Com as técnicas de produção e o sistema cooperativista na bagagem, os imigrantes holandeses e russos-alemães que desembarcaram na região dos Campos Gerais na primeira metade do século 20 desenharam um novo cenário para a agropecuária do Paraná. Com o passar do tempo, as cooperativas, inicialmente formadas por núcleos familiares vindos da Europa, se abriram para brasileiros e outras etnias. A mistura de idiomas, que na narrativa bíblica da Torre da Babel teve consequências negativas, favoreceu o progresso das empresas.
Nas três cooperativas de base holandesa – Castrolanda, Batavo e Capal – menos da metade dos associados tem ascendência europeia, enquanto que na cooperativa Witmarsum, fundada por russos-alemães, praticamente 50% dos associados pertencem à etnia. Todas elas ainda são presididas por representantes das linhagens dos pioneiros, mas a abertura fez crescer não apenas o número de associados como também a produção agropecuária da região. Sem a contribuição dos ‘forasteiros’, as cooperativas não teriam metade do tamanho que têm hoje.
Os holandeses se estabeleceram na região dos Campos Gerais em 1911, atraídos pelo plano de colonização da Brazil Railway Company, uma empresa ferroviária que vendia terrenos aos imigrantes em troca da fixação deles nos municípios cortados pela linha férrea e da promessa de produção agropecuária. Em 1925, os imigrantes formaram a primeira cooperativa, que a partir da década de 30 já recebia outras etnias. Hoje, apenas 35% dos 720 associados da Batavo têm descendência holandesa.
Na Castrolanda, fundada em 1951, depois que as primeiras famílias holandesas se estabeleceram em Castro, essa proporção é ainda menor. Dos 760 associados do quadro atual, 36 são holandeses e os demais são descendentes de holandeses, alemães, poloneses e japoneses.
A última leva de imigrantes holandeses se instalou no município de Arapoti, há 53 anos e fundou, em 1960, a cooperativa Capal. Seis anos depois, já havia cinco associados brasileiros, porém, somente em 1973 a língua holandesa deixou de ser usada nas reuniões para dar lugar ao português. Hoje, dos 1,4 mil associados, 250 são descendentes de holandeses. Conforme o superintendente Adilson Roberto Fuga, a abertura de filiais e entrepostos em outras cidades, como Itararé (SP) em 1976, favoreceu a integração com outras etnias.
Primas organizam acervo em Castro
Despedir-se dos parentes sem a certeza de revê-los, viajar durante três semanas de navio para atravessar o oceano e desembarcar numa terra nunca antes vista. Assim era a situação dos primeiros imigrantes holandeses que vieram para o Paraná. Parte dessas memórias é recuperada por meio de fotografias, cartas e documentos que são reunidos no acervo montado pelas primas Jantje de Jager Kassies e Jantje Borg Morsink, que chegaram ainda crianças em Castro.
O acervo começou a ser organizado em 2011 e ganhou uma pequena sala no Memorial da Imigração Holandesa, no município. Há imagens de imigrantes que desembarcaram no Rio de Janeiro em 1951 e da construção dos primeiros barracões da Castrolanda.
Além dos filhos e das malas com roupas e mantimentos, os primeiros holandeses traziam exemplares de gado holandês, tratores e sementes no navio. A ordenha era diária dentro do navio. Chegando ao Paraná, eles iniciaram a criação e o plantio. “Já existia a preocupação de aumentar a produção de leite e então o governo holandês trouxe um agrônomo para o Brasil para ajudar os colonos a produzir as melhores sementes de ração para os animais”, lembra Jantje Kassies.
As primas, que chegaram ao Brasil em navios diferentes, ainda se lembram das estradas empoeiradas entre a estação de Castro e a colônia e das bananeiras plantadas à beira da estrada de ferro entre Paranaguá e Castro. “Os meninos ficavam na beira da janela do trem e pegavam os cachos de banana. Eles riam porque nunca tinha visto”, lembra Jantje Morsink.
Witmarsum começa a abrir portas
O mesmo processo de expansão começa a ocorrer na cooperativa Witmarsum, fundada em 1952 por russos-alemães que se instalaram originalmente em Santa Catarina e compraram uma antiga fazenda em Palmeira para formar a colônia. O presidente da cooperativa, Ewald Warkentin, lembra que, dos 322 associados, 170 são produtores em atividade e, destes, pelo menos a metade é formada por alemães. “Os produtores não são somente de Witmarsum, são de Palmeira, Ponta Grossa e Porto Amazonas”, explica. A colônia é formada por 1,2 mil descendentes e hoje já é possível a outras etnias adquirir terrenos dentro dos limites da colônia.
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