Com a expectativa de produzir uma média de 17 a 19 toneladas por hectare, o município de Marialva – maior produtor de uva do Paraná – espera colher nesta safra de inverno de 13,6 mil a 15,2 mil toneladas da fruta de mesa nos 800 hectares plantados. A colheita começou em meados de abril e deve ir até o início de julho.
A produtividade é boa, avaliam os técnicos da Emater, e deixam para trás as perdas registradas no verão, após um ano com geadas e veranicos. Favorecida pelo clima menos frio que o do Rio Grande do Sul (maior produtor brasileiro), Marialva colhe duas safras por ano. Depois da segunda poda, realizada entre dezembro e fevereiro, os parreirais iniciam novo ciclo produtivo.
As fortes geadas que atingiram a região no inverno de 2013 demandaram a repoda de boa parte dos parreirais. “Pior foi o frio intenso que inibiu a brotação e reduziu a produtividade do verão pela metade, para 9 mil quilos por hectare. Além de que cerca de 300 hectares ficaram sem produzir”, lembra Sílvia Capelari, agrônoma da Emater. Normalmente, tanto no inverno quanto no verão, são produzidos de 18 a 20 toneladas da fruta por hectare.
“No final do ano, os produtores até conseguiram um preço melhor, mas não compensou a perda agrícola”, afirma o secretário municipal de Agricultura e Meio Ambiente, Valdinei Cazelato. Por conta da baixa produção no verão, até mesmo a tradicional Festa da Uva, em dezembro, acabou sendo cancelada. Agora, a expectativa é que os preços se mantenham altos para acompanhar a elevação nos custos.
Com os parreirais carregados, quase prontos para o início da colheita, Antonio Peres (dono de 4 hectares) e José Lúcio Renê (1,4 hectare) esperam 18 t/ha. “Nos últimos anos temos produzido mais no inverno que no verão. Devo tirar umas 70 toneladas agora. E tirei 30 na última colheita”, comenta Peres. Renê colheu 8,5 t na área toda, e agora espera de 18 a 20 t.
Área plantada caiu pela metade por problemas climáticos
Devido ao clima chuvoso, produzir uva em Marialva nunca foi fácil, mas nos últimos anos, uma série de problemas tem feito muitos viticultores desistirem da atividade. Dos 1,5 mil hectares cultivados com uva fina em Marialva até três anos atrás, somente 800 continuam em produção.
O produtor Antonio Peres se mantém na atividade desde 1990. Além das tradicionais Benitaka e Rubi, tem investido nas variedades sem semente Clara e Vitória, buscando novos nichos. Para ele, foi-se o tempo em que se ganhava dinheiro com uva. Os custos estariam encostados nos preços. A falta de mão de obra agrava a situação, aponta. Os problemas climáticos e as pragas estariam sendo um golpe de misericórdia para quem está em crise.
LIMITAÇÃO - Renda por pessoa desanima agricultura familiar
A uva é apontada como principal alternativa de renda dos pequenos produtores rurais de Marialva, mas oferece o equivalente a apenas um salário mínimo por mês (R$ 724) por pessoa nas famílias de viticultores, reclama o setor. Mesmo com colheita de inverno o dobro maior que a de verão, José Lúcio Renê avalia que somente uma elevação mais expressiva nos preços deve mudar esse quadro. A cotação da uva fina de mesa no Paraná está em R$ 3,9 por quilo (R$ 1 a mais do que a praticada em maio de 2013).
“Todas as chácaras [da vizinhança] produziam uva. Com os vários anos de preço ruim e o clima prejudicando a produção, mais da metade arrancou e está produzindo hortaliças, flores e morango”, aponta. O produtor diz que o custo de produção tem subido a cada ano.
Em busca de uvas mais resistentes a variações climáticas, a prefeitura de Marialva estimula pesquisas, em parceria com a Embrapa. O objetivo é também agregar mais valor (com uva sem semente, por exemplo) e reduzir a necessidade de mão de obra. Ainda não são usadas máquinas que façam a colheita, a desbrota e raleio.
A uva é um dos alicerces da economia local. Perto de 40% do Valor Bruto de Produção (VBP) agrícola local vêm da fruta – R$ 100 milhões de um total de R$ 260 milhões. Isso apesar de a cultura ocupar apenas 800 dos 44 mil hectares cultivados (23 mil com soja). A atividade oferece mil empregos diretos (sem contar as 1,1 mil famílias de pequenos produtores) e de 3 mil a 4 mil postos de trabalho indiretos.
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