A safra 2014/15 tem gosto amargo para o setor sucroenergético brasileiro. A oferta da matéria-prima que gera etanol e açúcar será reduzida e as vendas externas também. As indústrias instaladas no Centro-Sul, região responsável por 90% da produção nacional, contam com uma colheita de 580 milhões de toneladas de cana-de-açúcar nesta temporada, que começou oficialmente no mês passado. O volume projetado é inferior ao recorde atingido no ciclo anterior, quando a região produziu quase 600 milhões de toneladas do produto.
Além da redução na oferta de cana, que deve diminuir o faturamento do setor, os preços atuais das duas commodities derivadas da planta empatam ou ficam abaixo do custo de produção. No caso do açúcar, as cotações atuais são negociadas em torno de US$ 0,17 por libra-peso na Bolsa de Nova York, mesmo valor que o gasto para produzir o produto. O cenário desfavorável para o alimento leva as usinas a priorizarem a produção do biocombustível.
O Brasil é o maior produtor e exportador mundial de açúcar e deve reduzir seus embarques em relação ao ano passado. Das mais de 34 milhões de toneladas que serão produzidas, 27,2 milhões de toneladas devem deixar o país, conforme estimativas da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) e do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (Usda). No ano passado, o país exportou 400 mil toneladas a mais que o projetado para 2014. “Hoje os estoques mundiais de açúcar estão elevados. O mercado internacional está abastecido e o mercado físico, fraco, sem muitos novos negócios. É um ano de reversão do superávit, com o setor buscando equilíbrio entre oferta e consumo”, resume Pedro Verges, analista da FCStone especializado no setor. O problema de oferta nos canaviais brasileiros e com uma previsão de aumento no consumo mundial em torno de 2,2% ao ano, há quem cogite um déficit no abastecimento global por causa da redução na oferta brasileira.
O quadro brasileiro é o que tem dado sustentação aos preços do açúcar no exterior, mas como o produto ainda não oferece remuneração à indústria, a valorização veio tarde demais. “Para remunerar as usinas, seria preciso haver uma recuperação de 10% a 15% nas cotações. Isso só deve ocorrer de outubro pra frente, quando a moagem aqui estiver na reta final”, avalia Sérgio Prado, representante da Unica. “O aumento do preço não vai mexer no tamanho da safra brasileira. Isso não muda”, acrescenta Arnaldo Corrêia, sócio-diretor da Archer Consulting.
A aposta das usinas sucroalcoleiras brasileiras é o etanol, produto que ainda tem dado remuneração ao setor, especialmente o tipo anidro. Mas, com a regulação dos preços da gasolina por parte do governo – estratégia considerada sorrateira pelos especialistas para controlar a inflação –, fica difícil para o biocombustível vencer a concorrência nas bombas. “O etanol luta contra o subsídio da gasolina [de 25%] sem apoio. Hoje, o preço dá remuneração, mas assim que começar a empacar nos postos, precisará ceder, porque é mais vantajoso para o consumidor usar a gasolina”, afirma Prado.
CRISE - Dívidas comprometem investimento da indústria
A indústria de cana-açúcar calcula que o endividamento neste ano vai superar em mais de 100% o faturamento do setor. Estimativas realizadas por bancos indicam que as usinas brasileiras devem entre R$ 55 e R$ 60 bilhões. O setor mergulhou em uma crise financeira após realizar investimentos na construção de usinas, há uma década. As apostas eram sustentadas na perspectiva de aumento no consumo de etanol com o lançamento de motores bicombustíveis. Em 2008, a crise internacional agravou o problema. “As empresas estão sem acesso ao crédito, pois não tem o que dar como garantia, somente produto”, resume Sérgio Prado, representante da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica).
Uma alternativa que poderia ajudar a indústria a operar durante todo o ano e não somente durante a safra de cana-de-açúcar seria a fabricação de etanol a partir do milho. No Brasil, existem duas usinas que já operam com as duas matrizes energéticas e novas unidades devem sair do papel neste ano. O investimento para a flexibilização das unidades ficou entre R$ 20 milhões e R$ 45 milhões. “É um negócio visto com bons olhos. É possível aumentar o portifólio com produtos derivados do milho e até participar do comércio do grão. Se o preço compensar o processamento, faz etanol.
Caso contrário, pode segurar o produto e vender na alta”, avalia Pedro Verges, analista da FCStone, consultoria que fez estudo de viabilidade de usinas flex no país.
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