dobro, venderia do mesmo jeito”, conta. O programa Cordeiro Castrolanda opera com 7 mil matrizes, capazes de garantir 7 mil abates ao ano.

Mesmo com ganhos garantidos, a busca por qualidade fez com que Van de Riet reorganizasse as atividades neste ano. Ao invés de destinar os animais para o abate, a propriedade foi convertida em um centro de melhoramento genético, mantido por um grupo de pecuaristas da região. O objetivo é elevar para 1,5 a média de cordeiros por parto – hoje o índice é de 1,2 animais. “Queremos ir além da renda normal”, aponta.

Tarcisio Bartmeyer, coordenador do setor de ovinos na Castrolanda, explica que, assim como no leite, o investimento visa à obtenção de um diferencial de qualidade. “O melhoramento genético tem o objetivo de dar mais padrão ao rebanho, uniformidade aos cortes e equilíbrio na concentração de gordura”. Ele detalha que os principais compradores de carne são restaurantes de luxo, a maioria de Curitiba.

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Cotação de R$ 2,6/kg só cobre custo 

SuinoculturaPromessa de estabilidade

A criação de suínos é tradicional nos Campos Gerais, mas está sujeita aos altos e baixos do mercado. Quem entrou na atividade na década de 1970 e atravessou dezena de crises está na expectativa de que o frigorífico anunciado pelas cooperativas da região traga estabilidade. Roelof Rabbers, que trocou o gado leiteiro por matrizes suínas há cerca de quatro décadas, afirma que, associada à agricultura, a pecuária se sustenta. Ele cultiva 700 hectares em Castro. Como vantagem, ele cita o manejo mais tranquilo, na comparação com a rotina das leiterias.