Em meio aos campos de inverno dominados pelo trigo, a cevada ganha terreno pelas beiradas no Paraná. Impulsionada pela perspectiva de aumento da demanda por parte da indústria cervejeira, a produção cresce devagar, mas com projeções otimistas para o longo prazo. A área plantada aumenta pela segunda safra consecutiva e alcança 50,7 mil hectares (alta 2% ante 2014), com potencial para 205 mil toneladas (+16%) em 2015.
Cerca de três quartos da produção estadual são direcionados para a malteação, enquanto 18% viram insumo para a produção de rações e 7% são utilizados na produção de sementes, aponta o setor. O crescimento do plantio observado nos últimos anos tem como foco as indústrias do malte, apontam dados da Secretaria Estadual da Agricultura e do Abastecimento (Seab).
No núcleo regional de Ponta Grossa, a área destinada à cevada saltou 145% em um ano, chegando a 12,5 mil hectares, e o núcleo regional de Curitiba registrou incremento de 107%, para 1,2 mil hectares. Além da fábrica da cerveja Heineken, as duas regiões contam com uma indústria da Ambev – ainda em fase de construção – e a previsão de entrada de uma nova maltaria do Grupo Petrópolis, em cidade não definida. “A produção está aumentando incentivada pela indústria, e há potencial para crescer mais com a instalação de novas maltarias nessas regiões”, pontua o economista da Seab Methodio Groxko.
O exemplo se confirma na região de Guarapuava, que mesmo com área 15% menor neste ciclo segue liderando a produção estadual, com 33 mil hectares. A participação é sustentada pela presença da maltaria da cooperativa Agrária, que detém 25% do mercado nacional de malte e produz 220 mil toneladas do insumo por ano. A cooperativa planeja ampliar a produção para 350 mil toneladas em 2016, o que tende a reforçar a demanda pelo cereal no longo prazo.
Com a consolidação dos novos investimentos, o setor projeta que a produção estadual de cevada será dobrada até 2018. A expansão, contudo, tende a continuar concentrada. “Além da proximidade com o mercado comprador, o Centro-Sul do Paraná tem as condições [agroclimáticas] mais propícias para a produção de cevada”, aponta o gerente técnico e econômico da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), Flávio Turra.
Com precificação fortemente vinculada aos preços do trigo, o insumo da cerveja tem rendido 5% mais que o cereal do pão neste ano (R$ 34,70 pela saca de 60 quilos, na média estadual). Na avaliação de Turra, contudo, não deve haver uma debandada geral do trigo. “O cultivo de cevada não é tão simples porque há uma série de pré-requisitos que precisam ser respeitados para atender o padrão da indústria. Não há como ser aventureiro nesse mercado”, pontua.
Clima não ameaça recorde no inverno
Em 2014, a produção de trigo rendeu inéditos 3,8 milhões de toneladas, ante um potencial de 4,1 milhões de toneladas, conforme a Seab. O excesso de chuvas em campos do Sudoeste do Paraná forçou uma revisão nas expectativas iniciais daquele período, contextualiza o agrônomo da secretaria, Carlos Hugo Godinho.
Neste ano, mesmo com redução de 5% no plantio a Seab previa incremento na oferta de trigo, que poderia atingir 4 milhões de toneladas. A combinação de chuvas intensas no mês de julho e calor excessivo em agosto, contudo, motivou uma redução nas estimativas para 3,9 milhões de toneladas. “O maior problema está nas primeiras lavouras colhidas, que se concentram no Norte do Paraná e receberam muitas chuvas na fase de emborrachamento. Mesmo assim ainda há chances de uma produção recorde”, pontua Godinho.
O desempenho do cereal do pão será decisivo para definir o resultado da produção de inverno, estimada em 4,5 milhões de toneladas. À exceção da aveia branca, a Seab prevê aumento na produtividade de todos os demais cultivos deste período (aveia preta, canola, centeio, cevada e triticale). “Esses grãos de inverno cresceram onde o trigo perdeu área e também têm condições de render mais neste ano”, aponta o gerente técnico e econômico da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), Flávio Turra.
Liquidez é o principal atrativo
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