Confiantes em preços remuneradores, os agricultores paranaenses elevam pelo segundo ano consecutivo as apostas no trigo. O plantio começou no mês passado e alcança perto de um terço de uma área de 1,2 milhão de hectares, 23% maior que a da última temporada. Em dois anos, houve acréscimo de 55% na área cultivada, que se aproxima do recorde de 1,3 milhão de hectares de dez anos atrás e indica que o país deve colher mais trigo do que nunca.
Como o Rio Grande do Sul vai tentar repetir o desempenho inédito do ano passado (3,2 milhões de toneladas em 1 milhão de hectares), a retomada paranaense tende a resultar numa safra nacional sem precedentes de 6,7 milhões de toneladas do cereal, 22% maior que a de 2013. Os dois estados respondem por 93% a colheita brasileira e estão registrando clima favorável no início do ciclo.
Neste ano, as previsões de ocorrência do fenômeno climático El Niño (aquecimento das águas no Oceano Pacífico) dão indícios de que haverá aumento nas chuvas durante o período de cultivo. Isso reduz o risco de prejuízos com as geadas, mas pode ser prejudicial na fase final de desenvolvimento das plantas, já que a umidade favorece o aparecimento de pragas, explicam os técnicos. Ainda assim, há menos chance de acontecer uma quebra semelhante à ocorrida no Paraná ano passado, quando o frio intenso reduziu em mais de 30% o potencial da colheita.
A área nacional não é a maior. Em 2004 e 2005, o cereal atingiu 2,7 milhões de hectares (200 mil a mais do que agora). Mas a produtividade média aumentou ao longo da última década, da casa de 2,1 mil para a de 2,5 mil quilos por hectare.
Acima de R$ 40 por saca (10% a mais do que valia em maio de 2013), o trigo ganha viabilidade. Em Londrina (Norte), o agricultor Milton Casaroli ampliou em 17% o terreno dedicado ao cereal, para 150 hectares. “O preço do trigo está bom quando comparado a outros produtos, como o milho”, avalia. Ele acredita que o grão deve continuar valorizado até o momento da comercialização.
O consultor da Trigo e Farinhas, Luiz Carlos Pacheco, confirma que mesmo com o aumento na produção as cotações do cereal devem continuar favoráveis. “Os preços tendem a cair devido ao aumento na oferta, mas não ao mínimo”, aponta. Ele prevê que até o início da colheita no Rio Grande do Sul, no final de setembro, a remuneração dos agricultores deve ser boa.
Nem mesmo quem teve perdas na última safra desiste da cultura. O agricultor Itacir Cervelin, de Cascavel (Oeste) lembra que no ano passado a geada prejudicou tanto os cultivos de ciclo precoce quanto as variedades mais tardias. Apesar disso, ele vai manter a área de 36 hectares destinada ao cereal.
Colaborou Julio Filho, especial para a Gazeta do Povo
Expansão global
No último ano, a oferta escassa de trigo no mercado interno e externo garantiu preços remuneradores ao produtor brasileiro, mas esse quadro pode mudar.
Mês de ouro
O pico nas cotações ocorreu em setembro, quando a saca de 60 quilos chegou a R$ 50 no Paraná, onde foi confirmada quebra climática. Agora o estado paga cerca de R$ 43, enquanto o Rio Grande do Sul, R$ 36.
Perdas internacionais
Além do Paraná, a quebra atingiu o Paraguai e a Argentina, fornecedores do Brasil, que teve de recorrer aos Estados Unidos e ao Canadá.
Retomada coletiva
Os preços internacionais estimulam o cultivo na América do Sul e em outras regiões, que têm maior peso na produção mundial. Os países sul-americanos não passam de 5% da produção.
Estimativa
O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (Usda) prevê acréscimo de 9% na produção mundial do cereal, chegando a 712 milhões de toneladas.
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