As instituições de livre adesão deram outro significado para a palavra cooperativismo nos últimos anos. Inicialmente, para integrar uma cooperativa, o associado precisava obrigatoriamente fazer parte de categorias específicas, como trabalhadores rurais, da área de saúde ou de bancários, por exemplo. Desde 2003, quando uma nova lei foi aprovada, muitas cooperativas aderiram à livre admissão e, literalmente, abriram as portas para todo e qualquer cidadão, independente da área de atuação.
Essa abertura pode ser notada principalmente nas entidades de crédito. Sem limitações burocráticas, as empresas viram livre o caminho para, de forma organizada, angariar novos associados. “A normativa democratizou o setor. As cooperativas deixaram de ser específicas para um segmento e deram condição para que todas as pessoas pudessem ingressar. Hoje, todos são bem-vindos”, diz Maroan Tohmé, diretor executivo da Central Sicredi PR/SP/RJ.
Dentro do universo cooperativista de crédito, o Sicredi registrou um crescimento exponencial no quadro de clientes. Antes da nova legislação, a entidade financeira contava com 800 sócios pelo país. Hoje, tem mais de 3 milhões de “donos”, como Tohmé prefere chamar os associados. O perfil dos clientes também mudou. As operações eram quase que na sua totalidade realizadas por agricultores, que agora dividem espaço com moradores das regiões urbanas.
“Não basta dizer que o cliente é dono, ele precisa se sentir dono. E é isso que acontece, pois ele participa das assembleias com direito a voto, da definição do planejamento estratégico e do resultado financeiro do final do ano”, ressalta o diretor do Sicredi.
Para Marino Delgado, diretor presidente do Sicoob Central Unicoob, além de ter funcionado como uma porta de entrada para as pessoas ao ramo de crédito, a lei de 2003 aumentou o número de opções no mercado financeiro. O Siccob conta hoje com uma carteira de quase 3 milhões de clientes, sendo 171 mil no Paraná.
Assim como os bancos privados, as cooperativas de crédito fazem parte do Sistema Financeiro Nacional. São autorizadas a funcionar e fiscalizadas pelo Banco Central do Brasil. Elas oferecem os mesmos produtos e serviços do sistema bancário tradicional. Porém, com custos menores e condições personalizadas de acordo com a realidade dos associados. E contam, inclusive, com a cobertura de um fundo garantidor próprio, o Fundo Garantidor do Coope-rativismo de Crédito (FGCoop), que funciona nos mesmos moldes do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) para os bancos comerciais, ou seja, cobre até R$ 250 mil de depósitos que o cliente tem com a instituição.
Crescimento
O ano de 2003 é considerado um divisor de águas para o cooperativismo de crédito. Além de democratizar o acesso, a nova legislação permitiu que o setor se expandisse de forma ordenada. Hoje, somente no Paraná, mais de 900 mil pessoas estão ligadas às cooperativas do segmento. Antes da lei, apenas alguns milhares de pessoas estavam inseridas no sistema. E a projeção é de novos saltos no futuro.“Foi o marco zero dessa revolução. Essa mudança trouxe um novo patamar para as instituições, que puderam atuar de forma mais ampla no mercado financeiro e trazer grandes benefícios para a comunidade e seus associados”, diz Delgado.
Para o economista Mauro Halfeld, o cidadão comum viu nas cooperativas de crédito uma nova opção para economizar, principalmente em períodos de recessão econômica, e honrar os compromissos financeiros. “Elas oferecem tarifas e juros menores. Em momento de crise, são alternativas interessantes”, aponta.
298 cooperativas de crédito são de livre adesão atualmente no Brasil, 26% do total de instituições do segmento (1.116). O Paraná tem 53 cooperativas, que, juntas, movimentaram R$ 4 bilhões no ano passado.
Passo a passoVeja como é simples se associar a uma cooperativa de crédito de livre adesão- Ser domiciliado ou estabelecido na área de atuação da cooperativa.- Integralizar quotas-partes, mediante depósito em dinheiro.- Usar os produtos e serviços oferecidos pela cooperativa (conta bancária, cartões, seguros, investimentos, consórcio, crédito, entre outros).- Não podem fazer parte da cooperativa as pessoas físicas ou jurídicas que exerçam qualquer atividade que contrarie os objetivos da sociedade cooperativa, ou com eles concorram, ou ainda que operem no mesmo campo econômico da cooperativa.
Raio X
SicrediFundação: 27 de outubro de 1980*Pts. de atendimento no país: 1.351Pts. de atendimento no Paraná: 486Clientes no país: mais de 3 milhõesClientes no Paraná: mais de 800 milSobras líquidas em 2014: R$ 1,1 bilhão
SicoobFundação: 22 de dezembro de 2001Pts. de atendimento no país: 2.305Pts. de atendimento no Paraná: 168Clientes no país: 2.978.889Clientes no Paraná: 171.828Sobras líquidas em 2014: R$ 2 bilhões
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